O que melhor do que a poesia para dizer o indizível. Por rimas tortas ou até sem elas, aventura-se no mundo do inexplicável. Apresenta-se como quem soçobra, mas que emerge, logo ali, travestida de cara nova, porque só ela, a poesia, pode transitar incólume entre o nefasto e o que ainda pulsa de esperança latente.
Em tempos assim, ela tem este condão de fazer imaginar e criar em cada indivíduo uma mensagem que ampara, que consola, que nos torna mais reflexivos.
Sorver a palavra poética é como degustar gota a gota, palavra por palavra, com seus intervalos para perder-se o olhar no entorno e no interior de cada um que está a ler.
A cada leitura de um mesmo poema sempre uma surpresa, porque refletir é o que nos faz humanos.
Seres humanos são polos de energia que concentram força e poder e, portanto, possibilidades de interação com seus semelhantes.
Mesmo sem rima, o ritmo está presente. E a parceria com a música é inevitável.
Difíceis tempos em que a imersão faz-se necessária.
Embora os temas, por vezes, sejam por demais destituídos de beleza, a poesia pode torná-los carregados de sonoridade, de ritmo, o que os torna passíveis de serem harmoniosamente descritos. E qualquer coisa que os torne palatáveis é um bom indicador.
A prosa poética, assim como a poesia, pode emergir de qualquer cena, por mais degradante que se apresente.
Nesta semana, os papagaios, conhecidos também por louros, que enfeitam com seu canto as manhãs do bairro, não se assustaram com o barulho dos helicópteros que sobrevoaram, em mesmo tempo e lugar, os domínios dessas alegres aves.
Permaneceram sobre os telhados, desafiadores como sempre.
Imprimiram som e ritmo para preservar seu território.
Tal qual eles, a palavra poética também, com menor alarde, é capaz de penetrar o subjetivismo de cada um e passar um recado: reflitamos e avaliemos.
Nada é claro, nada é explícito, embora verdadeiro.
A palavra poética, porém, pode explicar o inexplicável e, com certeza, abrir possibilidades de entendimento sobre fatos absolutamente nefastos.
Claro, tudo com as metáforas que dão colorido e até divertem àqueles que se debruçam sobre tais peças literárias.
Nestes tempos obscuros, haja muita prosa poética e música para nos manter informados com aquela dose de encantamento tão útil ao nosso equilíbrio físico/emocional.
Afinal, não podemos soçobrar.
Uma bela imagem que inspirou esta breve peça poética.
Que a força daquele canto, tornada melodia, corrobore a parceria.
Que ambas nos salvem desses difíceis tempos.