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quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

DO TACAPE AO DRONE

Das savanas pouco restou. Da espécie, que lentamente foi-se erguendo, surgiram seres das mais diversas características. Tudo de acordo com as condições climáticas do lugar em que a espécie foi se desenvolvendo. O instinto animal preponderante foi a marca de sobrevivência e perpetuação. Quem diria que depois de milênios as armas de destruição seriam o brinquedo favorito de mentes distorcidas que desqualificam o adjetivo civilizatório. E o que é pior! Mentes privilegiadas insuflando, fomentando e se locupletando de ações cruentas e bestiais: tudo em prol do poder.

Nos primórdios, o enfrentamento se resumia à força física. No braço, com o auxílio de um pedaço de osso qualquer, de uma pedra ou de um tacape, íamos ganhando território, as presas e as fêmeas à disposição.

Estamos bem mais sofisticados hoje. Depois de passarmos pela infantaria, cavalaria, pela artilharia com bombas, foguetes e mísseis, de maior ou menor potencial destrutivo, chegamos aos drones. Aniquilamos alvos escolhidos a quilômetros de distância, sem risco para os pilotos encarregados do massacre. É a tecnologia servindo aos propósitos mais vis, estando já em uso pelas forças de repressão, indistintamente.

Como prenunciava Mário Quintana no seu FUTURÂMICA:

E haverá uma época em que se fabricarão bombas atômicas especializadas, especializadíssimas, meu caro senhor, e tão sutis que no princípio não se notará coisa nenhuma... até que um dia alguém descobrirá que se acabaram, por exemplo, todos os tenores de banheiro, todas as imitadoras de Berta Singerman, todos os poetas comemorativos, todas as oleografias do Marechal Deodoro proclamando a República!

(Caderno H- p.161)


O mundo globalizado do século XXI tornou-o plano, como afirma Thomas L. Friedman. Graças aos avanços da tecnologia e da comunicação vivemos todos absolutamente conectados, o que apenas reforça a nossa participação, senão como espectador, mas, também, como partícipe de todos os eventos, positivos ou negativos, que varrem o planeta, cotidianamente.

Isto é bom, porém alarmante e desafiador.

Alarmante, porque estamos à mercê de quaisquer ações tresloucadas que ocorram.

Desafiador, porque devemos manter uma visão otimista do amanhã. E está cada vez mais difícil mantê-la.

Estamos cercados. De um lado, os de direita; do outro, os de esquerda.

O poeta Luiz Coronel dá a sua versão poética da ESQUERDA & DIREITA:




Será o centro um “poder sem utopia, ao sabor dos ventos?”

E os totalmente radicais? E os suicidas em nome de uma causa?

Em quais lados estarão?

Quem sabe ao seu lado, ao nosso lado...


O mundo está precisando de homens e mulheres de boa vontade, independentemente de que lado estejam ou de qual religião professem.

Somos diferentes uns dos outros. Temos idiossincrasias muito particulares, observáveis mesmo entre membros de uma mesma família. Nossas origens são diversas e nossos valores, igualmente.

E a beleza está na diversidade e na capacidade de convivência pacífica. Para tanto, deve haver respeito ao outro. Ensinamentos que partem da própria célula familiar e de uma escola aberta ao diálogo e a valores formadores do caráter de cada indivíduo.

Sendo todos nós originários da mesma espécie, com um DNA caracterizadamente humano, deveremos ter nossos direitos e deveres resguardados pela sociedade em que estamos inseridos, independentemente da origem geográfica de cada um. O que se observa, no entanto, é que a exclusão de certos grupos pode levá-los a servirem de massa de manobra, desvirtuando capacidades que seriam mais bem aproveitadas na sociedade em que buscaram abrigo. Iguais oportunidades de estudo e trabalho seria, por certo, uma solução. 

E o que estará acontecendo aos que estão em suas comunidades de origem? Para que servirão os drones por lá? Para intimidar? Para aniquilar? Para desestabilizar? Para abrir caminhos à sanha predatória? Para espoliar riquezas? E tudo com o aval dos poderosos da região.

É! Estamos longe de uma solução pacífica e proveitosa para todos os lados.

Mesmo assim, o otimismo não deve ceder ao desalento.


Agora, segundo o poeta Mário Quintana, TRÊS COISAS nos acompanham de há muito:

Todas as antigas civilizações – por mais isoladas umas das outras, no tempo e no espaço – sempre começaram descobrindo três coisas: a poesia, a bebida e a religião.

(Caderno H – p.156)


Quanto à bebida, devemos bebê-la com moderação!

Quanto à religião, a leitura da crônica dispensa comentários.

