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terça-feira, 5 de agosto de 2014

BENDITA SINERGIA!


O olhar, que se abre naquela gélida madrugada de tempos atrás, nada vê com clareza. Os sons, porém, já são audíveis. Alguns mais graves, outros menos. Sussurros, com certeza. Um bater de porta, talvez. O mundo chegara de mansinho. Ou foi o contrário?

O que se sabe é que, bem depois, detentora de uma privilegiada audição, ouvia o bater de uma folha seca, caída de uma árvore sobre um chão batido. Igualmente, as palavras já então incorporadas faziam coro com imagens e sons que, por vezes, amedrontavam.

O som do afiador de tesouras metia medo. 

Alguém, em algum momento, atrelara a figura do afiador a um ser que pegava as criancinhas. Que dano irreparável!

Mesmo assim, aquele era reconhecido como um som que iniciava uma melodia num tom mais baixo e que, no ar e ao longe, se perdia em uma nota bem mais aguda do que a primeira da série.

Os anos que se seguiram foram ricos em descobertas. O mundo das palavras, com seus sons e ritmos, acabou por casar-se com a música. Esta foi, considero eu, um elemento-chave na engrenagem que alimenta meu ser até hoje. 

O gosto pela palavra também crescia a cada dia.

Houve palavras que, quando lidas por mim, naquele exato momento, causaram-me um impacto tão grande que nunca mais me esqueci daquele instante. A palavra objeto desse encanto foi “paladino”. A frase era um título: O Paladino da Natureza. Quando busquei o seu significado, mais maravilhada fiquei ainda. Paladino era aquele bravo defensor, no caso, da Natureza. A força da palavra, o som que dela emanava era como a marselhesa para os ouvidos. Ou como o próprio Hino Nacional Brasileiro com toda a sua bravura em sua letra descrita. Esse gosto pela palavra ampliava o vocabulário, o que era perceptível quando da elaboração das redações escolares.

Eis que, de repente, ela chegou para ficar. Aquela que já fazia par sem ainda ter-se revelado por inteira.

O estudo da música abriu um universo de novas possibilidades, de novos sentires, de uma percepção de sons e ritmos que poderiam embalar versos ou até mesmo uma prosa poética.

O reencontro, este ano, com a Professora de Música, Nívea Rosa Thumé Karam, através do facebook, foi extremamente gratificante. A crônica A ELA, publicada em 20 de maio de 2014, demonstra a importância que tiveram elas, a música e a mestra, nesta jornada.

Participando em festas na escola, em eventos na paróquia que frequentava ou viajando pelo Atlântico através do alto-falante do navio Ary Parreiras, conforme relato feito na crônica SUAVE É A NOITE, publicada em 30/01/14, ela sempre esteve junto a mim. Em momentos também difíceis, lá estava ela. Sempre pronta para ajudar. Uma amigona!

Hoje, confesso que retorno com mais força a estes dois amores: a palavra e a música. Aqueles outros amores, que me acompanham, já foram revelados na crônica BEM-VINDO, AGOSTO! publicada em 05/08/13.

Estes são amores que se curtem quase sempre a sós. Nada exigem. Apenas esperam que aquele que deles precise os busque no momento de necessidade.

E o melhor de tudo é que a Internet abriu a possibilidade de podermos aliar o texto escrito à música, para emoldurá-lo.

Que melhor moldura para a palavra do que a música?

Atualmente, cultivo a palavra como nunca fizera antes. Da música, jamais me afastei. 

Esta sinergia vale ouro!

Neste dia 5 de agosto, bendigo esta dupla.


Desfrutada, é claro, ao lado de um companheiro inseparável: o chimarrão.





Poema A Palavra – de Pablo Neruda 



Poem Op. 41, nº 4 - Zdenek Fibich




Palavra Mágica - Carlos Drummond de Andrade








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Comentários via Facebook:



Maria Odila Menezes escreveu:
Parabéns Soninha!!! Mil curtidas para Bendita Sinergia!!!


Nívea Rosa Thumé Karam escreveu:
Soninha Athayde A música , uma afinidade que muito cedo nos aproximou . Lendo teus textos, senti que mesmo sem saber ,uma grande influência eu tive despertando em ti ,o gosto pela música Agradeço todas as belas referências e lembranças que guardas de mim,igualmente jamais esqueci aquela meiga menina dos olhos encantadoramente azuis.Um abraço querida.



segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

SEM ELE? QUE CHATICE!


A nossa música e grande parte de nossa produção poética repousam nessa característica que, acredito eu, é bem brasileira: o humor.

E isso vem de longa data. Já Gregório de Matos Guerra, o conhecido “Boca do Inferno”, poeta barroco baiano, apelava para o humor e para a sátira em seus versos que sacudiam a sua cidade natal. Ficou reconhecido mais pela produção satírica do que pela lírica.

