segunda-feira, 24 de dezembro de 2012


A LUZ

A chama pequenina tremulando se debatia.

Era uma vela pendurada num pinheiro que, no teto, quase batia.

E eram muitas em seus castiçais.

E os olhinhos, cá embaixo, a acompanhar a dança das luzinhas.

Umas pra cá, outras pra lá,

Num espetáculo que já se repetia desde os meus ancestrais.


Criança ainda, esperava vê-la todos os dias.

Mas outra árvore de Natal, só no novo ano.

Guardava, então, a imagem dela, toda iluminada,

Como se ela não apagasse até o raiar de uma nova madrugada,

Que estava bem longe,

Embora eu com ela sonhasse a cada noite estrelada.


Não sei se foram as luzes ou as velas.

Ou, quem sabe, cada uma delas.

Num instante, não sei onde e nem quando,

Transformei esse encanto

Em um novo encontro:

De mim com as velhas luzes.


E percebi,

Embora distante no tempo,

Meus olhos ainda sedentos de luz.

Buscando a magia da surpresa naquilo que reluz.

Lá, onde o sonho fez morada e se fortaleceu.

Lá, onde me abasteço.

Lá, onde me reconheço.

Lá, onde meus olhos buscam sempre um novo começo.


Isso é o tempo.

Aquele está ainda iluminado.

Mas é neste que vivo inteira,

Iluminada e iluminando todos os sonhos meus.

Porque vivo ainda daquela LUZ.

A LUZ primeira, a da Criação.

A LUZ que sobrevive.

Aquela que se eternizou.



Que o SEU FILHO mantenha a chama, que nos ilumina, para todo o sempre.

UM FELIZ NATAL A TODOS!





Andre Rieu – Silent Night, Holy Night
 
A Harpa e a Cristandade – Luis Bordon


quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

 



 
ESSE TAL “DEVIR”

Pois o taura Juvenal andava preocupado. Já nem pregava o olho direito à noite.

Escutara, lá nos galpões, a peonada falando umas doidices. Que estaria tudo por acabar! Que não iria sobrar ninguém pra contar história. Dos detalhes não se falava. A coisa, diziam, ia ser feia! Mas como estava acostumado a enfrentar qualquer entrevero, não se assustava tão fácil.

O problema é que essas conversas estavam se alongando demais. E isso estava deixando Juvenal mais nervoso que potro com mosca no ouvido.

Então, nada melhor para se tranquilizar do que ir se aconselhar com Theobaldo, um antigo patrão. Aquele gaúcho macanudo sabia tudo de tudo e de todos. E o tal era auxiliado pelo filho, o patrãozinho Ricardo, guri que estudava na cidade grande e que estava de férias, casualmente. Pois foi ele que dissera que Theobaldo, seu pai, tinha até uma certa parceria com Deus, pelo menos no nome. Imagina que Theo queria dizer Deus, numa tal língua antiga, chamada dos gregos.

O que Juvenal buscava era explicação para essa conversa que corria pelos galpões. Uma história que o estava deixando mais assustado que guri na zona. Na verdade, depois desse encontro saiu mais bem informado que dono de funerária e, claro, mais tranquilo que vaca na Índia.

Pois o tal guri estava presente quando Juvenal foi ter com Theobaldo. E foi aí que começou o enrosco na cabeça do vivente. Quando parecia que começava a entender a explicação do patrão Theobaldo, lá veio Ricardinho e conseguiu deixar a coisa mais enrolada que namoro de cobra.

O que o patrão tinha falado é que Juvenal não precisava ficar preocupado. Notícias desse tipo já tinham surgido muito antes. Não era de hoje que se falava que o mundo iria acabar. Mas, até hoje, nada acontecera. Começou, então, a lembrar de vários momentos, no passado, em que essa notícia também surgira e nada acontecera. O dia seguinte amanhecera igualzito ao anterior, com as mesmas vacas no pasto, com os peões mateando cedito no galpão, antes das lides campeiras. Tudo parecendo igual ao dia anterior. Esse igual é que era diferente.