Quanto à poesia, o próprio Quintana dá a resposta quando escreve POESIA & MAGIA, ressaltando o aspecto mágico, que faz parte do nosso ser e que encontra guarida na sua leitura:


A beleza de um verso não está no que diz, mas no poder encantatório das palavras que diz: um verso é uma fórmula mágica.

(Caderno H – p.59)


Se todas as antigas civilizações descobriram no poder encantatório da palavra um alimento mágico, expresso em versos, e se, também, a aquisição de um sistema de crenças foi o caminho para a redenção, ambas, palavra e fé andaram sempre juntas. A ÁRVORE DOS POEMAS, de Mário Quintana, é uma exortação a que a palavra poética cumpra o seu dever de alimentar o espírito, sempre que necessário. Torçamos para que a tal árvore não suspenda a produção.





Agora, só para atualizarem-se, assistam ao vídeo que segue e onde drones (robôs) tocam instrumentos musicais.

Quanto à música drone, dita de estilo minimalista, vou poupá-los.

Ninguém merece!

E o tacape?

- Credo! Que coisa mais retrô!




Flying Robot Rockstars 





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Comentários via Facebook:

Amelia Mari Passos: "O mundo está precisando de homens e mulheres de boa vontade, independentemente de que lado estejam ou de qual religião professem.Soninha Athayde " Sensata razão e seu sensivel coração , espalham esperança.Meu abraço querida 


terça-feira, 21 de maio de 2013

NOSSA LÍNGUA

Abramos espaço para o poeta derramar toda a sua verve, ornada pelo amor que dedica a ela, nossa Língua, nesse soneto:

Língua Portuguesa

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura;
Ouro nativo, que, na ganga impura,
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de algo clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Olavo Bilac (1865-1918)

A grande paixão pelo efeito estético era visível. No caso de Bilac, observa-se a ênfase no burilar da Língua Portuguesa, de acordo com os padrões da época. Foi ele um dos expoentes da escola literária chamada Parnasianismo, que tinha raízes em Paris e que primava pelo gosto da descrição nítida, a mimese pela mimese, bem como as concepções tradicionais sobre metro, ritmo e rima. O seu poema Profissão de Fé é o juramento que faz de que morrerá “em prol do Estilo”, no ato da escolha e da vestimenta que dará à palavra. Estávamos no século XIX.

Já no século seguinte, haveria uma transformação radical.

Vamos viajar, num salto, direto para o Modernismo, embora tenhamos tido outras escolas intermediárias.

Na verdade, o que nos interessa, aproveitando para saudar o Dia da Língua Nacional, transcorrido no dia 21 de maio, é constatar como ela hoje se apresenta.

Pois, então, te aprochega, tchê. Vamos proseando, enquanto o mate passa de mão em mão.

E tu sabes, por acaso, de onde vem essa expressão Chê ou, como nós gaúchos a pronunciamos, com um som de t, Tchê?

Segundo estudos, não é de origem indígena. Seu berço encontra-se na Espanha, nas regiões levantinas, mais precisamente no idioma valenciano. Lá é que se usa esse vocativo Chê. A nossa proximidade com a América Espanhola trouxe para o Rio Grande do Sul o que já existia na Argentina, Uruguai e Bolívia. Aliás, pronunciamos a expressão “Chê” à maneira espanhola, isto é, Tchê.

E o te aprochega? De onde virá?

Pois diz a lenda, que o aprochegar teria originado o “approach”, termo inglês, que significa aproximar-se, chegar perto de.

Vejam! Quanta pretensão! Explica a lenda que, quando os estivadores de portos brasileiros avistavam algum navio estrangeiro se aproximando, referiam-se da seguinte maneira: o navio está aprochegando.

Nada disso!

No ano de 1958, quando o Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, de Caldas Aulete, em cinco volumes com mais de 5000 páginas, em sua 4ª edição era lançado, o verbo aprochegar não aparecia dicionarizado. Seu uso, porém, já era conhecido entre os gaúchos. Hoje, encontra-se registrado no Novíssimo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 5ª edição, 2ª impressão de 2010. Também encontramos seu registro no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 1ª edição de 2009, já com a nova ortografia.

Quanto ao nosso aprochegar, talvez, a lenda esteja correta. Nós mesmos acabamos criando um vocábulo para uso próprio. Daí a exportá-lo, só em lenda mesmo.

Há registros de que a palavra aprochegar é de origem quíchua, língua falada desde a época dos Incas. Estaria ameaçada de extinção porque apenas falada por descendentes indígenas, ainda existentes, nos territórios que abrangem terras do Equador, Colômbia, Peru, Chile e Bolívia.

Por outro lado, o registro dicionarizado da palavra “approach” explica que sua origem vem do francês “aprochier”, vindo do latim “apropiare”. Essa é a origem segundo o Webster’s New International Dictionary, second edition, de 1939, uma obra rara e valiosa para os estudiosos da Língua Inglesa e suas origens.

