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domingo, 5 de agosto de 2018

JÁ CHEGAMOS LÁ?




Ao ler a notícia, lembrei-me da minha infância e da imagem visual que guardo do poço que existia no pátio. Era grande e todo salpicado com cimento. Isto o tornava uma peça respeitável.

Um dia, por descuido dos pais, acheguei-me a ele e com minha pequenina mão joguei uma moeda pela abertura da tampa que ficara mal fechada.

Na pontinha dos pés, recuei ao ouvir um barulho de água. Hoje, imagino que ele não fosse tão fundo. Será?

Nunca saberei, pois se redobraram os cuidados com o tal poço que recebeu uma tampa também de cimento, bem pesada.

Este famoso poço até originou um poema, com nuances verdadeiras naquela etapa da vida, em imagens assim revividas:






Hoje, um poço no quintal é coisa do passado.

Metaforicamente, porém, é uma expressão bem atual. Ouve-se, por aí, muita gente dizendo que atingimos o fundo do poço. Será?

Eu, como espectadora de longa data, acredito que estamos próximos disto.

Se assim não for, como explicar o furto de uma medalha, a reconhecida medalha Fields, outorgada aos melhores cérebros voltados à Matemática, em nível internacional, durante o evento de premiação por ocasião do Congresso Internacional de Matemáticos, realizado no Estado do Rio de Janeiro?

Este evento, considerado o mais importante na área da Matemática, iniciou-se no dia 1º de agosto, com duração de 9 dias, e reúne, pela primeira vez na América Latina, 2500 matemáticos de todo o mundo.

E o fundo do poço?

O matemático laureado, Caucher Birkar, que teve a medalha furtada, é um dos quatro vencedores desta premiação que acontece de quatro em quatro anos, na mesma data dos congressos internacionais de matemáticos de até 40 anos.

A consequência, em razão do furto, foi a não participação do laureado na coletiva de imprensa realizada após a entrega do prêmio.

Dispensemos, aqui, as considerações, todas laudatórias, com relação aos laureados.

Interessa a nós todos, residentes neste país, superar mais uma vergonha que assola a nossa Pátria.

Até quando?

Já chegamos lá?


Acredito que estejamos bem próximos. Só que esta chegada terá o impacto de um tsunami e não apenas o som suave de uma moeda batendo na água e da surpresa daquela menina: uma demonstração do intento alcançado.

Lembremos que este tsunami é algo não querido, não desejado, mas cultivado, fomentado por quem não se importa com os seus e com a sua Pátria.

Acredito que ainda haja tempo para que se reverta este quadro, porque o tempo é coisa que se usufrui ou se perde. Prefiro ficar com a primeira opção, pois quero ainda ver aquela flâmula ser motivo de orgulho e não de vergonha.


Ó, Pátria amada!

Por onde andarás?

Teus filhos já não aguentam mais... 

*Parte do refrão do samba-enredo da Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis, campeã do Grupo Especial no Carnaval de 2018, no Rio de Janeiro.





Beija-Flor 2018 - Letra e Samba











domingo, 9 de novembro de 2014

O NOSSO TSUNÂMI

Ouça o barulho do silêncio. Ele é saudável. Ele é um bálsamo. Ele reorganiza o nosso interior. 

Descanse o olhar no céu. Siga as nuvens, namore com a lua, assista ao nascer e ao pôr do sol. São colírios gratuitos e eficazes contra a imundície que se espalha pelas ruas, pelos viadutos, pelos muros, pelas praças e parques.

Àqueles que afirmam que os dramas presenciados por diversão, todas as noites, frente à telinha, são a expressão do que se passa na sociedade, conteste através da seleção por melhores programas.

A avalanche de notícias ruins virou um verdadeiro tsunâmi. E todas elas com forte probabilidade de serem verídicas e relativamente fáceis de serem provadas, surgindo de todos os lados, com os mais diversos atores e cuja plateia a assistir: somos nós, o povo.

Globalizando o olhar, não há grandes diferenças em outros tantos lugares do Planeta. A miséria humana da fome, da moral e dos princípios éticos grassa em grande parte desta imensa aldeia. Raras são as exceções.

Ainda bem que existem algumas ilhas de civilização espalhadas, aqui e acolá, que nos permitem ainda crer no ser humano. Isto é muito pouco, porém.