Pois foi aí que o Ricardinho resolveu dar o ar da graça. E começou uma conversa difícil de entender, mais complicada que fala de gringo.

O guri foi dizendo que tudo, todos os dias, é diferente. Nada se repete duas vezes. Falou de um tal de Heráclito, da turma dos gregos, que ele tinha estudado. Juvenal não entendeu muito bem o exemplo que o guri tomou emprestado do filósofo. A tal corrente de um rio que a gente toca quando entra n’água. E, quando se entra de novo, já é outra água. Daí em diante, quando o patrãozinho falou em devir, a coisa complicou mais ainda para Juvenal.

Theobaldo, nessas alturas, olhou de atravessado para Ricardinho. Mas o guri resolveu dar a volta por cima e apelou para o que Juvenal conhecia muito bem: os “bate-coxas” na casa de Siá Maria. E disso Juvenal entendia.

Daí o guri lembrou a preferida de Juvenal, a Maricota do bolicho. Pois, a cada bailanta, Juvenal dançava com Maricota, mas era sempre diferente. Ou não era? As vaneiras nem sempre eram as mesmas. Às vezes, eles começavam a dançar de um jeito, às vezes de outro. O taura concordou que era isso mesmo. Só que acrescentou, com olhar de capivara, que geralmente terminavam sempre do mesmo jeito.

O guri, com essa, resolveu fazer-se de desentendido.

Enquanto isso, Theobaldo começou a achar que o filho tinha dado conta do recado. Juvenal parecia que ia entendendo melhor essa história de que nada se repete, de forma totalmente igual.

E isso ia ajudando Theobaldo a chegar onde queria, isto é, demonstrar ao Juvenal que, embora ele nunca tenha percebido, as coisas nunca se repetem. Assim, tudo se acaba num dia e recomeça no seguinte, de outra forma, embora pareça tudo igual.

Dessa forma, o patrão foi tranquilizando Juvenal, ao retirar do vivente aquela sensação de fim de mundo, de terra arrasada.

Portanto, tudo, todos os dias, acaba. E nada, no dia seguinte, é exatamente igual. Mesmo assim, tudo permanece existindo. Inclusive, é claro, Maricota.

E Juvenal, confirmando ter entendido a lição, acrescentou que, com certeza, Maricota amanhecia diferente depois de um bate-coxa num surungo bem bagual. Diferente, mas sem deixar de ser a Maricota, aquela do Bolicho do Guedes. Ela que, a cada baile, terminava a noite nos pelegos de Juvenal. Aliás, os pelegos estavam na hora de serem trocados, pois já não eram os mesmos também.

Satisfeito foi-se Juvenal embora, achando que esse tal devir tinha saído melhor do que a encomenda.



Quanto ao fim do mundo, o bicho não era tão feio, conforme estavam pintando.

E Theobaldo, acolherado assim com Deus, ia saber das coisas bem antes. Não ia?

Diante disso, o vivente saiu despacito, mais devagar que tropa de lesma, pensando na última frase do patrão:

“Deus sabe o que faz; o homem não sabe o que diz”.

 


 

 
 
 
 
Grupo Minuano – no Rancho da Candoca 
 
Tranco Serrano – Surungo Campeiro
 
 
 
 
 
 
 
 
 

quinta-feira, 22 de novembro de 2012


QUANDO O MENOS É O MELHOR
 

Fisionomias que se crispam, corpos que se contorcem, gritos que não se ouvem, tudo em meio à fumaça que emerge de todos os lados.

O espaço onde tudo acontece é relativamente pequeno. Quando a porta da sala é aberta o som que se projeta é ensurdecedor. Acredita-se que em torno de 100 decibéis. Quem canta e o que se canta, não interessa muito. É um ritmo, ou melhor, uma batida que serve apenas para incentivar e acelerar os movimentos frenéticos de quem lá dentro se encontra.

Ao lado dessa espécie de estúdio, há um amplo salão, com inúmeras mesas, onde podem acomodar-se em torno de cinquenta pessoas. Também aqui, o som é tão alto que não permite uma conversa entre dois convidados, sentados lado a lado. O som, nesse espaço, deve beirar em torno dos 85 decibéis.

