Há quem ainda se surpreenda. Para aqueles não habituados às lides da escrita: causa espanto. Nesse mundo das palavras, a avalanche de significados para uma mesma palavra é assombrosa.
De acordo com Othon M. Garcia, em seu livro Comunicação em Prosa Moderna, é o contexto que, a despeito da variedade de sentidos de que a palavra seja suscetível, lhe impõe um valor “singular”; é o contexto também que a liberta de todas as representações passadas, nela acumuladas pela memória, e que lhe atribui um valor “atual”.
Quando aquela água toda inundou a casa de Belinha, ela já uma garotinha, lembra bem. Aquela cena ficou guardada no baú da memória da menininha.
Hoje, fica surpreendida com a palavra “lavagem” usada, a torto e a direito, pelo noticiário. Vem-lhe à mente aquela cena de água em profusão. Confessa que tem feito um esforço para imaginar tantas notas de real, milhões de notas tomadas pela água.
Cadê a água, Belinha? Ninguém sabe: ninguém viu.
Belinha tem visto, ultimamente, malas e malas de notas de real: todas sequinhas.
Pois é! Esta lavagem nem de água precisa. Precisa, isto sim, de mãos imundas que as levem para tomar banho de “licitude”. De preferência, em outras terras.
Na sua casa, Belinha lembra ter havido um vazamento. Daí a inundação pela água ter ficado visível.
Agora, o vazamento não gerou inundação alguma. Gerou, sim, abertura das comportas de delações.
Cadê a água, Belinha? Nem na lavagem, nem no vazamento a pobre água apareceu.
Episódios bem sugestivos para Belinha voltar ao passado. Sua criancice torna-se cada dia mais um remédio contra estes novos significados para palavras tão suas conhecidas.
A propósito, um poema, que se aventurou a escrever, sobre PEDRAS registra a importância que dá para o significado metafórico, eivado de afeto e lirismo, desobrigado de qualquer lavagem para disfarçar seu conteúdo.
Ah, ia esquecendo!
E as Operações Estruturadas?
Que coisa mais sofisticada! Uma verdadeira organização em que as tarefas são divididas, organizadas e coordenadas, visando ao desvio de valores públicos para distribuição entre os membros da tal organização. Sempre com a aquiescência de setores públicos e privados, garantidores do chamado “investimento no comércio futuro”.
Belinha precisa aprender um pouco mais ainda sobre economia para entender melhor estas estratégias.
Pensando bem, não adiantaria.
Para tal, precisaria adentrar neste mundo lamacento que, aliás, é outro significado que se tem tornado muito atual em nossos dias.
Belinha acha melhor ficar com a poesia. Ela é que nos torna mais humanos na expressão dos sentimentos. E, com certeza, menos profissionais nas lides obscuras dos “capitais” sonegados da sociedade.
É! Belinha prefere enlamear-se de poesia. Ela, sim, é capaz de ser portadora de significantes plenos de significados elevados, bem mais reconhecidos e poeticamente relevantes a todos os amantes.
O poema, transcrito abaixo, apresenta uma água que traz uma missão nobre: tornar-se um oásis para quem deposita nela um olhar amoroso e já entregue.