domingo, 9 de novembro de 2014

O NOSSO TSUNÂMI

Ouça o barulho do silêncio. Ele é saudável. Ele é um bálsamo. Ele reorganiza o nosso interior. 

Descanse o olhar no céu. Siga as nuvens, namore com a lua, assista ao nascer e ao pôr do sol. São colírios gratuitos e eficazes contra a imundície que se espalha pelas ruas, pelos viadutos, pelos muros, pelas praças e parques.

Àqueles que afirmam que os dramas presenciados por diversão, todas as noites, frente à telinha, são a expressão do que se passa na sociedade, conteste através da seleção por melhores programas.

A avalanche de notícias ruins virou um verdadeiro tsunâmi. E todas elas com forte probabilidade de serem verídicas e relativamente fáceis de serem provadas, surgindo de todos os lados, com os mais diversos atores e cuja plateia a assistir: somos nós, o povo.

Globalizando o olhar, não há grandes diferenças em outros tantos lugares do Planeta. A miséria humana da fome, da moral e dos princípios éticos grassa em grande parte desta imensa aldeia. Raras são as exceções.

Ainda bem que existem algumas ilhas de civilização espalhadas, aqui e acolá, que nos permitem ainda crer no ser humano. Isto é muito pouco, porém.

Considerando o que está próximo a nós, é desalentador perceber um desvirtuamento dos objetivos que conduziriam a sociedade a um patamar de desenvolvimento coletivo ascendente.

Valores éticos e morais aprendidos no seio familiar somados a uma educação qualificada oferecida pelas escolas públicas, visando uma oportunidade de acesso a cursos superiores ou a cursos profissionalizantes, dependendo das capacidades individuais, seria o caminho para um real desenvolvimento. E isto ao dispor de todo e qualquer cidadão que demonstre esforço e disciplina nesta busca. 

Cabe ao Estado oferecer tais oportunidades. Um investimento maciço na Escola Pública resolveria a maior parte dos problemas. Todos com iguais oportunidades. Com valores morais e éticos e uma educação pública qualificada constrói-se uma sociedade justa, onde a esmola não se tornará o apanágio de grupos absolutamente desinteressados na elevação cultural do povo, e sim na manutenção do status quo rasteiro: degradante, por vezes. Com Família e Educação andando juntas surgiriam os frutos necessários para que o desenvolvimento social e econômico se instalasse, naturalmente. E isto vale para qualquer nação. O arcabouço jurídico serviria para regular as relações societárias de forma justa e com medidas rígidas previstas para casos extremos. 

Seria cansativo e desnecessário arrolar todos os elementos desagregadores, todos os desmandos que imperam ao nosso redor, todas as medidas inócuas criadas para aparentar um regramento efetivo para situações já fora de controle. Nossos olhos não merecem mais este sacrifício que seria sua leitura. Diante de tantas ideologias e crenças, aparentemente opostas, a constatação é a de que a sanha pelo poder subtrai qualquer possibilidade de que se extraia delas o bem comum.

Raríssimas comunidades têm o privilégio de viverem com relativo equilíbrio de forças entre a representação instalada e os cidadãos que a elegeram. Nestes locais, a sociedade desfruta de um bem-estar amparado pelo desenvolvimento econômico e social.

O que dizer àquelas outras tantas sociedades imersas no caos de guerras, de perseguições, de fome intensa, de abandono, de poluição do ar em níveis intoleráveis? Como poder transmitir uma mensagem de alento, de perspectiva de futuro?



Outras há, porém, em que ainda o ato de respirar não exige um tapa-nariz. Onde olhar para a lua é ainda um ato romântico, não se temendo assistir a algum rastro deixado por um míssil. Onde o silêncio traz a paz interior e não a espera de um sobressalto possível e constante de um próximo bombardeio. Onde tufões e cataclismos não sejam habituais. Acredito que nos incluamos nesta última categoria. Portanto, ainda há esperança, ainda uma luz no fundo do túnel persiste. O nosso tsunami pode tornar-se não tão devastador quanto aquele advindo da natureza em fúria.

Usemos o silêncio para nos reabastecer, a música para nos alimentar, as imagens da natureza, que nos rodeia, para criar novos caminhos por onde podemos e devemos trilhar. Não nos omitamos, porém, nem nos alienemos. Estarmos atentos é imprescindível. Aprendamos a escolher, a avaliar, a exigir, bem como a cumprir com as normas estabelecidas, porque assim se comporta uma sociedade desenvolvida.

