Com os dedos pega porções do alimento que restou naquela embalagem ali deixada.
Sentado no meio-fio da calçada, faz companhia àquele ipê amarelo, todo florido. Uma árvore, um homem, uma fome.
Algumas flores, já caídas ao chão, formam um pequeno e belo tapete junto àquele homem. Ele, porém, não tem olhos para o que o cerca. A sensibilidade para o belo cedeu lugar ao instinto mais primitivo que poderá mantê-lo vivo: o ato de comer. Só aquele que tem garantida a satisfação dessa necessidade é que pode dar-se ao luxo de sensibilizar-se com esta visão.
E por que escrever sobre isto?
Porque a palavra serve para expressar nossos mais profundos sentimentos.
Às vezes, um gesto basta. Alcançar o alimento a quem tem fome. Em outras, é preciso mais.
É preciso juntar sentimentos, palavras e ações para modificar a letargia a que estamos acometidos. Nós, a humanidade como um todo.
Um barco, um mar, um corpo indefeso, um menino morto estirado numa praia, uma imagem para sempre gravada na memória. Outros tantos corpos já foram tragados pelo mar.
Parte de uma cabeça, sob os escombros, revela a existência de um bebê: único sobrevivente de sua família.
Outro sobrevivente de apenas quatro anos de idade, com o rosto ensanguentado, aparece sentado, passando a pequenina mão sobre o rosto para retirar o sangue, revelando uma postura de adulto. Embora com pouco tempo de vida, já enfrenta, com certa impassibilidade, o terrível momento por que passa.
Reuniões e mais reuniões: anuais e de emergência. Discursos e mais discursos. Palavras vãs, mentirosas, ardilosas, interesseiras, aparentemente consternadas. Elas, as palavras, dependem de quem as profere. Sobrevivem ou são esquecidas, são sinceras ou eivadas de falsidades.
Na cena do ipê amarelo, poderia acrescentar que aquele homem, após o ato de comer, deixa ali atirados sobre a calçada a embalagem com algum resto de comida que não mais interessa.
Prefiro adornar a cena com as cores amarelas do ipê. Será um mendigo, um desempregado, um incapaz, um malandro? Não sei. Fiz a minha parte. Coloquei a comida que restara da janta. Ainda em boas condições de ser aproveitada. Na manhã seguinte, da janela meu olhar captou aquela imagem e quis descrevê-la em palavras. Será que fiz mesmo a minha parte? Acho que a letargia tomou conta de cada um de nós. Talvez tenhamos, mais uma vez, a possibilidade de cobrarmos, pelo voto, a ação de quem nos representará nesta cidade, que está perdendo o seu sorriso pelo qual era conhecida.
Quanto às cenas desta guerra na Síria, que já dura cinco anos, não há árvores em pé, muito menos floridas. Os destroços, os escombros, os corpos, os seres humanos que restam e os que conseguiram escapar ou aqueles, ainda, que morreram pelo caminho, são reveladores de que as palavras, apanágio do ser humano, são usadas a bel-prazer de quem as pronuncia ou as escreve em contundentes discursos vazios e hipócritas.
O que esperar desses seres manipuladores que permeiam a sociedade humana?
Nada de bom há de vir. Convém, porém, atentar-se que o sofrimento de milhões de seres humanos, em um determinado momento, há de retirar da letargia alguns outros milhões que, por receio do mesmo fim, levantem-se e sejam porta-vozes de uma Carta Constitucional Global que a todos proteja e que aponte novos rumos para a humanidade: já exausta. A palavra, atributo maior, único e exclusivo do ser humano, usada com este propósito protetor representará a redenção da humanidade.
E, quem sabe, só então o ser humano atinja a PAZ.
Aí, sim, valerá a pena dar um título a esta crônica: A CARTA REDENTORA.
Utopia? Talvez!
Comecemos pelo nosso entorno. Por combater a violência que já se arrasta por tempo demais. Isto já será um avanço e uma perspectiva de melhores dias para todos nós.
