quinta-feira, 11 de julho de 2013

DAS MARÉS



Com um movimento que vem e que vai, espera-se, a cada ciclo, uma nova chegada e um novo recuo, intermitente, aos olhos de quem observa e acompanha tal movimentação. Ela não é de hoje, ela é de sempre. O que muda é a sua força, sua intensidade, conforme a posição dos astros, ao longo dos tempos. Das marés não se pode prescindir. Elas são o próprio inspirar e expirar que se faz gigante, quando tratamos de Planeta. Nossos mares sabem bem como fazê-lo. Embora a produção das marés resulte de um mecanismo relativamente simples, que é o movimento oscilatório da massa líquida dos oceanos produzida pela atração gravitacional do Sol e da Lua, as marés manifestam-se de maneira extremamente complexa e muito variável, segundo o lugar onde ocorrem. Seu ritmo e amplitude estão ligados não somente à posição relativa da Terra, do Sol e da Lua, que se modificam a cada dia, como também às irregularidades do contorno e das profundidades das bacias oceânicas de determinado lugar. Daí, às vezes, serem diurnas, semidiurnas, como também mistas.

Mas isso para nós, que apenas observamos o mar como meros espectadores, são apenas detalhes.

O que interessa mesmo é observar o mar aproximando-se, com aquela imagem grandiosa, quase assustadora, e vê-lo encolher-se, num movimento de quase humildade. É uma respiração bem mais perceptível que a nossa, convenhamos.

Desde sempre, ao que sabemos, isso acontece.

Há algo de novo de um tempo para cá, porém.

Suas águas parecem estar mais revoltas, mais violentas nesse seu expirar constante. As águas dos mares estão, a cada dia, querendo mais mostrar sua força, achegando-se bem além dos limites antes atingidos.

O que mais preocupa, porém, é a constatação de que quando ele inspira, recuando como a natureza determina, escancara a podridão nele lançada e que o está transformando em um celeiro de dejetos e não mais de vida.

O que fazer com essa sujeira toda?


Nós, por nossa vez, também respiramos exatamente num ciclo, porém infinitamente mais curto e também carregado de lixo que expelimos através do gás carbônico.

Pois, Amanda, que adora olhar o mar, vive se comparando a ele, porque também ela inspira e expira para manter-se viva. Ao inspirar busca ar puro. Pois é!

Quando inspira, ela, diferentemente do mar, não desnuda o que é nocivo. Isso acontecerá quando expirar, momento em que jogará no meio ambiente o lixo acumulado dentro de si, o nosso conhecido gás carbônico.

Então, para entender o pensamento de Amanda, temos:

1- Mar e suas marés:
a) inspiração=sujeira à mostra

b) expiração=volumosas águas que se espalham, cada vez mais, terra adentro; 

2- Amanda:
a) inspiração= busca pelo ar puro                                             

b) expiração=sujeira invisível

Como Amanda é uma jovem sonhadora e preocupada com o meio ambiente, consigo própria e com os outros, anda, ultimamente, num dilema. Tem ido pouco às praias que costumava frequentar, para não assistir a esse vai e vem das águas que se tornou algo preocupante, de beleza discutível hoje e um termômetro que está a mostrar os riscos que corremos todos, quanto ao equilíbrio do Planeta.

Como também é uma jovem inteligente, uma leitora atenta e que faz parte de uma massa crítica, não da manada, já percebeu que tudo na vida é cíclico.

Por isso, a cada manhã, quando lê, ouve ou fica sabendo através de terceiros, que mais um escândalo revelou-se, não mais se surpreende.

Tudo é verdadeiramente cíclico, inclusive a sujeira, que perpassa muitas transações, negociatas, favores. São como os dejetos que o mar revela, isto é, visíveis e comprováveis: mais dia, menos dia.

E assim sempre foi ao longo dos tempos. Apenas, hoje é quase instantânea a sua percepção.

A diferença está, mais ou menos, de acordo com as marés, isto é, dependem do lugar onde ocorrem.
 
Em alguns lugares, as punições são exemplares. Em outros, há que se ter paciência e esperar a maré mais propícia, aquela que expõe os dejetos totalmente a olho nu, para que, só então, se tomem as medidas cabíveis, isto é, aquelas que, talvez, num prazo bem looooongo, possam surtir os efeitos que se buscava desde o início do seu conhecimento.

Amanda, que também é uma jovem otimista, espera que a maré baixa impulsione, na maré alta, a que uma verdadeira maré humana invada a praça. Pois o que se observa é uma crescente maré de insatisfação!

E enquanto se aguarda a maré adequada, assistam ao vídeo abaixo. Parem e pensem, que nem Zeca Pagodinho.

Ou, então, deixem-se levar pela Maré Mansa, na voz, também mansa, de Simone.