Considerando o que está próximo a nós, é desalentador perceber um desvirtuamento dos objetivos que conduziriam a sociedade a um patamar de desenvolvimento coletivo ascendente.

Valores éticos e morais aprendidos no seio familiar somados a uma educação qualificada oferecida pelas escolas públicas, visando uma oportunidade de acesso a cursos superiores ou a cursos profissionalizantes, dependendo das capacidades individuais, seria o caminho para um real desenvolvimento. E isto ao dispor de todo e qualquer cidadão que demonstre esforço e disciplina nesta busca. 

Cabe ao Estado oferecer tais oportunidades. Um investimento maciço na Escola Pública resolveria a maior parte dos problemas. Todos com iguais oportunidades. Com valores morais e éticos e uma educação pública qualificada constrói-se uma sociedade justa, onde a esmola não se tornará o apanágio de grupos absolutamente desinteressados na elevação cultural do povo, e sim na manutenção do status quo rasteiro: degradante, por vezes. Com Família e Educação andando juntas surgiriam os frutos necessários para que o desenvolvimento social e econômico se instalasse, naturalmente. E isto vale para qualquer nação. O arcabouço jurídico serviria para regular as relações societárias de forma justa e com medidas rígidas previstas para casos extremos. 

Seria cansativo e desnecessário arrolar todos os elementos desagregadores, todos os desmandos que imperam ao nosso redor, todas as medidas inócuas criadas para aparentar um regramento efetivo para situações já fora de controle. Nossos olhos não merecem mais este sacrifício que seria sua leitura. Diante de tantas ideologias e crenças, aparentemente opostas, a constatação é a de que a sanha pelo poder subtrai qualquer possibilidade de que se extraia delas o bem comum.

Raríssimas comunidades têm o privilégio de viverem com relativo equilíbrio de forças entre a representação instalada e os cidadãos que a elegeram. Nestes locais, a sociedade desfruta de um bem-estar amparado pelo desenvolvimento econômico e social.

O que dizer àquelas outras tantas sociedades imersas no caos de guerras, de perseguições, de fome intensa, de abandono, de poluição do ar em níveis intoleráveis? Como poder transmitir uma mensagem de alento, de perspectiva de futuro?



Outras há, porém, em que ainda o ato de respirar não exige um tapa-nariz. Onde olhar para a lua é ainda um ato romântico, não se temendo assistir a algum rastro deixado por um míssil. Onde o silêncio traz a paz interior e não a espera de um sobressalto possível e constante de um próximo bombardeio. Onde tufões e cataclismos não sejam habituais. Acredito que nos incluamos nesta última categoria. Portanto, ainda há esperança, ainda uma luz no fundo do túnel persiste. O nosso tsunami pode tornar-se não tão devastador quanto aquele advindo da natureza em fúria.

Usemos o silêncio para nos reabastecer, a música para nos alimentar, as imagens da natureza, que nos rodeia, para criar novos caminhos por onde podemos e devemos trilhar. Não nos omitamos, porém, nem nos alienemos. Estarmos atentos é imprescindível. Aprendamos a escolher, a avaliar, a exigir, bem como a cumprir com as normas estabelecidas, porque assim se comporta uma sociedade desenvolvida.

O caminho para que cheguemos a alcançar este desiderato passa pela educação e pelos valores morais e éticos. A paz, o convívio harmônico e o desenvolvimento entre os diversos segmentos da sociedade é o que se busca. Assim, constrói-se uma nação. Tudo o resto é consequência.



Por ora, rezemos para que não se chegue, em nível global, ao que Mário Quintana poetou em O HOMEM DO BOTÃO. Principalmente no que nos caracteriza como seres humanos: o livre-arbítrio.

Será que O HOMEM DO BOTÃO tinha razão?

O instinto puramente animal é privilégio apenas das espécies inferiores?

Mas eles, os animais, ao que se sabe, não se perdem a olhar a lua.

Afinal, também isto repousa no livre-arbítrio. O admirar e o destruir passam pela escolha humana.

Será que o Deus descrito pelo poeta criaria um novo homem sem este chamado livre-arbítrio?

Na verdade, somos bem mais do que os animais.

Está na hora de provarmos o reverso do poema.







