terça-feira, 7 de fevereiro de 2012












EL SAPUCAY

O dedo escorrega, por acaso, sobre o botão do controle remoto. E eis que surge uma grata surpresa: um festival. Um festival transmitido, ao vivo, pela Televisão Educativa do Estado do Rio Grande do Sul. Mais precisamente o 22º Festival de Chamamé e o 8º Festival do Mercosur, em Corrientes, que reuniu, este ano, os três países que cultuam este ritmo latino-americano: Argentina (Corrientes), Brasil e Paraguai.

Foram várias noites de apresentações. No palco, as mais diversas expressões artísticas. Um desfile de cantores, músicos, bailarinos, todos dando o melhor de si para representar o país de origem. E o Brasil esteve bem representado com grupos aqui do Sul e, também, de Mato Grosso do Sul.

Que o chamamé seja por nós, gaúchos, apreciado não é novidade. Que, agora, também lá para as bandas de Mato Grosso seja tocado, já é algo mais novo. Promovem eles, inclusive, um festival regional do chamamé. Pois até São Paulo tem um grupo que toca chamamé, o conhecido Barra da Saia, composto por belas mulheres que se apresentam tocando e cantando chamamés.

Agora, a novidade seria mesmo se houvesse a divulgação na mídia de evento cultural do porte desse Festival.

Isso realmente seria uma grande novidade. Mas, parece, estamos longe disso.

Deveríamos festejar esse congraçamento de raças, costumes, culturas, países, todos irmanados em torno de um ritmo, uma poesia, um sapucay forte a unir a América Latina.

Com certo enfado ou, digamos mesmo, nojo de assistir a tantos programas de baixo nível, que prestam um desserviço à educação e à cultura como um todo, deslizei o dedo e descobri, por acaso, que ainda sobra alguma coisa de útil para se assistir, sozinho ou em família.

Claro que a Televisão Educativa cumpre seu papel ao retransmitir esse tipo de programa.

E as demais emissoras cumprem que papel? Informar, dirão muitos. Isso é correto. Na maior parte das vezes, porém, apresentam programas que visam manter seus assistentes cativos de cenas e malfeitos que já fazem parte de seu cotidiano.

 Assim, contribuem para tornar seus assistentes mais ignorantes do que já são. Uma massa de manobra, sem capacidade de crítica, é o que almejam?

Então, é isso! Para que divulgar programas que acrescentam valores, como os de irmandade, congraçamento, união, respeito!

Carecemos de uma diversão saudável, sim.

Por que continuar reforçando, através de programas televisivos, os elementos mais sombrios de que é composto o ser humano. Todas as suas fraquezas, todo um viés de atitudes negativas, que perpassam o ser humano, são reforçadas, diariamente, através de novelas e de programas os mais diversos.

Fique claro que não se pretende a alienação, a fuga, o desconhecimento das mazelas dos indivíduos e da sociedade como um todo. Basta acompanhar o noticiário para se ter uma visão clara do que ocorre.

A função da informação é exatamente essa: informar. Agora, por que tenho que transpor para a tela todas essas mazelas dando uma feição, o que é pior, de algo glamoroso, algo compensador. Isso traz um reforço constante da falta de valores éticos e morais de que a sociedade deveria envergonhar-se. Nada justifica essa realimentação diária. E aqui não estamos a falar de programas humorísticos. Esses debocham, escancaram as ações mais torpes com escárnio, com ironia, com humor. Porém, não as glamorizam, não as tornam passíveis do desejo de uma massa deseducada e falha de valores. Também não estamos falando de moralismo.

Os meios de comunicação têm um papel primordial no reforço de valores positivos, criados e cultivados na família e sedimentados através de uma educação formal de qualidade.

