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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

UMA PAUSA PARA O ENCANTAMENTO


Não importa se os dias são corridos, se acabo enxergando apenas semáforos, pedestres que se acotovelam pelas ruas, se espremem nos coletivos, ou se esbarram em shoppings e supermercados. Se pouco vejo os familiares ou se já nem os tenho mais.
Diante desse quadro, preciso, isso sim, é cultivar a emoção/contemplação, a emoção/sentimento. Aquela que foi a própria essência do estilo clássico. Aquela que abre passagem para a vida interior.
Michel Lacroix, filósofo e professor francês, autor do livro O Culto da Emoção,  discorre sobre os tipos de emoção existentes.
Classifica a emoção/choque como a que nos acompanha nos dias atuais. E ela apenas serve para nos chocar, sem nos dar nada em troca. Tampouco, torna-nos mais colaborativos. Apenas assistimos à miséria e ao extremo oposto como meros consumidores. Nossas sensações, nossas experiências excitantes, a partir dessas cenas, não têm um objetivo maior e principal. Por outro lado, a sensibilidade do sentir contemplativo exige muito mais. Exige tempo para que se transforme em um sentimento. Esse é um norte a alcançar.
E nós, seres humanos, somos seres com sentimentos. Nossas emoções originárias são fornecidas por situações reais que nos cercam.
Aquelas outras, modernamente criadas por técnicas em que o espetáculo é o choque, a perturbação, a perda de referenciais, não parecem levar o indivíduo a alcançar o nível de contemplação que o enriquecerá interiormente. Sem ter a percepção aguçada para o real que o circunda, tornar-se-á um mero consumidor de videogames, de músicas violentas, daqueles programas televisivos desprovidos de conteúdo, de filmes em 3D, de uma realidade virtual cujo cenário é prodigioso, mas onde a imaginação torna-se supérflua. Tudo muito atordoante.
E que futuros adultos estarão a formar-se?
Quem terá, daqui pra frente, sentidos tão aguçados a ponto de ouvir o barulho de folhas secas caírem sobre um chão compacto, de um pátio existente lá na distante infância?
E o cheiro de terra molhada prenunciando chuva próxima?
E o barulho das folhas ao vento?
E os olhos acompanhando o pisca-pisca das luzes enfeitando a árvore natalina?
E o Papai Noel que, diziam, chegava na calada da noite?
E os brinquedos?
Estavam sob a árvore na manhã seguinte.
Tudo como num passe de mágica.
Segundo Michel Lacroix:

“O eu não é rico por si mesmo, mas pelo que retira do mundo, por sua colheita emocional, sua disponibilidade ardorosa”.
“A verdadeira interioridade zomba da interioridade”.
E mais adiante:
“A vida interior requer a disponibilidade e a atenção para o mundo”.
“Precisa ser revitalizada pela exterioridade”.
“De certo modo, ela é o prolongamento dessas impressões, a condensação dessas emoções refinadas que continuam a ressoar em nós, depois de seu objeto haver desaparecido”.
Precisamos da realidade que nos cerca, porque o virtual é apenas um descolamento do sentir/contemplação para uma emoção que choca, constrange, amedronta ou excita. O essencial, porém, torna-se amorfo, sem uso, ensimesmado, incapacitado diante do outro e frente ao mundo. E o essencial é o sentimento/emoção, aquele que obtemos ao pousar os olhos em outro par de olhos, ao apreciar um pôr do sol, ao vivo e em cores, ao abraçar fisicamente, não virtualmente, um amigo, ao observar o pouso suave de um pássaro sobre a árvore da praça. Ainda, só para lembrar, como estamos tão próximos do Natal, é montar a árvore, embora já não um pinheiro verdadeiro, mas ainda tangível, que se pode tocar, aos moldes daquela que ainda povoa nossas lembranças.
A árvore virtual, tão moderna, sinceramente, não sei se as crianças lembrar-se-ão dela quando chegarem à velhice. E a vida interior, talvez, esteja mais pobre quando dela mais precisarem.
Por ora, usufruamos desse tempo de Natal para fazermos uma pausa. E com os olhos brilhando, continuemos nos encantando com lembranças tão gratas.
Pois, como afirma Lacroix:

“A alma não extrai nada de seu próprio fundo: é fabricada com belezas externas”.
“Longe de ser autossuficiente, é apenas a sombra projetada pelo mundo”.
“É uma lanterna mágica na qual se projetam as imagens externas, acompanhadas por suas vibrações emocionais”.
E o virtual, convenhamos, passa bem longe disso.
Esse é um campo que obscurece nossa sensibilidade, deixando-nos à mercê de uma emoção excitada, desvinculada do outro, integralmente artificial e egocêntrica.
E o Natal pede mais!
Agora, por outro lado, o mundo virtual do computador faz parte do nosso dia a dia. Se atividades forem bem conduzidas por pais e educadores e repassadas aos pequenos na hora exata, podemos, quem sabe, salvar a emoção/sentimento, entre tantas outras oferecidas. Talvez, consigamos livrá-los do pensamento massificado da grande manada.
Afinal, como diz Toquinho, na música Mundo da Criança, o mundo da criança é abençoado. E, talvez, estejamos vendo fantasmas onde não haja sequer mais indivíduos para assustarem-se com esses espectros. Pois nem mais saberão o que é um fantasma!
O Mundo da Criança – Toquinho
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Comentário via Facebook:
Maria Odila Menezes:
"Amigas! Não percam esta crônica! maravilhosa!!!!Parabéns, Soninha!"