Depende de Nós – Ivan Lins




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Comentários via Facebook:

Jacira Fagundes: Li tua crônica, Soninha. Beleza de reflexão. Parabéns, querida!

Amelia Mari Passos: "Vero! Acredito na educação, em mudanças visionárias , acredito no melhor das pessoas e no que depende de nós. .Q achado a música! Passear no teu Blog Soninha Athayde são momentos de excelentes reflexões. Um abração."






quinta-feira, 31 de março de 2011



A IMAGEM

Uma gota escorre pelo ralo. E outra corre atrás. E mais outra... Seguem mesmos caminhos? Nem sempre. Há as que se perdem nos vãos dos tijolos, secando sem juntar-se às demais. A maioria, porém, segue o curso normal e desaguá no esgoto, na rua, no arroio... Estão juntas, coesas, fétidas ou não. Isso, absolutamente, não importa. São parte de um universo maior. 
 
Lembro-me, agora, do cachorro do vizinho. Leal, amigo, brincalhão, um olhar manso. Exatamente igual a tantos outros que conheço. Não importa se abandonados, ou não. Não interessa se circulam perfumados pelas avenidas, ou não. Seguem o caminho sem atropelos. São previsíveis. De longe, avistam os irmãos da espécie. Atravessam a rua, chegam devagarzinho e, aos poucos, vão se cumprimentando. Daquele jeito que só eles sabem fazer. São parte de um universo maior. Vez por outra, porém, surgem alguns que, desde filhotes, são agressivos. Não por raça, mas por algum traço particular que os diferenciam. Algo em seu DNA que destoa dos demais. Parece não se acertarem com nenhum outro da espécie, nem da mesma raça. São absolutamente desconectados daqueles com os quais convivem, sejam eles humanos ou outros iguais a si. 
 
Parece que quanto mais se aprimora a evolução, mais aumenta a capacidade de destruição desse ser guindado a um patamar superior na escala evolutiva.
 
Quando irrompe, no Pacífico, aquela onda aterradora é a força das águas se fazendo presente. É o momento de maior grandeza dessas águas. Elas se unem para demonstrar quão coesas estão, quão fortes são. Não há destruição entre si. Elas se reconstroem em novas danças. É a natureza absoluta. 
 
Quando o felino abocanha a presa, pode ser sobrevivência. Porém, muitas vezes, é o próprio filhote que é devorado. Será o quê, então? Um desvio do instinto? 
 
Aqui, já estamos ascendendo a um novo estágio evolutivo. E, quando se chega ao topo da cadeia, os exemplos vão ficando mais cruéis. 
 
Nós, humanos, o que fazemos? O matar, por legítima defesa, é diminuto. A destruição em massa, a matança planejada e os assassinatos são uma constante. As agressões físicas e verbais se somam no dia a dia dos cidadãos. A violência contra os nossos semelhantes é avassaladora e impressiona a quem se detém a observar tais mazelas. 
 
Estamos no topo da cadeia evolutiva, mas, a cada instante, um tsunami explode, de dentro para fora, e violentamos, esfolamos, “apagamos”, viciamos, atropelamos uns aos outros. Nosso interior está doente, profundamente doente. Em poucos segundos, a mão humana exercita a destruição: as torres gêmeas, um povoado, uma aldeia, um grupo de pessoas... 

 
Por último, a imagem, que não sai da retina, lembra um tsunami. 
 
Como uma vaga, em alta velocidade, um carro, qual uma onda gigantesca, foi levando de roldão tudo o que havia pela frente. 
 
Nosso tsunami chegou dias antes do outro e foi mais destruidor. 
 
Constatou-se que ele abalou o ápice dessa cadeia evolutiva. Nós, animais altamente especializados, inventores de toda a moderna tecnologia, alçados à condição de humanos, saímos diminuídos. 

Talvez haja, porém, conserto, porque não foi atingida a base. 
 
Somos ainda animais. Alguns, ainda, racionais.





Assista ao vídeo do atropelamento em massa:

 
 
 
Tsunami no Japão:
 









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Segue, abaixo, comentário recebido por e-mail:


"Sonia; O teu blog está lindo. O texto Imagem retrata com fidelidade o fato comparativo. É uma crônica impregnada de criaividade, no meu entendimento. Parabéns"

Izabel Eri Camargo