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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

TEMPOS VENTOSOS

Quanta ventania!

Um tempo que, permanecendo na lembrança, guarda a importância de uma ventania.

Mesmo que tenha existido em sonho.

E o poema, que segue, é a prova de que ela existiu e cumpriu seu papel.

 


domingo, 3 de julho de 2022

IMAGENS DE UMA OBSERVADORA



Quem entra...

Quem sai...

Quem passa...

Imagens, muitas vezes, reveladoras do humor que é percebido por quem se detém a observá-las.

Belinha sabe disso. Por isso, tem uma mesa reservada junto da parede de vidro que compõe a fachada do restaurante.

Algumas imagens são curiosas, incompreensíveis até.

A esposa que sai do restaurante e aguarda o marido em frente, por quase quinze minutos, pois o mesmo conversa com o dono do estabelecimento. E isto é frequente.

Há outros casais, porém, que adentram e saem juntos e felizes do estabelecimento.

Há quem circule, em frente ao restaurante, aguardando um possível prato de comida, ou algumas moedas quando algum frequentador do estabelecimento saia.

Algumas imagens serão verdadeiras. Outras, falsas. Quem observa, também, tem seus olhos voltados para cenas nem sempre reveladoras do que apresentam.

Aquela jovem de mãos dadas, ao que parece, não está feliz. Seu semblante está tristonho.

Alguém sorrindo não é o comprovante de felicidade.

Os seres humanos, ao contrário dos animais, são multifacetados. Não há uma certeza sobre o que realmente estas imagens indicam.

Aquela família, que apresentava imagens de ser bem-estruturada e feliz, surpreendeu a todos os vizinhos quando se desfez.

É bom observar e criar cenários que alimentam nossa criatividade. Nunca, porém, tê-los como espelhos de uma realidade nem sempre verdadeira.

A nossa imaginação cria, com certeza, caminhos diversos para imagens do nosso cotidiano.

E, ainda, não temos o VAR para checar qual a linha de demarcação da verdade, da farsa ou do embuste.

O ideal é aproveitarmos as imagens quando elas fazem parte do nosso “eu” com um outro “eu”.

Podemos, então, quem sabe, construir um cenário em que as imagens representem aquele momento verdadeiro, que nos é dado de presente, onde consigamos erguer uma sólida relação. Até, enquanto dure.

Agora, o importante é que saibamos selecionar aquelas imagens que permanecem na lembrança, as que sejam positivas, para que se unam àquelas que fazem parte do nosso cotidiano.

Aquela imagem do abraço afetuoso entre dois amigos que se encontram na praça da rua onde moram.

Aquela imagem da mãe acariciando seu pequeno filho.

O sorriso da atendente agradecendo a presença, diária, daquele cidadão, já bastante idoso, que almoça no restaurante próximo da sua casa.

A imagem da aproximação do Snoopy, cachorrinho tão querido, que busca um carinho de sua dona.

A imagem da gentileza do casal que, ao entrar no restaurante, volta-se e auxilia a senhora que, usando uma bengala, também quer entrar para almoçar.

A imagem do pássaro fêmea que traz alimento para o seu filhote, colocando-o no seu bico.

A imagem religiosa posta sobre um balcão na entrada do restaurante, que oferece uma saudação de bem-vindos a todos que adentram.

Para estas últimas imagens não precisaremos do VAR, com certeza.

Elas revelam aquilo que nossos olhos atentos e observadores captam.

E são essas imagens que nos impulsionam para o amanhã, com a esperança renovada de que, juntos, somos seres muito especiais. Portanto, poderemos fazer a diferença em momentos cruciais. Naqueles em que o amor se fizer necessário para vencermos as dificuldades cotidianas. E, quem sabe, esta energia positiva estenda-se além-mar, pois o planeta está a dela precisar.

 

 

 

 

 

segunda-feira, 15 de julho de 2019

SAUDADES? COMO NÃO TÊ-LAS!


Fernando Pessoa sabia bem que senti-las somente os portugueses conseguiam, porque tinham esta palavra para expressar que as tinham.

Seguindo este raciocínio, podemos concordar com este expoente maior da Literatura Portuguesa.

Assim, temos saudades que sempre serão boas e que se ajustam perfeitamente àquilo que queremos expressar. A saudade reveste-se de uma luz própria que emana de um sentimento guardado com carinho no recôndito do ser. Nesta palavra, concentra-se todo o significado do que queremos expressar ao dizê-la.

Ao senti-la sabemos, com certeza, qual a sua origem, o momento vivido, a realidade que foi aquele instante. A saudade repousa no real. Por isso, não pode ser questionada sua veracidade, pois faz parte da nossa interioridade afetiva que encontra, na saudade, o refúgio para amenizar nossa caminhada. Afinal, deixamos rastros de saudade por onde andamos e com quem interagimos.

Saudades do chafariz da Redenção! E já faz tempo que não mais esparge suas gotículas sobre os passeios próximos.