O caminho para que cheguemos a alcançar este desiderato passa pela educação e pelos valores morais e éticos. A paz, o convívio harmônico e o desenvolvimento entre os diversos segmentos da sociedade é o que se busca. Assim, constrói-se uma nação. Tudo o resto é consequência.



Por ora, rezemos para que não se chegue, em nível global, ao que Mário Quintana poetou em O HOMEM DO BOTÃO. Principalmente no que nos caracteriza como seres humanos: o livre-arbítrio.

Será que O HOMEM DO BOTÃO tinha razão?

O instinto puramente animal é privilégio apenas das espécies inferiores?

Mas eles, os animais, ao que se sabe, não se perdem a olhar a lua.

Afinal, também isto repousa no livre-arbítrio. O admirar e o destruir passam pela escolha humana.

Será que o Deus descrito pelo poeta criaria um novo homem sem este chamado livre-arbítrio?

Na verdade, somos bem mais do que os animais.

Está na hora de provarmos o reverso do poema.







Depende de Nós – Ivan Lins




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Comentários via Facebook:

Jacira Fagundes: Li tua crônica, Soninha. Beleza de reflexão. Parabéns, querida!

Amelia Mari Passos: "Vero! Acredito na educação, em mudanças visionárias , acredito no melhor das pessoas e no que depende de nós. .Q achado a música! Passear no teu Blog Soninha Athayde são momentos de excelentes reflexões. Um abração."






domingo, 2 de novembro de 2014

O DIA DA SAUDADE

A percepção do primeiro canto de algum passarinho, o cheiro do doce de abóbora, o gosto da massa crua, que restava na vasilha, do bolo que ia ao forno, o passeio pelo parque, o olhar sobre aquelas luzes, que teimavam em piscar sem parar, naquela árvore bem verdinha todos os Natais: estes são momentos que permanecem na minha retina e, quem sabe, também, na de outros tantos de nós.

Uma trajetória faz-se com uma superposição de imagens. Muitas restarão no emaranhado invisível do nosso interior. Outras permanecerão sempre prontas a emergir, vindo à tona, não importando serem acolhedoras ou devastadoras. Tudo dependerá das circunstâncias e do momento em que foram captadas.

Aquelas imagens que nos trazem a beleza, a emoção, o encantamento, o carinho, o convívio, a surpresa agradável, todas estarão junto a nós, lembrando-nos de quem conosco participou desses momentos. A memória é a soma de pensamentos que criarão as pontes necessárias para a travessia que estamos a empreender desde o nascer até a derradeira hora.

Lembranças que continuarão a enfeitar o caminho que cada um irá trilhar. Elas serão renovadas a cada evento em que haja similitude de momentos. E todas aquelas pessoas que participaram daqueles instantes estarão presentes como se vivas estivessem. Será como uma repetição de cenas que nos fizeram tanto bem há tempos atrás.

Assim, também, permanecerão vivas aquelas imagens que nos marcaram de forma negativa e que não são esquecidas. Estão em nossa bagagem e devem servir de reflexão, para que não se repitam conosco e nem com os de nosso convívio. Nesses episódios negativos, pessoas participaram, gerando conflitos ou sofrendo suas consequências.

Sendo assim, os registros que nos acompanham, desde tenra idade, são por demais importantes ao longo da caminhada.

Na medida em que foram bons, nós e os que já se foram estaremos juntos numa saudade boa de curtir. E isto é o que acredito deva ser lembrado a cada dia de Finados. 

Quanto aos maus momentos deixados por quem os ocasionou: que sirvam de alerta a todos nós. Cuidemos dos bons momentos de convívio, pois serão eles que deverão ficar na memória dos que aqui permanecerem. E, com certeza, aqueles que propiciaram tais instantes serão lembrados com amor por cada um de nós.



Nós, que somos A MORADA DOS AUSENTES, dedicamos este dois de novembro para homenageá-los. Não esquecendo, porém, que eles nos acompanham no dia a dia. Sem eles não existiríamos. Sem eles lições não teriam sido aprendidas. Eles guiaram nossos passos e ainda caminham conosco nesta jornada pautada pelas boas e más lembranças.

Pela importância do que a memória representa, busquemos cultivar momentos agradáveis junto aos próximos a nós. As boas lembranças nascerão dos bons registros que deixarmos.