Sentado no meio-fio da calçada, faz companhia àquele ipê amarelo, todo florido. Uma árvore, um homem, uma fome.
Algumas flores, já caídas ao chão, formam um pequeno e belo tapete junto àquele homem. Ele, porém, não tem olhos para o que o cerca. A sensibilidade para o belo cedeu lugar ao instinto mais primitivo que poderá mantê-lo vivo: o ato de comer. Só aquele que tem garantida a satisfação dessa necessidade é que pode dar-se ao luxo de sensibilizar-se com esta visão.
E por que escrever sobre isto?
Porque a palavra serve para expressar nossos mais profundos sentimentos.
Às vezes, um gesto basta. Alcançar o alimento a quem tem fome. Em outras, é preciso mais.
É preciso juntar sentimentos, palavras e ações para modificar a letargia a que estamos acometidos. Nós, a humanidade como um todo.
Um barco, um mar, um corpo indefeso, um menino morto estirado numa praia, uma imagem para sempre gravada na memória. Outros tantos corpos já foram tragados pelo mar.
Parte de uma cabeça, sob os escombros, revela a existência de um bebê: único sobrevivente de sua família.
Outro sobrevivente de apenas quatro anos de idade, com o rosto ensanguentado, aparece sentado, passando a pequenina mão sobre o rosto para retirar o sangue, revelando uma postura de adulto. Embora com pouco tempo de vida, já enfrenta, com certa impassibilidade, o terrível momento por que passa.
Reuniões e mais reuniões: anuais e de emergência. Discursos e mais discursos. Palavras vãs, mentirosas, ardilosas, interesseiras, aparentemente consternadas. Elas, as palavras, dependem de quem as profere. Sobrevivem ou são esquecidas, são sinceras ou eivadas de falsidades.
Na cena do ipê amarelo, poderia acrescentar que aquele homem, após o ato de comer, deixa ali atirados sobre a calçada a embalagem com algum resto de comida que não mais interessa.
Prefiro adornar a cena com as cores amarelas do ipê. Será um mendigo, um desempregado, um incapaz, um malandro? Não sei. Fiz a minha parte. Coloquei a comida que restara da janta. Ainda em boas condições de ser aproveitada. Na manhã seguinte, da janela meu olhar captou aquela imagem e quis descrevê-la em palavras. Será que fiz mesmo a minha parte? Acho que a letargia tomou conta de cada um de nós. Talvez tenhamos, mais uma vez, a possibilidade de cobrarmos, pelo voto, a ação de quem nos representará nesta cidade, que está perdendo o seu sorriso pelo qual era conhecida.
Quanto às cenas desta guerra na Síria, que já dura cinco anos, não há árvores em pé, muito menos floridas. Os destroços, os escombros, os corpos, os seres humanos que restam e os que conseguiram escapar ou aqueles, ainda, que morreram pelo caminho, são reveladores de que as palavras, apanágio do ser humano, são usadas a bel-prazer de quem as pronuncia ou as escreve em contundentes discursos vazios e hipócritas.
O que esperar desses seres manipuladores que permeiam a sociedade humana?
Nada de bom há de vir. Convém, porém, atentar-se que o sofrimento de milhões de seres humanos, em um determinado momento, há de retirar da letargia alguns outros milhões que, por receio do mesmo fim, levantem-se e sejam porta-vozes de uma Carta Constitucional Global que a todos proteja e que aponte novos rumos para a humanidade: já exausta. A palavra, atributo maior, único e exclusivo do ser humano, usada com este propósito protetor representará a redenção da humanidade.
E, quem sabe, só então o ser humano atinja a PAZ.
Aí, sim, valerá a pena dar um título a esta crônica: A CARTA REDENTORA.
Utopia? Talvez!
Comecemos pelo nosso entorno. Por combater a violência que já se arrasta por tempo demais. Isto já será um avanço e uma perspectiva de melhores dias para todos nós.
A PAZ – Roupa Nova