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segunda-feira, 15 de julho de 2019

SAUDADES? COMO NÃO TÊ-LAS!


Fernando Pessoa sabia bem que senti-las somente os portugueses conseguiam, porque tinham esta palavra para expressar que as tinham.

Seguindo este raciocínio, podemos concordar com este expoente maior da Literatura Portuguesa.

Assim, temos saudades que sempre serão boas e que se ajustam perfeitamente àquilo que queremos expressar. A saudade reveste-se de uma luz própria que emana de um sentimento guardado com carinho no recôndito do ser. Nesta palavra, concentra-se todo o significado do que queremos expressar ao dizê-la.

Ao senti-la sabemos, com certeza, qual a sua origem, o momento vivido, a realidade que foi aquele instante. A saudade repousa no real. Por isso, não pode ser questionada sua veracidade, pois faz parte da nossa interioridade afetiva que encontra, na saudade, o refúgio para amenizar nossa caminhada. Afinal, deixamos rastros de saudade por onde andamos e com quem interagimos.

Saudades do chafariz da Redenção! E já faz tempo que não mais esparge suas gotículas sobre os passeios próximos.

E a mão do avô dando adeus! Melhor quando chegava, batendo palmas no portão.

E o banco da praça onde descansava, após saltitar por entre as árvores.

E o beijo roubado, muito tempo depois, cujo gosto ainda traz saudade.

Bendita memória que nos permite relembrar com saudade os bons momentos vividos.

E os maus? Não é absolutamente território da saudade. Ela os repassa para a companheira lembrança que é muito mais completa e, por isso, talvez, menos feliz que a saudade.

Para a saudade bastam aqueles momentos que a deixaram existir como algo capaz de, no futuro, expressar com uma única palavra sentimentos positivos com relação a algo ou alguém. As lembranças, porém, são mais completas. Jamais serão, contudo, tão bem-vindas quanto a saudade: que se basta. As lembranças precisam de explicação, pois nem sempre são agradáveis.

Ao dizer “eu tenho saudade”, já prenunciamos um sentimento de felicidade.

E quando a letra da música diz “Chega de saudade”, é porque os momentos bons existiram e geraram uma saudade, que é sempre boa, mas que o apaixonado pretende extingui-la com a volta da amada, que será melhor ainda.

Saudade, bela palavra que exprime um sentimento bom de quem o experimentou e que deseja o seu retorno.



Daí, as diferenças entre a lembrança, que nem sempre é boa, e a saudade que é única e faz relembrar bons momentos ou, quando é possível, o retorno daqueles momentos que causaram tanta felicidade.

E é isto que o nosso criador da Bossa Nova, João Gilberto, violonista, compositor e cantor, que levou a música brasileira ao mundo com sua batida inconfundível ao violão, sob influência do jazz, de súbito nos impõe, isto é, um sentimento de saudade pela obra deixada com a sua marca.

Suas apresentações tornaram-se memoráveis junto ao Carnegie Hall, em Nova York, no México e Japão, apresentando-se, também, em vários países europeus como a Inglaterra, Espanha, Portugal, Bélgica Itália, Holanda, França, Suíça (Festival de Montreux).

Diante dessa saudade, que já desponta a partir da despedida desse divulgador de excelência da nossa música popular brasileira, volto a sentir também saudade daqueles momentos inesquecíveis da infância e de uma juventude que teve que abrir as porteiras desta vida desde muito cedo.

E é com saudade que relembro, também, momentos vividos junto ao companheiro que se foi, perdendo-se, ao longo dos dias, e sumindo na fumaça que o destruiu por completo.

Neste caso, não coube invocar o retorno dada a impossibilidade.

Pois é! Às vezes, as coisas assumem duas faces: a das lembranças e a das saudades. Eu teimo em ficar com a saudade, pois ela teve origem num grande amor.



João Gilberto e Caetano Veloso – Chega de Saudade





segunda-feira, 5 de agosto de 2013

BEM-VINDO, AGOSTO!

 




Para quem nasceu num cinco de agosto, há décadas atrás, este inverno até que não está de assustar. O que surpreende são as diferentes temperaturas que perpassam um único dia desse inverno atual. Havia uma continuidade, que atravessava os invernos de então, sem grandes oscilações. Hoje, vai-se de um extremo a outro, de um frio intenso a temperaturas mais próximas do verão, às vezes, num só dia. 

Tudo, ao que se percebe, anda, assim, como que aos solavancos. E nada quase mais nos surpreende. 

As amizades que, aparentemente são estáveis e definitivas, de repente, não mais o são. Desaparecem, somem com o passar dos anos, restando apenas a lembrança de um rosto que se vai transformando ao longo do tempo, acontecendo de, vez por outra, não se reconhecê-lo mais quando visto em qualquer esquina da cidade.