Está na hora de dar uma espiada, “uma espiadinha”, em programas que elevam o nível cultural do cidadão. Temos aqui incluídos as entrevistas, os programas de debates sobre os mais diversos temas, todos atuais, as audições de grupos, bandas, as releituras de livros, etc. Um verdadeiro arsenal de matérias e uma plêiade de profissionais a expor ideias, conceitos, tendências. Tudo visando ao aprimoramento do conhecimento do cidadão comum.

Isso não dá IBOPE?

Os profissionais da comunicação sabem que isso dá IBOPE, sim. Temos como exemplo próximo o Programa Conversas Cruzadas que obteve o prêmio de Melhor Programa da Televisão, no ano de 2011, no Estado (Prêmio Press). Isso se deveu, em parte, pela grande audiência, constante, que os telespectadores dispensam ao programa.

Agora, espera-se que as emissoras de televisão atentem para isso. Mas parece que não há interesse num novo modelo que busque aprimorar o gosto do telespectador.

Enquanto isso não ocorre, soltemos um sapucay de revolta, que anda preso na garganta. Um sapucay que ecoava entre os índios guaranis, demonstrando um chamamento a uma postura guerreira. Hoje, ainda audível, nas apresentações de chamamés.

Que esse sapucay de chamamento alerte para o perigoso caminho de uma sociedade desprovida de referenciais positivos. Restando a ela apenas a dissimulação, a mentira, a falsidade, o engodo, a vantagem levada às últimas consequências. Tudo regado a muito álcool. E o sucesso, ao final, do(a) concorrente mais... Deixa pra lá...

Tudo na telinha, ano após ano.









Apertura del Festival de Chamamé – 2012 

Festival de Chamamé 2012

Chamamecero – Neto Fagundes


Soy El Chamamé – Canto da Terra


Alma Serrana – Pot-pourri de chamamé

 
Chamamé – Merceditas – Gicela Mendez Ribeiro y Barra da Saia ao vivo em São Leopoldo

 
Soy El Chamamé – Shana Müller

Buenas e M’Espalho – Eco do Sapucay

Galpão Nativo – Entrando no M’bororé – Elton Saldanha 




segunda-feira, 9 de janeiro de 2012











UM OLHAR... 
                       UM OLHARTE...

Mergulhe o olhar no muro. Extraia dali o que vê e bem mais: o que sente.

Depois da inundação, nada será como antes. Desaparecerão todos. Restará apenas concreto e muita água. Água sem vida: nem dentro, nem no entorno. Nem as lendas e histórias sobreviverão sem seu principal personagem: o rio. Um rio sem mais identidade. Um rio que terá morrido. Sobrará apenas uma imensa quantidade de água amorfa, sem saliências, declives, sombras. Suas margens não servirão mais para descanso de conhecidos frequentadores, nem suas entranhas tomadas por parceiros que nele transitam há muito tempo. Séculos de convivência respeitosa, entre o rio e aqueles ditos “selvagens”, é o que existiu. E agora? Para onde irão?

O muro está lindo. Fica nos fundos da Escola Estadual Presidente Roosevelt, local que servia de dormitório para moradores de rua. Ainda há restos de pertences deles por lá. Talvez, à noite, voltem a dormir por ali. Afinal, o lugar está mais bonito. E esses já são civilizados. Não são selvagens, mas precisam também daquele rio, ali retratado, pelo bem do ecossistema do país. Aliás, necessitam, bem antes, de um lugar para dormir. E esse ficou bem mais agradável. No silêncio da madrugada, talvez ouçam o canto de algum pássaro que se perdeu muro adentro, levado pelo som da floresta, ali evocada, que só ele consegue ouvir.

Toda arte é rica ao ponto de sensibilizar, fazer pensar, desnudar, questionar. E essa, de rua, mais ainda. Ela esbarra direto no cidadão, sem precisar esperar que ele a visite. Ela está ali, numa esquina qualquer.

Pois é, um rio sempre impressiona. São suas águas que nos atraem. Afinal, vivemos por um período em águas calmas, aconchegantes, um verdadeiro fluido denso onde nos abrigamos até despertarmos para o mundo. Nós próprios somos constituídos de aproximadamente setenta e cinco por cento de água.