Pois este cenário é uma festa de aniversário de uma jovem que está completando 13 anos. Seus convidados, em torno de 30 colegas de escola, encontram-se, também, na faixa etária entre 11 e 13 anos.

No salão, antes descrito, reuniram-se, nessa festa, apenas quatro adultos. Estava, portanto, praticamente, vazio. Ainda assim, tinham esses convivas dificuldade de comunicação entre si.

Não havia, por óbvio, bebida alcoólica, mas apenas refrigerantes e água mineral. Respeitou-se, nesse particular, a legislação consubstanciada no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Agora, o protagonista da festa, o principal personagem, não foi a aniversariante. Foi, meus senhores, o DJ. Nada contra os DJs, muito pelo contrário.

Os pais, que buscaram seus filhos ao final da festa, nem perceberam a altura do som, pois muitos chegaram minutos após o término. E outros tantos, que chegaram antes, compareceram, aparentemente, apenas para buscar os filhos. O que estava por ali a acontecer, não fazia parte de sua atenção.

Para quem observou, durante quatro horas, atentamente o desenrolar de todos os momentos, percebeu cenas bastante sintomáticas dos malefícios que os decibéis em excesso causavam aos jovens. A maioria deles, quando saía do estúdio para comer alguma coisa, saía aos gritos de dentro da tal discoteca e assim permanecia, aos gritos entre si, do lado de fora. Outros, já ao término da festa, pareciam extenuados, a ponto de jogarem-se nas cadeiras, no salão maior.

Ao que se sabe, é comum esse quadro repetir-se, a cada aniversário, pois hoje “som e dança” fazem parte de qualquer festa.

Por outro lado, os pais parecem ignorar os malefícios causados pelo volume excessivo do som registrado nesses locais, não parecendo estar preocupados com a saúde de seus filhos menores de idade.

Portanto, considerando-se essa omissão dos pais e da própria legislação, acredita-se que caiba às autoridades competentes a regulamentação quanto à altura do som permitida para locais fechados, que sejam frequentados por menores.

Com relação aos maiores de idade, usuários desses ambientes, seriam necessárias campanhas de conscientização. Esperamos que os malefícios, advindos de um volume de som exagerado, não os tornem, no futuro, pessoas com deficiência de audição, entre outras manifestações que o organismo poderá apresentar. 

Agora, quanto aos menores, é preciso que se assuma a responsabilidade por sua saúde, pois são absolutamente incapazes, enquadrados que estão, pelo Código Civil Brasileiro, na faixa etária até os 16 anos. (art. 3º, inciso I)

Quem sabe uma Portaria regulando o nível máximo de decibéis em “festinhas de aniversário”, promovidas em Casas de Eventos, para jovens até os 16 anos de idade, não seria a solução? Quem sabe?

O Estatuto da Criança e do Adolescente, por sua vez, em seu art. 149, § 1º, letra e, prevê que compete às autoridades judiciárias, levando em consideração, dentre outros fatores, a adequação do ambiente à eventual participação ou frequência de crianças e adolescentes, disciplinar, através de portaria, ou mediante alvará, o uso correto de tais ambientes. A solução na estaria na adoção dessa saudável medida no que tange ao volume de som permitido? O auxílio das Secretarias Municipais de Saúde e do Meio Ambiente, através de seus técnicos, seria determinante na elaboração de uma grade, e inúmeros estudos existem a respeito, com limites de decibéis compatíveis com o ouvido humano, que não causariam dano à audição desses jovens.

Paralelamente, caberia aos órgãos competentes do Município a fiscalização de tais ambientes frequentados por menores.

Essa medida seria de grande valia na preservação da saúde auditiva de nossos jovens, livrando-os, igualmente, de outras patologias advindas do impacto exagerado do som sobre o organismo humano.





 
Quanto ao gosto musical, isso já é assunto para outra crônica.

Nada contra o bate-estaca.

Há quem, porém, prefira um bate-coxa.

Assistam ao vídeo abaixo e formem sua opinião.