O nosso conhecido poeta Luiz Coronel, no poema A MORADA DOS AUSENTES, transcrito abaixo, chama de saudade a este espaço das lembranças boas que nos acompanham desde a nossa infância, sempre de mãos dadas com os ausentes a quem devotamos amor.



Boas lembranças a todos neste Dia da Saudade.

Uma homenagem especial à minha mãe, através da música MÃE, de Caetano Veloso. Particularmente nos versos que dizem:

“Eu sou um homem tão sozinho,
Mas brilhas no que sou”.





A Morada dos Ausentes - Poema de Luiz Coronel



Mãe – Caetano Veloso







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Comentários via Facebook:

Amelia Mari Passos: "E, com certeza, aqueles que propiciaram tais instantes serão lembrados com amor por cada um de nós. Soninha Athayde" Belo e tocante texto. A poesia . A música. Grata, me fez bem passear no teu Blog. Um abraço.


domingo, 26 de outubro de 2014

ATÉ A PRÓXIMA...

É bom retornar, de tempos em tempos, a um lugar que traz boas recordações. Embora o tempo lá passado tenha sido curto, as lembranças guardadas perduram até hoje.

Caminhando para os cem anos de existência, o referido lugar foi visitado por Regina no ano de 2008. A professora estagiária daquele estabelecimento de ensino, nos idos de 1974, pôde constatar a situação de abandono em que se encontrava a escola que completava, naquela oportunidade, 90 anos de existência.

Da visita nasceu a crônica SAMBA DE UMA NOTA SÓ, publicada em 04/09/08.


De lá para cá, algumas melhorias no entorno aconteceram. Não mais visitou o auditório. Tampouco sabe se o piano Essenfelder ainda lá se encontra. Talvez, os cupins tenham terminado o seu serviço, que já estava bastante adiantado.

Regina passa em frente ao prédio com frequência, pois a rua onde ele se encontra faz parte do trajeto de caminhada semanal.

É um lugar onde se preparam jovens para o futuro. Novas ideias, criatividade, habilidades, emoções, desejos e sonhos são ali incentivados e didaticamente explorados para que frutifiquem.

A tarefa é desafiadora e o lugar é o espaço onde o ser, o aprender e o fazer andam juntos na tarefa de aprimorar os indivíduos envolvidos nesta aprendizagem diária.

Os cidadãos que dali se lançarem pelos caminhos da vida, compondo os mais diversos segmentos da sociedade, deverão apresentar, ao longo da caminhada, claros traços de conduta irretocável e de operosidade manifesta. É o que uma educação de qualidade busca alcançar. E é o que uma escola, pública ou privada, deveria oferecer. Descontados os desvios de conduta, sempre existentes, estes deveriam ser, porém, exceção.

Agora, sem bons exemplos e com a impunidade que grassa, fica difícil construir uma sociedade justa e democrática.


Nesta volta, hoje, ao local de tantas lembranças, vejo, como de vezes anteriores, cidadãos comparecerem às urnas eleitorais ali instaladas, para celebrarem o seu direito inalienável de escolha de seus representantes.

Se os candidatos oferecidos à escolha não são os melhores, cabe aos cidadãos aprimorarem sua capacidade de crítica, para aprenderem a eleger nomes que concentrem honradez, honestidade, ética e trabalho como qualidades indispensáveis ao exercício de qualquer mandato. Candidatos que concorrem a mandatos municipais, estaduais ou federais são, todos, elementos chave na engrenagem que poderá alçá-los a futuros representantes daqueles que neles depositaram o seu voto. Com o tempo, inclusive, ao cargo máximo de chefe da nação. Daí a importância da boa escolha de nomes, independentemente da abrangência de atuação do parlamentar.


Foi bom ver algumas fisionomias que só encontramos em dia de eleição! O importante é que se mantenha este hábito saudável de participação popular, pois sem ela não sobra muito, depois, para exigir a devida contraprestação.

Por isso, a escola é fundamental no ato de capacitação do indivíduo para o exercício do pensar, comparar, avaliar, ler nas entrelinhas e, por fim, escolher o caminho que lhe pareça o mais correto. 

A melhor escolha é o que se busca.

Tomara que se consiga este objetivo!


Agora, talvez se tenha que aprender a SAMBAR DOBRADO! Ou quem sabe, uma vez mais, venhamos a curtir a letra de SOMOS TODOS IGUAIS! Assistam aos vídeos! 

Até a próxima visita, escola querida!

Até lá!




Samba Dobrado – Djavan


Somos Todos Iguais Nesta Noite – Ivan Lins