Parei e Pensei – Zeca Pagodinho - Clique aqui para ver a letra 
Maré Mansa – Simone










sexta-feira, 5 de julho de 2013

DE TEMPOS EM TEMPOS

Tal qual águas revoltas, que irrompem do fundo do oceano em fúria avassaladora, tal qual lava incandescente que brota do fundo da terra, despejando aquilo que não era mais suportável, o povo, igualmente, de uma praça, de um espaço público qualquer, irrompe explodindo sua inconformidade, sua insatisfação. Isto se dá quando suas necessidades chegam a um nível crítico e há a percepção nítida de um total desrespeito ao seu clamor.

Nos fenômenos da natureza é imprevisível, na maior parte das vezes, evitar-se tais cataclismos. Um vulcão que começa a trabalhar, um tsunami que chega avassalando o que tem pela frente, um furacão ou um terremoto que se formam, aleatoriamente, são fenômenos inevitáveis.

Agora, quanto aos agrupamentos humanos, os indicativos de violência em massa são bem mais fáceis de serem percebidos e evitados.

Originariamente começam lentamente, em pontos diversos de uma cidade, em diferentes regiões do país, portando cartazes onde expressam sua indignação, mas ainda movimentos dentro da lei e da ordem instituídas. Estamos falando, é claro, de povos civilizados, vivendo em pleno século XXI. Suas reivindicações, quando explodem em violência, ocorrem porque já o tinham sido exaustivamente apresentadas, ao longo de anos, aos que os representam. Não esqueçamos que somos civilizados, vivemos num Estado Democrático de Direito e estamos no século XXI. Tudo muito moderno! A tecnologia está a serviço desse homem: é o que se propaga.

Mas e quando falta a esse homem o básico para que ele se desenvolva?

Não aquele básico ao rés do chão, mas o básico no atendimento de suas necessidades, aquilo que se reserva a um ser humano, digno por representar a espécie humana e não digno por representar a casta, isto é, os melhores aquinhoados.

Essa massa, que incomoda, clama por direitos expressos em cartazes que portam quando se aventuram em passeatas, por esses rincões afora.

Tudo muito básico, muito claro, muito verdadeiro e perfeitamente realizável.

Nada de discursos, pois disso todos já estão fartos.

O que fazer? Todos sabem.

Como fazer? Todos, também, sabem.

Quem vai fazer? Aqueles que nos representam.

Rezemos para que esse povo permaneça na praça, lugar que é dele, a reivindicar aquilo que lhe é devido.

Povo alegre, bem humorado, trabalhador: um povo feliz.

Pena que seus representantes estejam, de longa data e de forma escancarada, nos últimos tempos, a pisotear, de forma deslavada, direitos fundamentais que não repousam somente na liberdade, mas no exercício da cidadania como indivíduos que têm direito a uma saúde, educação e segurança dignas e efetivas. Que suas cidades tenham transporte público de qualidade. Que haja uma política efetiva de preservação do meio ambiente, das riquezas minerais, de seus mananciais. E por aí afora...

A pauta de reivindicações está nas ruas, na Internet. O rosário de pedidos é grande, mas não maior do que a fila de zeros do imposto recolhido aos cofres públicos por esses mesmos indivíduos que estão nas ruas: os milhões de contribuintes.


Atentem para o amarelo piscante!

Gestão correta do dinheiro público e tolerância zero aos seus desvios, em qualquer esfera de poder. Mecanismos efetivos de fiscalização e punição exemplar aos transgressores.

Diante dessas medidas, todos começarão a pensar, duas vezes, antes de cometerem ilícitos.

Caso contrário, a movimentação das massas pode explodir.

Mas, diferentemente dos fenômenos naturais, tudo ainda pode ser evitado.

Oremos!


Enquanto isso, ouçamos VAI PASSAR, de Chico Buarque, que confirma a alegria de um povo, embora venha sendo ludibriado e arrastado como massa de manobra há tempos. Essa música pode ainda embalar a leitura de um poema de Castro Alves, chamado O POVO AO PODER que, entre seus versos, destaca-se aquele que diz:

A PRAÇA É DO POVO/COMO O CÉU É DO CONDOR.


Aliás, Caetano Veloso, em sua canção UM FREVO NOVO, utiliza-se dos versos do poeta Castro Alves, quando canta A Praça Castro Alves é do povo/como o céu é do avião.Já Carlos Drummond de Andrade faz uma paródia irônica quando responde ao verso de Castro Alves, dizendo:

Não, meu valente Castro Alves, engano seu.
A praça é dos automóveis. Com parquímetro.
Chico Buarque – Vai Passar













sexta-feira, 28 de junho de 2013

BEM MAIS QUE 0,20 CENTAVOS!

O olhar desolado, por vezes aflito, suplicante na maior parte do tempo. Poucos chegarão de forma diversa dessa. Poucos conseguirão manter-se dignamente após tantos anos de trabalho e contribuição aos órgãos competentes. Expliquemos melhor para entender a imagem.

