domingo, 20 de dezembro de 2020

EM BEM MENOS TEMPO...



Passaram-se trinta anos até que, um dia, aqueles olhares se cruzaram. E nunca mais se separaram.

Tempo este visto da perspectiva de um par de olhos. Do outro par, bem mais tempo passou-se. Foram quarenta e cinco anos de espera. Mas, pelo visto, valeu a pena todo este tempo de espera, pois permaneceu sob encantamento até o final de seus dias.

Lembranças que o tempo não apaga para quem viveu intensamente tantos momentos juntos.

O tempo, como fração de segundo, é importantíssimo, pois é capaz de criar laços de admiração, afeição e amor.

O tempo estendido, ano após ano, é o grande senhor de nossa caminhada. Vão-se somando anos, que vão nos tornando capazes de senti-lo com venerável respeito.

Por consequência, vamos aprendendo a usá-lo de forma racional, com mais atenção à importância que tem no nosso dia a dia.

O ritmo atual de atividades, que nos move, é por demais desafiador.

Este infortúnio, que se abateu sobre as populações espalhadas pelo globo terrestre, trouxe a possibilidade de nos sentirmos reféns do tempo. No relógio, as horas sucedem-se, inexoráveis, com a mesma rapidez de sempre.

O que mudou ou quem mudou?

Tudo mudou. Mudamos todos.

Acredito que a valorização do tempo, por nós percebida, será o grande legado a ser deixado após este infortúnio.

Uma nova dimensão do que significa um abraço, um olhar renovado sobre uma imagem familiar, bem mais valorizada: serão dados relevantes a partir de agora.

Afinal, até no Universo, neste dia 21 de dezembro de 2020, teremos um encontro, depois de 800 anos, dos dois maiores planetas do Sistema Solar: Júpiter e Saturno.

O fenômeno, que aconteceu ainda na Idade Média, deverá ser observado nos céus, onde uma forte luz será visível a olho nu, conforme dizem os astrônomos. Este ponto brilhante faz lembrar a Estrela de Belém que teria direcionado os três reis magos até Jesus Cristo.

A chamada Grande Conjunção acontece a cada 400 anos. A última foi registrada no século 17, em 1623, mas segundo provam os cálculos não foi na época de Natal.

Segundo os estudiosos, o mais semelhante encontro aconteceu em 1226, no século 13, na época do Natal. Portanto, segundo os astrônomos, há quase 800 anos. Ainda, de acordo com estes cientistas, esta será a maior Conjunção entre Júpiter e Saturno durante os próximos 60 anos. Depois, somente em 2080.

Diante dessa medição do tempo, que ultrapassa séculos, não devemos nos assustar com este tempo em que aguardamos uma eficaz e segura proteção aos nossos corpos.

Ele, o tempo, continua a nos exigir que mantenhamos nossas atividades, que olhemos com ternura e compaixão os menos afortunados, dando-lhes oportunidades de reinserção social e que cuidemos de nossos entes queridos, como a nós mesmos.

A grande lição que fica é a conscientização da importância do tempo em nossas vidas. O que fazemos desde o amanhecer até o anoitecer. Quem e o que estamos priorizando.

Que tempo sobrará para revermos nossas atitudes no dia a dia.

Que tempo, por fim, dedicaremos àquele olhar que seduziu e que foi motivo de momentos felizes. Se acaso não mais existir, buscaremos no céu, que nos cobre, sinais para que a imaginação navegue e possa saciar-se com tanta beleza.

Mesmo que nuvens surjam repentinamente, elas passarão, assim como este momento nebuloso pelo qual passamos.

Tudo, enfim, passará. Em bem menos tempo que a Grande Conjunção.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

ELA E SUA MELHOR VESTIMENTA


Ela nos identifica, nos socializa, nos distingue dos demais seres vivos da natureza.

Com ela podemos quase tudo. Podemos trocar comunicação com o irmão, pedir auxílio, também, socorro diante de agressões. Podemos orar sempre, mesmo que não sejam tempos de pandemia. Sua oralidade é característica humana.

Ler, igualmente, requer sua presença. Ela é imprescindível.

Os variados meios de comunicação apresentam-na, às vezes, despojada, displicente, inoportuna, insensível.

Já nos embates diários, pelas ruas de uma cidade, apresenta-se em sua oralidade, muitas vezes, de forma agressiva, cercada de palavrões.

Ela é, porém, repositório de informações, de conhecimento, de cultura.

Desde o acordar até o amanhecer convivemos com ela de forma constante.

Ela é nossos pensamentos levados ao vento, ao outro ou a uma folha de papel, onde repousará para que seja lida quando alguém se dispuser a fazê-lo.

Ela aguarda, pacientemente, que a usemos por amor a ela, por necessidade, ou, mesmo, por brincadeira em algum cântico que nos afague o coração.

Amá-la é nossa obrigação. Usá-la? De que forma?

Com afeto e parceria quando for o momento adequado. Com diligência, rapidez, competência e responsabilidade quando a situação assim exigir.

Um detalhe, porém, deve se fazer presente quando alguém a deposita sobre uma folha em branco e deseja transmitir o que todos já conhecem, já sabem.

O amor por ela tornar-se-á presente, visível para o leitor quando estiver revestida daquilo que a faz mais bela: a poesia.

A vestimenta poética da palavra escrita é o diferencial para o leitor que absorverá o conteúdo, embalado em uma espécie de mel, como dizia o grande poeta Manoel de Barros. Ao falar da Poesia, dizia ele:
 
“Poesia é uma espécie de mel da palavra”.
 
