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sábado, 13 de janeiro de 2018

ESPIANDO...




Um querer ver e um ver para crer. Um misto de ansiedade e de expectativa ainda não confirmada.

Se Aninha, ao acordar, tivesse certeza do que a esperava naquela manhã, teria levantado daquela cama que nem um foguete.

Achava que tinha se comportado direitinho, que tinha feito o seu melhor. Pairava a dúvida, porém.

Permaneceu por algum tempo deitada, tentando visualizar por entre a cortina, que separava o quarto da sala e que balançava levemente ao sabor do vento, alguma possível imagem que lhe desse a certeza de que lá estaria aquilo que pedira àquele visitante tão esperado. Aquele que carrega tantos pedidos que, digo eu, deve ter uma organização a lhe dar a devida retaguarda.

Quando sentiu que já era tempo suficiente para aquele velhinho ter deixado o seu pedido depositado na poltrona da sala, levantou-se e espiou por entre as dobras da cortina. E lá estava Joãozinho, o boneco tão sonhado e que a acompanhou por muitos e muitos anos.


Este trecho de um conto fez lembrar-me de que a retrospectiva, sob o olhar infantil, é quase sempre positiva. Todos se comportam ao longo do ano e, portanto, merecem os presentes pedidos.

Já a retrospectiva deste ano, apresentada ao vivo e em cores pelos nossos meios de comunicação, só nos traz apreensão.

Por isso, fiquei espiando, espiando e tentando vislumbrar o que levaríamos de presente daquele saco que Papai Noel carrega e que dali pode saltar quase tudo.

Para começar, ele resolveu inovar. Este ano fez uso de uma mala. Talvez seja para não prejudicar tanto a coluna. Interessante que os presentes eram todos iguais, de um mesmo tamanho, embora de valores diversos: uns valendo mais, outros menos.

A sua morada não é mais no Polo Norte. Pasmem! É no Brasil. E a condição, para sermos merecedores de seus presentes, é não sermos obedientes às boas regras de conduta. E dessa forma e nessa escala foram distribuídos tais presentes.

Meus olhos, um tanto quanto ainda infantis, jamais assistiram a tais cenas de distribuição.

Por isso, diante desse quadro e com as derivações que o meu olhar adulto, hoje, prospecta, aguardei por mais tempo, até a primeira quinzena deste novo ano, para imaginar o que nos espera.

Ainda não me atrevi a ultrapassar a cortina. Continuo a espiar do meu canto, saboreando um bom chimarrão para colocar as ideias em ordem.

Os presentes de Natal, aqueles já referidos, foram distribuídos para os que não se comportaram.

Agora, o verdadeiro bom velhinho, quero crer, continua povoando a mente das crianças: o que é muito bom. Talvez, ele não desça mais pela chaminé, mas seja possível encontrá-lo comodamente sentado nos shoppings das cidades. O reino da fantasia precisa continuar existindo. Aquele reino que alimenta o olhar de uma criança.

Quanto a nós todos, os que cumpriram as regras da boa convivência, da lealdade, da integridade moral, da correção nas atitudes, resta continuarmos observando a evolução dos acontecimentos.

Oxalá tenhamos a oportunidade de imprimir novos rumos à sociedade em que estamos inseridos. Aquela que, verdadeiramente, queremos. Aquela que guarda no olhar a expectativa do reconhecimento pelo bom comportamento.

Daí, vai valer ultrapassar a cortina.

Por enquanto, eu continuo espiando este novo ano, de longe, sem vislumbrar nitidamente o que existe a nos aguardar.

Claro, que o exercício de espiar é também bastante excitante.

Acho que vou levantar-me e achegar-me para mais próximo da cortina. Quem sabe terei uma boa surpresa.

Meu olhar, por vezes ainda de criança, é criativo. Por isso, tenho quase certeza que construirei com imaginação, esperança e fé em mim própria e nos que me cercam uma história de realizações e sucesso neste ano de 2018.

E para quem ainda não entendeu que deve mudar, segue o poema abaixo.