E a mão do avô dando adeus! Melhor quando chegava, batendo palmas no portão.

E o banco da praça onde descansava, após saltitar por entre as árvores.

E o beijo roubado, muito tempo depois, cujo gosto ainda traz saudade.

Bendita memória que nos permite relembrar com saudade os bons momentos vividos.

E os maus? Não é absolutamente território da saudade. Ela os repassa para a companheira lembrança que é muito mais completa e, por isso, talvez, menos feliz que a saudade.

Para a saudade bastam aqueles momentos que a deixaram existir como algo capaz de, no futuro, expressar com uma única palavra sentimentos positivos com relação a algo ou alguém. As lembranças, porém, são mais completas. Jamais serão, contudo, tão bem-vindas quanto a saudade: que se basta. As lembranças precisam de explicação, pois nem sempre são agradáveis.

Ao dizer “eu tenho saudade”, já prenunciamos um sentimento de felicidade.

E quando a letra da música diz “Chega de saudade”, é porque os momentos bons existiram e geraram uma saudade, que é sempre boa, mas que o apaixonado pretende extingui-la com a volta da amada, que será melhor ainda.

Saudade, bela palavra que exprime um sentimento bom de quem o experimentou e que deseja o seu retorno.



Daí, as diferenças entre a lembrança, que nem sempre é boa, e a saudade que é única e faz relembrar bons momentos ou, quando é possível, o retorno daqueles momentos que causaram tanta felicidade.

E é isto que o nosso criador da Bossa Nova, João Gilberto, violonista, compositor e cantor, que levou a música brasileira ao mundo com sua batida inconfundível ao violão, sob influência do jazz, de súbito nos impõe, isto é, um sentimento de saudade pela obra deixada com a sua marca.

Suas apresentações tornaram-se memoráveis junto ao Carnegie Hall, em Nova York, no México e Japão, apresentando-se, também, em vários países europeus como a Inglaterra, Espanha, Portugal, Bélgica Itália, Holanda, França, Suíça (Festival de Montreux).

Diante dessa saudade, que já desponta a partir da despedida desse divulgador de excelência da nossa música popular brasileira, volto a sentir também saudade daqueles momentos inesquecíveis da infância e de uma juventude que teve que abrir as porteiras desta vida desde muito cedo.

E é com saudade que relembro, também, momentos vividos junto ao companheiro que se foi, perdendo-se, ao longo dos dias, e sumindo na fumaça que o destruiu por completo.

Neste caso, não coube invocar o retorno dada a impossibilidade.

Pois é! Às vezes, as coisas assumem duas faces: a das lembranças e a das saudades. Eu teimo em ficar com a saudade, pois ela teve origem num grande amor.



João Gilberto e Caetano Veloso – Chega de Saudade





sexta-feira, 5 de agosto de 2016

NÃO DELETE! REPAGINE!






O esquecimento carrega consigo o vazio, o nada. E o nada é simplesmente o nada. Não acrescenta, não diminui. Não nos possibilita lembrar as imagens de momentos vividos que foram deixados no reino do esquecimento, do nada. Lá, nem as sombras existem para que a imaginação possa recriar, repintando com novas cores aqueles instantes já passados.

Sem a lembrança não nos é permitido acompanhar a linha tênue entre o ontem e o hoje nem, tampouco, traçar caminhos mais iluminados para um futuro que se quer o mais distante possível.

Somos uma soma em que a subtração, às vezes, é necessária. A divisão é sempre interessante, mas a multiplicação é por demais almejada. E esta deve repousar sobre o rescaldo das coisas positivas que ficaram. Para isso, precisa-se da lembrança daquilo que foi negativo e prejudicial na caminhada.

Somos como os atletas que disputam uma maratona, onde o que interessa é alcançar a linha de chegada.

A nós, atletas do dia a dia, não importa se chegamos em primeiro lugar ou em último. Não disputamos com o outro. A disputa é consigo próprio. Para isso, a lembrança de cada obstáculo, vencido ou não atingido, é de extrema importância.

Para os atletas de verdade, os de competição, isto é fundamental. Para os demais atletas, metaforicamente falando, a importância da lembrança é, também, com certeza, a possibilidade de somar experiências para alcançar novos momentos mais exitosos.

Tudo ao natural, sem doping. Dele não se precisa.

Do quê se precisa? Do quê?

Da construção da sua autoimagem: ela depende de você.

Busque o silêncio, reconstrua as lembranças com novas cores, ilumine os novos roteiros, mantendo acesa a chama que surgiu com o primeiro abrir de olhos. Ela, que nunca se apaga, ilumina todos os momentos vividos: tenham sido bons ou maus.

Ela serve de farol para onde todas as lembranças afluem, pois o escuro não existe. Ela garante isto. Nós é que teimamos em torná-la menos nítida, quando os momentos difíceis batem à porta, forçando ao esquecimento tais instantes.