Eu diria que este manto poético, que cobre a palavra, pode e deve ser usado em todos os textos que não sejam puramente informativos como os jornalísticos.

Só com esta cobertura, que nos lembra o mel, é que podemos fazer frente aos desatinos, aos reveses, aos momentos de incerteza a que estamos submetidos.

Portanto, só com ela, com esta qualidade que a Poesia possui, é que podemos ter prazer na leitura de qualquer texto que se revista desta doçura que nos mantém, durante esta caminhada terrena, em busca da utopia. Ela que, segundo Eduardo Galeano, escritor e jornalista uruguaio, está no horizonte e serve para que nos movimentemos em sua direção.

Ela nos conservará sempre em busca do melhor para nós, como sociedade planetária, numa evolução como cidadãos que dialogam, que acordam, que, empaticamente, veem-se no outro como um irmão.

Com relação ao texto criativo, que a palavra poética seja nossa parceira em leituras produtivas para o nosso bem, de todos que nos cercam e que se estenda a todos aqueles que são leitores contumazes.

Que ela nos acompanhe não apenas frente a um texto considerado poema, mas que o leitor encontre esta mesma cobertura em textos como, por exemplo, crônicas do cotidiano. Este nosso dia a dia tão atribulado, tão tenso por tantas notícias negativas, pede um esforço que a palavra escrita pode oferecer. Torná-lo mais ameno, mais acolhedor, mais esperançoso para quem, ainda, acredita num amanhã promissor.

Não se está a propor o acobertamento de fatos, mas a repassá-los de forma sensível onde a cobertura poética tem o privilégio de sustentar, através da criatividade, um texto que o leitor poderá usufruir de forma amena e suave, sem as agruras que transcorrem diariamente.

Continuemos neste caminho que a cobertura poética pode nos oferecer. Ela é um elixir para que a utopia seja mantida viva e auxilie em nossa caminhada.
 
 
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 29 de novembro de 2020

O ENCANTO POR ESTAS CORES




O pátio e a praça sempre foram atrativos para aquela menininha. O gramado e as pequenas árvores faziam par com o bangalô pintado de verde. Pelas ruas, observava que havia muitas árvores, todas esbanjando um verde de variados tons.

Ao amanhecer, um sol radiante despontava no horizonte, enfeitando aquele céu muito azul.

Cores que enfeitaram a infância e que se mantêm na retina até hoje. É um legado que a Natureza deixou na memória visual daquela garotinha.

Talvez, por isso, o dia 19 de novembro, dedicado à Bandeira Nacional e cujas cores são exatamente aquelas que vestiam o olhar daquela garotinha, seja por ela tão reverenciado.

Temos o verde das matas, o amarelo do sol que nos banha intensamente, pois somos um país tropical, somados ao azul que nos cobre e ao branco que simboliza a paz. Todas estas quatro cores devem nortear nossa trajetória.

Se atentarmos para o valor e para o que representam estas quatro cores, veremos que é preciso respeitar o poder advindo da Natureza, desde que haja conscientização e ordem: o que nos trará progresso.

A bandeira, que tremula sob o Hino Nacional Brasileiro, traz aos olhos e ouvidos de quem assiste o sentimento de proteção daquela que nos abriga desde o nascimento e que por nós deve ser reverenciada.

Se por alguns é vilipendiada, estes não nos representam. Devemos amá-la, respeitá-la e envidar todos os esforços para honrá-la.

Ela nos representa como cidadãos, nascidos e criados neste chão pátrio. Um civismo adormecido é o que parece estar existindo.

Investir em escolas que ministrem conteúdos necessários para o bom desempenho futuro do alunado, bem como fazer transitar valores que elevem o amor à Pátria e aos símbolos que a representam, deveria ser obrigação pedagógica dos colégios.

E a Natureza foi pródiga para conosco. Temos que nos orgulhar do que dispomos e do que podemos melhorar para que todos os cidadãos tenham acesso a benefícios que o trabalho proporciona.

O trabalho será o caminho para que o progresso apareça. Claro, desde que a ordem seja mantida para o bem de todos.

A bela letra do Hino à Bandeira é do nosso poeta Olavo Bilac (1865-1918) com música do maestro Francisco Braga (1868-1945).

Nela, há a referência à verdura sem par das matas, ao céu de puríssimo azul, ao esplendor do Cruzeiro do Sul e ao querido símbolo da terra que representa, da amada terra do Brasil.

Considerada pavilhão da justiça e do amor, traz, em sua letra, ínsitas a ordem e a paz (símbolo augusto da paz).

E o Progresso?

A estrofe que segue contempla este vaticínio:


Contemplando o teu vulto sagrado,

Compreendemos o nosso dever.

E o Brasil por seus filhos amado,

Poderoso e feliz há de ser!


Estas cores, dispostas nesta bandeira, sempre encantaram aquela que, hoje, presta homenagem ao símbolo que nos identifica como cidadãos brasileiros na origem ou mesmo daqueles que buscaram em nossa pátria o reconhecimento de uma nova cidadania.

Este é um olhar cuja emoção de hoje é fruto ainda daquele olhar de criança e, como tal, dispensa a parte histórica que dá outra origem às cores de nossa bandeira. Dados históricos, que remontam séculos passados, revelam que Portugal adotara estas cores como símbolos usados por lá. Colonizados por eles, estas cores foram transferidas até nosso país e adotadas por nós com novos significados a partir da Natureza aqui existente e da índole do nosso povo.

Particularmente, prefiro a letra de Olavo Bilac e a minha memória de criança fazendo parceria com o poeta.