Embora pertencente à classe dominante, criticava pesadamente a sociedade baiana do final do século XII. Sua poesia batia forte contra as autoridades constituídas e a incompetência dos poderosos, tanto os de lá (Portugal), quanto os de cá. Exemplos dessa poesia são os poemas que seguem:
 

 

 
E ainda:
 
 
Ou ainda trechos do poema EPÍLOGOS:
 
Que falta nesta cidade? ..................Verdade.
Que mais por sua desonra? ............Honra.
Falta mais que se lhe ponha?..........Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.
.............................................................................
E que Justiça a resguarda?...............Bastarda.
É grátis distribuída?.........................Vendida.
Que tem, que a todos assusta?.........Injusta.
Valha-nos Deus, o que custa
O que El-rei nos dá de graça.
Que anda a Justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta.
...........................................................................
O açúcar já se acabou? .....................Baixou.
E o dinheiro se extinguiu?..................Subiu.
Logo já convalesceu?.........................Morreu.
À Bahia aconteceu
O que a um doente acontece,
Cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, subiu, morreu.
............................................................................
A Câmara não acode?...........................Não pode.
Pois não tem todo o poder?...................Não quer.
É que o Governo a convence?................Não vence.
Quem haverá que tal pense,
Que uma Câmara tão nobre,
Por ver-se mísera e pobre,
Não pode, não quer, não vence.
 
 
E não falemos dos poemas em que usa palavrões, recorrendo a imagens pesadas.
Mas o que nos interessa com relação a Gregório de Matos, nessa data, é que ele possuía humor nas suas criações e que, já à época, denunciava a corrupção que grassava. Inclusive, fez “versos à lira” em violas de arame, compondo lundus. Portanto, é considerado um precursor do nosso cancioneiro. Do lundu surgiram as marchinhas, o chorinho, o baião e o nosso homenageado de hoje: o SAMBA.
O samba que nos identifica como brasileiro onde estejamos. Suas raízes encontram-se no Brasil Colonial, época de Gregório de Matos e da chegada da mão de obra escrava em nosso país.
Daquela época até os dias atuais, o samba sofreu influências variadas, conforme o meio em que se desenvolveu. Da mesma forma, estilos diversos de sambas apareceram. Samba de breque, samba de partido alto, samba-enredo, samba canção, samba exaltação, samba de gafieira, samba carnavalesco, o pagode, todos são exemplos de variantes do nosso samba. E sem esquecermos a bossa-nova, movimento que nos fez conhecidos pelo mundo afora e que utiliza também o samba de breque, mais sincopado.
Uma coisa, porém, permanece até hoje: a capacidade de nos fazer movimentar e, quando de cunho social ou, mesmo romântico, nos fazer refletir. E o humor, geralmente, está lá a compensar as agruras das letras, espelhando a realidade social com a qual seus criadores convivem ou conviveram. Noel Rosa é exemplo de humor e ironia ao falar de coisas sérias. O sambista Cartola expressou a importância de Noel quando compôs esses versos:
“Era o rei da filosofia/Fez da musa o que queria/Zombou da inspiração/Os seus versos ritmados/Por ele mesmo cantados/Tinham bela entoação”.
E os sambas de Bezerra da Silva, de grande atualidade, que lembram muito Gregório de Matos. Imaginem! Épocas distantes e temas tão iguais.
Existirá alguma saída para problemas tão enraizados?
Na dúvida, fiquemos com ele, pois, com ou sem humor, ele nos consola, nos embala, nos acaricia, nos enaltece, nos identifica como um povo cujas mazelas encontram voz em um cancioneiro que compensa esse arrastar de desmandos, injustiças e desvios de todo o tipo.
E pra esquecer as mágoas, nada melhor do que assistir a alguns vídeos históricos em que Sua Majestade, o Samba, reina cercado por seus fiéis seguidores.
Comecemos, então, pelo primeiro samba gravado no Brasil, no ano de 1917, que se chamava PELO TELEFONE dos autores Mauro de Almeida e Ernesto Joaquim Maria dos Santos, o Donga, cantado por esse último, acompanhado por Chico Buarque de Hollanda num vídeo, no distante ano de 1966. Há controvérsias sobre a autoria do dito samba, embora tenha sido registrado na Biblioteca Nacional, em 1916, como sendo de Donga.
Outro dado curioso sobre o tal samba são os seus versos iniciais.
Vejam e comparem:
“O chefe da folia pelo telefone mandou avisar/Que com alegria não se questione para se brincar/O chefe da polícia pelo telefone mandou avisar/Que na Carioca tem uma roleta para se jogar”. Ao que parece, a segunda versão foi a que ganhou popularidade e se mantém até hoje. Tais versos satirizam ordens que teriam sido dadas pelo Chefe da Polícia do Rio de Janeiro aos seus subordinados, para que informassem, “antes por telefone”, aos infratores de que haveria apreensão do material usado no jogo.
O fato é que esse samba permanece até hoje como o marco inicial desse ritmo tão nosso, tão verde-amarelo.
Bom divertimento!

VIVA O DIA NACIONAL DO SAMBA!


 
 

 

Samba Pelo Telefone – Donga e Chico Buarque
 
 
 
Samba O Vírus da Corrupção – Bezerra da Silva
 
 
Lupicínio Rodrigues – Pot-pourri
 
 
Samba Aquarela do Brasil - Gal Costa
 
 
 
Na Subida do Morro - Roberto Carlos e Moreira da Silva
 
 
 
 Os Três Malandros in Concert – Dicró, Moreira e Bezerra
 
 
 
Partido Alto - Arlindo Cruz com Zeca Pagodinho
 
 
 
Partido Alto – Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Sombrinha
 
 
 
Zeca Pagodinho e Anjos da Lua interpretam Noel Rosa 
 
 
 
Foi um Rio que Passou em Minha Vida - Paulinho da Viola e Velha Guarda da Portela
 
 
 
Acontece  - Cartola e Paulinho da Viola
 
 
 
Garota de Ipanema – Roberto Carlos e Caetano Veloso