Nesta maratona da vida, somos os atletas. E a chama que carregamos é eterna, pois ultrapassa os umbrais do desconhecido.


Muito mais do aquela Chama Olímpica ou do que aquela outra dos nossos pagos, a Crioula, a nossa própria surgiu quando o primeiro sopro de vida foi ouvido no silêncio do Universo.

Portanto, não delete o seu passado. Reconstrua-o em novos moldes, mesmo que isto agora seja possível, apenas, pela imaginação. Novos cenários, usando-se os materiais já existentes e disponíveis, com novos formatos e cores, vão possibilitar um olhar compassivo para o passado e renovado na criação de um futuro.

Os atletas por profissão aprendem com os erros cometidos: corrigindo-os.

Nós, atletas da vida, detentores da chama eterna, podemos dar uma roupagem nova a antigos figurinos e reconstruir velhos cenários com cores mais suaves e promissoras.

De resto, tudo é uma eterna repetição. Podemos, porém, percorrer a caminhada de agora de forma mais leve, mais aprazível, com mais sabedoria.


Pois é! Cadê? Cadê?

Cadê o sorriso? Cadê o bom humor?

Faça um selfie de si com seu passado e curta os Jogos Olímpicos.

Afinal, os próximos no Brasil? Não se sabe a data.


Viva o dia 5 de agosto!

Ah! Lembrei que uns olhinhos azuis abriram-se, num dia 5 de agosto, há algum tempo atrás. Estes olhinhos revisam o passado com compaixão e gratidão, repaginando, com as cores de uma aquarela, os instantes perdidos, os momentos sofridos. Que a esperança e a alegria de viver prevaleçam e mantenham a chama sempre viva a iluminar os belos instantes que virão, a exemplo dos que já aconteceram.

Em homenagem aos olhos azuis, seguem dois poemas que falam deles. 








E ouça, para reforçar a chama existente em cada um de nós, o oitavo poema de “O Guardador de Rebanhos”, chamado de o Poema do Menino Jesus de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, recitado por Maria Bethânia, poema este adaptado e com alguns cortes numa apresentação ao vivo da cantora. Ao final da leitura do poema, a intérprete canta a versão de Ah! Sweet Mistery of Life, composição de Victor Herbert e Rida Johnson Young. A versão em português recebeu o nome de O Doce Mistério da Vida.


O Doce Mistério da Vida – Maria Bethânia




quarta-feira, 30 de janeiro de 2013







APESAR DE TUDO...

Diante da crônica anterior, imediatamente escrita antes da tragédia que se abateu sobre todas as famílias que perderam seus entes queridos, e que comoveu a todos os que assistiram às cenas, veiculadas exaustivamente pelos meios de comunicação, como ainda buscar belas imagens para olhos tão dolorosamente fustigados, impactados com cenas absolutamente chocantes?

Nada mais parece interessar. O olhar dirigido ao alto não mais acompanha as nuvens no seu trajeto (como na crônica passada), mas se perde no infinito, turvo pelas lágrimas, e incapaz de captar o belo.

A lua, por sua vez, está sumida. Desapareceu, escondeu-se, constrangida por tanta tristeza. Sua beleza restou ofuscada, não cabendo expor-se, por ora, ao vazio dos olhares. Sua beleza cedeu lugar à majestosa dor que a todos tomou de refém.

Tudo, hoje, é só tristeza.

 
 

Chopin – Tristesse  
 
 
Imagens da tragédia, nesse caso, absolutamente necessárias para que toda a sociedade indague sobre as responsabilidades e o Poder Público investigue, à exaustão, as causas que levaram a uma tragédia dessa proporção. Isso espera-se que seja feito. Que a legislação se aprimore e que a fiscalização se proceda com o efetivo rigor, para que tragédias desse tipo não mais ocorram.

Isso é o movimento externo às coisas e às pessoas.

Mas, o que dizer da avalanche de sentimentos que devem estar a cercar as mães, pais, irmãos, avós e todos os que mantinham laços de consanguinidade ou de grande proximidade com as vítimas?

Esses sentimentos permitirão que, após tão doloroso desenlace, ainda se possa ver o belo em alguma coisa?

Com certeza, o tempo será o único caminho, ele será o grande aliado dos familiares para que a imagem do ente querido, após doloroso rescaldo, que poderá durar um longo tempo, possa retornar, novamente, fixando-se naquilo que restou na lembrança: o brilho nos olhos, o sorriso habitual, os cabelos em desalinho, os jeitos e manias.

Só então será possível buscar nessas imagens, guardadas na retina, a paz de espírito.

Tal como as nuvens e a Lua, tão distantes e tão presentes no dia a dia, possa a imagem de seu ente querido aproximar seus sofridos familiares do Divino, apascentando-lhes o espírito  para buscarem entender os desígnios de Deus.



Que a paz e a alegria retornem um dia, abrindo frestas para a felicidade.

Apesar de tudo...




Jesus, Alegria dos Homens – Johann Sebastian Bach