Tenho a sorte, acho, de manter algumas poucas, é claro, mas que valem ouro. Que se mantiveram ao longo dos anos e que, embora não presentes continuamente, fazem parte daquele rol diminuto que se deve guardar a sete chaves, conforme diz a letra de Milton Nascimento.

Exemplo desse seleto grupo é aquela que me presenteou com um almoço. E eu, quando do convite despretensioso, nem desconfiei dessa intenção.

Que grata surpresa foi para mim! 

Por isso, embora raramente o faça em crônicas, declino aqui o nome da amiga que me comoveu com o seu gesto. Seu nome: Lizete Maestri. Obrigada, amiga!

Agosto para mim é, portanto, um mês cálido. Embora o dia do nascimento tenha sido um dia gélido, ganhei, de imediato, o colo quente e terno de minha mãe. Esse, assim se manteve durante toda a permanência dela junto a mim.

Depois, um longo tempo após, Agosto trouxe o aconchego de uma lareira em companhia de alguém que comigo desfrutou momentos marcantes. Um dia, porém, deparei-me mateando sozinha, ao pé da mesma lareira. As circunstâncias o levaram para o alto. E nesse caminhar do tempo, um dia saiu uma poesia que diz assim:

 
 
TEU OLHAR
 

Quisera poder senti-lo novamente:

A leveza das mãos, o olhar malicioso.

É o que vem à mente

Quando lembro de ti, meu ser amoroso.


Quisera desdobrar o tempo

E voltar de mansinho àquele momento

Da sedução e do beijo roubado,

Conquistado, em meneios orquestrados.


Dei-te amor no momento certo.

Dele guardaste sensações tão fortes, 
 
Que nunca mais esqueceste tal instante.

E eu, pra sempre, ganhei teu olhar amante.


Que pena! Talvez, tu possas ainda espiar-me daí.

Porque eu, daqui, procuro, em cada estrela,

De novo, uma vez mais, teu brejeiro olhar.



Para minha alegria, sobraram duas flores: uma filha, que amo sobremaneira, e uma neta, também amada, que é o futuro incerto, porém promissor.  Mereceram, ambas, as poesias que seguem:



À ESTRELA MAIOR


És minha obra-prima,

Produção rara de encontrar.

Tens todos os dotes que acaso possas almejar.

E eu, todas as rimas para te encantar.


Vez por outra te sinto mais próxima.

Rejubilo-me com o teu falar.

És mote para o meu cantar.

És vida para meu reiniciar.


Tens esperança no brilho do olhar.

És jovem e justa no agir.

Não te atemoriza o renovado partir,

Nem te assusta o necessário continuar.


És para mim o recomeço,
 
O endireitar do avesso,

O devir que a mim encanta,

A esperança que me abranda.


Teus saberes: com eles quero contar.

Teus valores: deles compartilhar.

Teu futuro: dele participar.

Tua vida: acompanhar.


Se te fui surpreendente no versejar por primeiro,

Quero a emoção expressar por derradeiro.

Amo-te com constância e desvelo.

Vejo-te em mim o tempo inteiro.


E assim, qual estrela a brilhar,

Almejo que comeces a partilhar

Tua luz, teu sentir, teu vibrar,

Com todos aqueles que te sonham conquistar.


 
DA JANELA, O MAR.


Olhinhos brilhando, anjinho parece.

Pela mão pega a vó, vem, vem, vem.

Em frente à janela, o que é que tem?

Dedinho aponta o mar que lá vê.


Eu vejo o mar da janela, vó!
 
Parece absurdo? Que nada!

É a pura verdade, que nó!

Ficamos a apreciar o mar que nada.


Entre prédios, no horizonte, o mar se movimenta.

Entre nuvens se redesenha a todo o instante.

Plúmbea nuvem uma ponte inventa.

O mar e a terra, em fugaz instante.


Nuvens se alternam: escuras e claras.

Ondas que mudam de lugar, terra que vai e vem.

Mar de nossas lembranças,
 
Que há pouco tivemos a nossos pés.

Férias que já foram.

Que saudade vem!


Como é belo criar, mente sempre errante.

Que fase da vida é possível assim viver?

Todas, quando se sabe a chama manter,

Vestida de indelével fantasia, pura emoção, imaginação...


Qual arco-íris no céu, em dia de sol e chuva,

É como uma tiara a enfeitar o céu dos passarinhos.

Tudo que é, pode não ser, depende dos olhinhos,

De olhares sonhadores, quais amores em noite de lua.


O segredo é simples, como simples são as crianças.

Basta manter sempre um olhar luminoso.

Perseverar no caminho das estrelas.

E nossa criança interior, brilhando, nunca se apagar.


E desse modo, eu e Nicole a tudo assistimos.

Com um olhar sempre novo, o do recriar.

A cada evento, metamorfoseamos o que vemos.

Vivemos, assim, sempre, a nos maravilhar.