Esse é o caso de Dona Mariazinha. Pessoa que trabalhou por anos a fio, perfazendo regularmente o tempo para a aposentadoria. Seus últimos vinte anos de trabalho passaram-se junto a um conhecido laboratório de análises clínicas dessa Capital. Era excelente datilógrafa, cumpria suas atribuições com assiduidade e responsabilidade, sendo elogiada pelos chefes.

Essa senhora, hoje com 83 anos de idade, contribuiu, regularmente, durante todo o tempo de trabalho exigido por lei para se aposentar sobre o valor de quatro (04) salários-mínimos. Aposentou-se, efetivamente, ganhando quatro (04) salários-mínimos. À época, era um valor razoável. Aliás, como hoje também o é. Sendo ela solteira e sem filhos, o que percebia satisfazia suas necessidades, considerando que não pagava aluguel, pois vivia na casa de um irmão.

Acontece que Dona Mariazinha foi envelhecendo. Seu irmão, que lhe auxiliava, veio a falecer antes dela. E ela, após algum tempo, percebeu que sua aposentadoria definhava a cada ano. E a diferença aumentava entre o que iniciara ganhando e aquilo que, agora, vinha percebendo mês a mês.

E a sua estupefação chegou ao clímax quando verificou que um dia, de não sei que ano, porque coisas desse tipo é preciso esquecer para não desabar, ela recebeu, no final de um mês, a quantia de um (1) salário-mínimo.

Já com a saúde abalada, com dificuldades para caminhar e alimentar-se, não mais tendo o irmão para socorrê-la, uma sobrinha resolveu assumir a posição de seu tio, irmão de Dona Mariazinha.

E essa contribuinte do INSS passou a viver em clínicas. Sua aposentadoria, de um (1) salário mínimo, não é suficiente para a compra dos remédios e das fraldas de que faz uso. A tal sobrinha de Dona Mariazinha paga a clínica e uma cunhada cobre o valor que excede do salário-mínimo para as referidas compras.

Agora, o dramático é que Dona Mariazinha se hoje ganhasse os quatro (04) salários-mínimos para os quais contribuiu e que efetivamente iniciou ganhando, teria tido condições de pagar SOZINHA a clínica onde se encontrava até a poucos dias atrás. Restaria aos parentes apenas uma contribuição para o complemento necessário de suas despesas.

Calculando:

Preço da clínica onde se encontrava: R$ 2.450,00

Valor da aposentadoria, mantidos os (04) salários-mínimos: R$ 2.712,00

CONCLUSÃO: Sobrariam R$ 262,00 para ainda colaborar na contribuição dos demais parentes, que aportariam o que faltasse para suprir as necessidades.



Seu olhar aflito, por ter nova mudança de clínica, é perfeitamente compreensível e desesperador. Há tantas outras pessoas em condições semelhantes, de verdadeira miserabilidade. Com essa aposentadoria de (01) salário-mínimo não precisaria ter ela contribuído sobre (04) salários, durante tantos anos. O mais sensato, correto e justo, no seu caso, teria sido ter contribuído apenas sobre o mínimo, pois é o que lhe sobrou hoje. Ou, se estivesse na informalidade, bastaria ter aguardado a idade prevista de 65 anos, comprovada a impossibilidade de prover a própria manutenção ou tê-la provida por sua família, conforme prevê o art. 203, inciso V, da Constituição Federal, e requerido esse tal salário-mínimo.

O fato é que as modificações que estão a acontecer em nada tem melhorado a discrepância entre a contribuição paga durante a vida laboral e a contraprestação do Estado no gerenciamento de tais recursos e na destinação correta e atualizada de valores descontados, ao longo do tempo, de milhões de aposentados.

Após anos, constata-se o logro em que caíram milhões de aposentados.

Ocorreu, de verdade, uma expropriação de seus haveres.

Isso é uma vergonha nacional.


O poeta Luiz Coronel, patrono da Feira do Livro de 2012, sintetiza, através do poema SALÁRIO MÍNIMO, extraído do livro Um Querubim de Pantufas, exatamente como abaixo transcrito, as agruras de quem dele vive.

Diante dessa triste constatação, deveriam todos os aposentados, espoliados que foram, levantar cartazes onde se leriam os valores a que têm direito, levando-se em conta suas aposentadorias no exato momento de sua obtenção.

No caso de Dona Mariazinha, o seu cartaz estamparia a quantia de R$ 2.034,00, que é o que lhe tiraram ao longo do tempo. Para ela que, hoje, ganharia quatro (04) salários-mínimos, faltam-lhe exatamente R$ 2.034,00.


Para Dona Mariazinha a briga é por

                                                                                                BEM MAIS QUE 0,20 CENTAVOS!









Vanera do Aposentado – Os 3 Xirus

Pobre Aposentado – Bezerra da Silva  
Melô dos Aposentados