Tudo isso para substituir aquela palavra que definiu o país no ano de 2017.

ESTAMOS DE OLHO!



 Bem-Te-Vi - Renato Terra







domingo, 18 de outubro de 2015

PELA VITRINE

Como sempre faço, paro junto à vitrine daquela joalheria. De vez em quando, passo por ali. E o olhar, invariavelmente, pousa sobre as joias expostas. É muito brilho, muito ouro, muita beleza: tudo junto. Um dia, ainda vou ter uma dessas...

Pela vitrine espelhada bato os olhos naquela dupla, minha conhecida. Sentadas em um banco, estão já se aprontando para iniciar a caminhada por todo o shopping. São idas e vindas que se estendem por aproximadamente uma hora. Há tempos atrás, a imagem captada por mim, que virou um conto, era assim:


O passo de uma é vacilante. O corpo, perigosamente, inclinado para frente. Quem a acompanha é miúda, magra, e adota o mesmo estilo inclinado, só que ao contrário, pra trás, para compensar. Mãos, também pequenas, que levantam, com um leve toque, um rosto que pende, teimosamente, para baixo. E lá vão elas... É, com certeza, um grande esforço para ambas. Nunca as vi conversando. 


Houve época em que as encontrava caminhando por uma rua próxima. Também silentes, mas em meio, muitas vezes, ao ruído saudável de pingos de chuva sobre os telhados ou por entre raios de sol. Por vezes, debaixo do canto de variados passarinhos e de barulhentos papagaios.

Não sei por que não as vejo mais por lá. Trocaram de endereço.

Imaginava, como imagino ainda agora ao vê-las pela vitrine que, pela antiga rua, poderiam, quem sabe, trocar palavras, não apenas olhares. O brilho no olhar da mais velha, antes, existia. Hoje, não o vejo mais. Acompanho a dupla há algum tempo.

Antes, quando as via passar, observava o desvelo com que a mais jovem cuidava da mais velha, carregando-a com seu braço. Era uma dupla que se entendia pelos olhares, pelos gestos, pela aproximação, pelo afeto. Aquela rua era o lugar por onde ambas celebravam, diariamente, a existência, a solidariedade, a troca mútua, embora silenciosa.

Hoje, quando passo pela joalheria, vejo a mais jovem dispersa em pensamentos em frente àquela vitrine que me encanta. É como se as vitrines, todas, precisassem do olhar e da atenção da mais jovem. A mais idosa é como um estorvo ao lado da guardiã. A cabeça pendente não mais levanta. E o olhar? Perdido está no belo ladrilho do shopping. Estão juntas sem estar. Estão próximas como imagem. Estão no mesmo espaço, mas não mais no mesmo lugar. Seus olhares não se visitam mais.

E aqueles jacarandás, que se iluminavam ao vê-las passar, buscam outros passantes que ainda celebrem a felicidade de ser com o outro, de não ser sozinho com outros.

Afasto-me, pois lá vêm elas em direção à vitrine iluminada. É como se viessem beber da luz que se espraia daquela vitrine.

Sigo eu com a sensação de que estamos no mesmo barco, meio que à deriva, limitados ao que os nossos olhos acreditam enxergar como realidade.

Esboço um sorriso virtual e me perco pelo burburinho. Este, real. É o que imagino enxergar.

Será que também este é virtual?

Decididamente, anda tudo muito irreal...



Aliás, nas VITRINES de Chico Buarque, parte da letra poética diz que:



E, mais adiante, mistura nossos “eus” ao poetar:




Confesso que torço para que elas voltem a circular por entre os jacarandás. Mesmo em dias de chuva mansa, poças d’água serviam de espelho a refletir o caminhar vagaroso, o semblante ainda esperançoso. Torço para que a vitrine que as acolha seja de outra espécie. Aquela espécie que nos identifica no olhar do outro, aquela que nos torna menos virtuais e mais reais.



Que sejam um clarão de luz própria: é o que desejo.






Chico Buarque - As Vitrines