Essa explicação é, portanto, mais confiável. Não concordam?


Agora, vamos saltar no tempo. Chegamos ao hoje e à constatação da invasão de termos ingleses a que a nossa Língua está tomada. E isso não se deve apenas ao avanço tecnológico, com a chegada de termos que a Informática trouxe consigo. Exemplo disso é o verbo tuitar, já dicionarizado (última edição do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, ano 2010). De acordo com o Professor Cláudio Moreno, com quem concordo plenamente, o verbo, já que está agregado ao idioma, escreva-se como um verbo regular da 1ª conjugação. Então: Eu tuíto, tu tuítas, ele tuíta; nós tuitávamos, vós tuitáveis, e por aí...

Na verdade, o tamanho do problema é maior do que isso. Não são apenas alguns vocábulos incorporados. Quando a estrutura da língua é afetada, chegamos a um nível perigoso de comprometimento do idioma pátrio. Querem coisa mais sinuosa, mais tortuosa do que dizer:

Em que eu poderia estar lhe ajudando? Ao invés de:

Em que posso ajudá-lo?

Ou, ainda:

O senhor pode estar aguardando só um momento, enquanto eu estarei fazendo as suas solicitações?

É ruim, ehn?

Estamos cercados por americanismos. Vejam, por curiosidade, apenas alguns:

* background, backup, blush, bike, book, cheeseburger, coffee break, cool, delivery, diet, drive-thru (drive-through), e-book, ecobag, enter, fast-food, flex, free, freelancer, full time, gloss, happy hour, high tech, homepage, home theater, hot dog, insight, lan house, light, lunch, marketing, mix, mouse, night, off, office-boy, on-line, pet shop, pet stop, player, plus size, pub, sale, self-service, shampoo, shopping center, tablet, to delete, to check, to plug, to attach, trash, underground, underline, upgrade, etc. Esclareça-se que os vocábulos acima, com exceção de cool, plus size e underline, estão todos já constando do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, ano 2010.

Queridos leitores, como diz meu cronista predileto, Luis Fernando Verissimo, em crônica transcrita abaixo e reproduzida aqui a frase que a encerra:

“Só é triste acompanhar esta entrega – ou devo dizer “delivery”? – de identidade de um país com vergonha da própria língua”.

E eu acrescentaria que uma nação é composta por seu território, povo, governo independente e língua própria. Nada contra a evolução. Não poderíamos continuar a chamar a Língua Portuguesa de última flor do Lácio inculta e bela. Inculta, por ter-se originado do Latim Vulgar, menos importante do que o Latim Clássico: os séculos já apagaram essas diferenças. Bela, sempre foi e continua sendo. Agora, submissa, porosa, fragilizada por, em especial, americanismos: é uma constatação. Estamos nos tornando ridículos ao querermos parecer um pouco norte-americanos. Já somos um país continental, com uma língua falada em vários continentes e um povo, pelo menos, os cá debaixo, modelo para toda a Terra. E estamos conversados. Oigalê, tchê!


A Língua Nacional de cada país deve ser cultuada e serve para aqueles cidadãos que, naquela cultura, estão inseridos. Precisamos, isso sim, produzir tecnologia na área da Informática. Quem sabe, então, passemos também a exportar termos brasileiros que não terão similar em outras línguas, criando-se, portanto, nossa própria linguagem nessa área. Para aquelas palavras que não pertencem ao mundo da Informática, não precisamos de estrangeirismos. Quanto à estrutura da língua, convenhamos, a que temos nos serve plenamente.

Claro que não cabem mais os vocábulos daquele poema inserido no início dessa crônica. Ninguém mais dirá:

“Que tens o trom e o silvo da procela,

E o arrolo da saudade e da ternura!”


Mas daí a conjugar um verbo, tipo tuitar, que, para piorar, há quem defenda a grafia twittar, conjugando-se, então, eu twitto, tu twittas... Ou será com acento? Eu twítto, tu twíttas... Que tal?

Então, para fechar essa avalanche de impropriedades com a nossa Língua, lá vai uma frase ouvida de um entrevistado, em conhecido programa noturno:

“A operação, que foi estartada, (ou, quem sabe, seria startada – do verbo to start (inglês), que significa iniciar) teve boa aceitação”.

E Viva a Nossa Língua Nacional!

Agora, para relaxar, vamos assistir ao vídeo que apresenta o Samba do Approach.

Aguentar essa invasão, só mesmo escutando Zeca Baleiro, cantando composição sua, acompanhado por Zeca Pagodinho.




Trecho da crônica " UM PLUS A MAIS" - Luis Fernando Verissimo 
ZH de 23.05.13




Samba do Approach - Zeca Baleiro