Pois, assim, Agosto chegou uma vez mais: renovado e fraterno nas amizades; filial e profundamente amoroso com os muito próximos.

BEM-VINDO, AGOSTO!




Brightman & Carreras – Amigos para Siempre – Friends Forever
 
 
 
Canção do Amigo – Rui Biriva








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Comentário via e-mail:


"Muitos ciclos já se passaram; alguns vivemos juntas. Mas tuas perspicácia, sensibilidade e delicadeza permanecem. Basta ler tuas poesias. "


Lizete Maestri









segunda-feira, 29 de abril de 2013

VERDE QUE TE QUERO VERDE, “BEM VERDINHO”

Não importa muito a hora, nem o lugar. Sempre é hora pra quem curte esse fiel companheiro. Aquele parceiro que não tem ciúme se você o desfruta com outrem ou, se na roda, ele passa de mão em mão. E você, sendo o primeiro a senti-lo, não se importa de dividi-lo com tantos outros que, porventura, forem se achegando. Em cada sorvo, um momento de reflexão, uma conversa consigo próprio. E, quando um ronco se ouvir, um novo momento já estará a surgir. Reflexões e pensamentos escorrerão conversa afora, quando outro companheiro estiver sorvendo pela biqueira, na mesma bomba, a mesma seiva verde, bem verdinha.
 
Hábito agregador, a roda do chimarrão escancara palavras, pensamentos, amores, causos. É terapia entre aqueles que se dispõem a usufruí-lo com sabedoria. Sem, é claro, os inconvenientes dos que se atiram ao álcool ou, quem sabe, ao facebook. Um, pela dependência física que pode gerar, quando usado em excesso. O que, não raras vezes, acaba acontecendo ao longo dos anos. O outro, pela exposição ao mundo, ao coletivo, e não ao pequeno grupo, geralmente constante e amigo.
 
Agora, é também excelente terapia para aqueles gaúchos que andam mais extraviados que filhos de perdiz, ou aquele que anda extraviado “das ideias”. Nada como um bom mate pra “sentar as ideias”. É um companheiro fiel para as horas de solidão. É terapia barata e que dá bom resultado.

A sessão terapêutica já começa no preparo do mate. Escolhidos os avios (cuia, bomba, erva mate bem verdinha) pelo vivente, dá-se início ao ritual. Essa etapa já vai preparando o espírito para o que vem a seguir. Não vamos aqui ensinar como fazer um mate, nem como encilhá-lo, o que demanda certa habilidade. Para isso, acesse o material que segue abaixo.

Hoje, o que nos interessa é relembrar o dia 24 de abril como o Dia do Chimarrão.

Homenageá-lo, cultuá-lo como uma tradição nossa, que permanece até os dias atuais com reconhecida importância.
 
Tenho para mim que são, justamente, os momentos de reflexão que ele proporciona que o mantém tão vivo, tomado em grupo ou solitariamente.
 
É uma espécie de amigo de todas as horas.
 
Pasmem! Inclusive no momento de um assalto estava ele lá, presente. Uma cuia cheia de chimarrão foi arremessada sobre um assaltante. Esse ato forneceu os segundos necessários a que a vítima, um caminhoneiro que descansava no interior do veículo, tomando um mate “amigo”, gritasse por socorro. Acudido por outros colegas caminhoneiros, que estavam próximos, safou-se do assalto e, quem sabe, de ser morto. O bandido, assustado, fugiu sem levar nada. 



Parafraseando o verso VERDE QUE TE QUERO VERDE, do célebre poema Romance Sonâmbulo, da obra Romancero Gitano (1924-1927), do poeta espanhol Federico García Lorca, para VERDE QUE TE QUERO VERDE, "BEM VERDINHO", adotamos, esse último, como título dessa despretensiosa crônica.

Nesse famoso poema, o tempo é figura que subjaz ao fazer poético. Observa-se a importância do tempo na vida do indivíduo: sua inexorabilidade.

Com García Lorca, o tempo se sucede em formas, imagens, sensações, que deságuam com o fim da amada e com o seu próprio, trágico e precoce.

Com esse nosso matear dos pampas, também o tempo, mais ameno nesse caso, fornece o lapso necessário para pôr as ideias em ordem, para refletir sobre o tempo de cada um; para pensar sobre o viver, o amar, o sonhar, solidificando laços, renovando-se. E, inclusive, ter em mãos o próprio tempo, o tempo necessário para revidar a agressão a que estava submetida a vítima de mais um assalto.


Meus caros!

É sempre tempo de matear!
 
Revigora o corpo e a mente.
 
Apascenta a alma.

Até percebe-se melhor o tempo passar.

E, quem sabe, até nos faça voar pra longe do tempo presente, levados pela aparente presença do nada.




 
 
 
 
 
Seiva de Vida e Paz – João Chagas Leite
 
 
Roda de Chimarrão e Nós – Osvaldir e Carlos Magrão