Por isso o muro nos impacta. E esse rio, de nome Xingu, parece pedir socorro.

 Agora, há outro muro que nos emociona. É o muro da Avenida Mauá, pois ali repousa parte da história de nossa cidade. Ou melhor, é o Rio Guaíba e suas plácidas águas retratadas num painel de mais de cem metros de comprimento. Que bela imagem!

Já que não podemos tê-lo junto a nós, mergulhemos o olhar nessa imagem virtual. Precisamos dela.

É claro que, com a revitalização do Cais Mauá, conseguiremos desfrutar desse encanto, bem mais próximo, em bares ou no próprio píer.

Aqueles, porém, que usarem a avenida como trajeto diário, têm o direito de, pelo menos virtualmente, sentirem-se acompanhados por tão ilustre criatura.

Aliás, o Criador o que estará pensando das suas obras?

Do Xingu, do Guaíba...

E da Belo Monte?

Bem, essa não é obra sua. Deve ser do Outro.

E como na história bíblica, o Outro deve ser controlado, combatido, para que não prospere.

O que o leitor acha?











Parabéns aos autores do Coletivo, os artistas/grafiteiros Emir Sarmento, Cusco Rebel, Lidia Brancher, Seilá Pax e Pablo Etchepare.







Parabéns, igualmente, ao artista plástico Leandro Selister que, de forma virtual, interveio na paisagem nos relembrando a beleza do lugar onde moramos.









Parabéns à idealizadora, ao curador do projeto, aos patrocinadores e aos demais artistas que participam do Artemosfera, edição 2011.




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*Segue abaixo a manifestação dos artistas sobre a publicação acima:



"puxa sonia! que legal!!!
muuuuito obrigado de coração!
realmente nossa mensagem foi passada com amor. 
tudo de bom pra ti!!!
keep strong!!!"

Cusco Rebel - Alexandre Cravo




"Oi Sonia
Te agradeço muito o email e o texto também. Esse trabalho foi especial para mim.
Coloquei no meu Facebook, o link para o teu Blog.
Um grande abraço"

Leandro Selister








terça-feira, 20 de dezembro de 2011











UM NOVO ANO

Que 2012 nasça tal qual cada um de nós: em meio a muita expectativa e augúrios de felicidade.

De vida curta, é verdade, apenas doze meses, mas que podem trazer plenas realizações a quem se dispuser a enfrentar os percalços que, porventura, surgirem nesse intrincado labirinto que é a nossa vida: dia a dia, mês a mês, ano a ano.

Afinal, essa vida breve é imprescindível para que alcancemos um novo ano, ao findar este.

Todos são breves, são de curta existência. Ai de nós, porém, se não contássemos com esse vaivém, com esse apagar-se e acender-se. Tudo apenas para efeitos de contagem, para que não nos percamos num turbilhão inexplicável, dada a nossa pequenez.

Um tempo perene... Uma luz eterna...

Depositemos nessa luz nossa fé, nossa esperança e vida: nosso hoje e o nosso amanhã.

Que o olhar infantil ainda possa embalar sonhos frente à estrela que brilha no topo de uma árvore de Natal. Ela que, lá, nos parece tão grande, que nos faz tão pequeninos, quando ainda o somos. Ela que, bem depois, vista no céu, nos faz menores ainda, embora até já sejamos adultos. Sua luz nos encanta, nos atrai, nos faz sonhar.

É tarefa nossa persegui-la. Embora nem precisássemos desse esforço. Pois, na verdade, somos seres de luz: brilhando em maior ou menor intensidade. O tamanho do brilho é que nos exigirá maior empenho.

Que ela nos guie pela vida afora e nos conduza, por fim, ao infinito.

Por ora, aguardemos o revezamento que se aproxima.

O ano que finda passará o bastão.

E um clarão iluminará o novo ano que surge.

Um 2012 cheio de luz para todos.