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sexta-feira, 4 de setembro de 2020

IMAGENS...



Sobre a cama, arrumadinha, da avó duas bonecas. A neta não entendia qual o motivo de estarem elas ali. Hoje, acha que entende.

Dos dois filhos, que tivera a avó, apenas um ainda estava entre nós. O desejo de ter tido alguma filha, talvez, fosse a resposta para tal enfeite.

Belinha tem uma amiga que, por solidão, tem sobre a cama um ursinho de olhos arregalados ao lado de uma almofada com uma carinha bordada, cujo sorriso é constante.

Há algo mágico nesta percepção do nosso olhar sobre as coisas, sobre as pessoas, sobre o que nos cerca.

Imagens, que permanecem em nossa retina, sejam elas boas, confortáveis ou desagradáveis e mesmo horrendas, serão de grande importância em nossa existência.

Podemos construir imagens para suprir lacunas. Por que não?

Afinal, somos mágicos do nosso viver cotidiano, criando, recriando ou, muitas vezes, tentando expurgar imagens.

Somos bem mais do que um mágico. Ele apenas cria uma imagem falsa que, logo após, se desfaz. Não se sustenta por muito tempo, pois o mágico está ali criando e desfazendo imagens.

Nós, por outro lado, podemos fixar, pelos olhos, imagens que por nós passam. Elas permanecerão em nosso olhar se quisermos, pelo tempo que permitirmos. E esse tempo poderá ser durante a nossa existência.

Podemos, igualmente, descartá-las, jogando-as no vazio que se perdeu pelo tempo afora. O que, muitas vezes, é de difícil execução.

A visão daquele olhar convidativo, que permaneceu na memória, é pura magia. Uma magia que se quer mantê-la viva porque de saudosa memória.

Um olhar tem a força de abraçar, de afagar, de aconchegar, de amar, mas, também, de menosprezar, agredir, desafiar ou até de odiar.

Devemos cuidar de nosso olhar com carinho, pois ele absorve, conecta-se e revela múltiplas facetas para o bem ou para o mal.

Lugares, que fizeram parte de uma existência, podem ser revistos, mesmo que transformados, porque não perderão a magia que os criou. Aquele olhar de outrora faz parte da nossa memória.

Nesses tempos difíceis, pousemos nosso olhar em imagens que nos passem luz. Que a luminosidade seja a porta de entrada para novas imagens.

Que nossa luz interior possa unir-se a outras luzes que chegam até nós e nos fazem repositório de um campo iluminado onde a magia não se desfaz. Pelo contrário, torna-se mais envolvente, atraindo outros olhares que persistirão para que a LUZ se mantenha e a magia permaneça, pois nós somos aqueles que mantemos a magia do Universo, sempre pulsante. Caberá somente a nós a sua constância: aquela que ilumina a nossa existência e nos faz mais semelhantes diante desta vida terrena.

Cabe, aqui, apontar como reforço, a trova da poetisa Bernadete Saidelles que nos fala desta MAGIA, quando escreve:

Na vida pós-Pandemia

terá solidariedade

se aprenderá a magia

de se ver na Humanidade.


Somente com um novo olhar, sim, aprender-se-á a MAGIA de se ver na Humanidade, não se desfazendo como qualquer mágica, pois esta MAGIA depende de cada um de nós e do TODO: que somos todos nós.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 7 de junho de 2020

COMO ESQUECER!




Aquela mãozinha, que se aninhava no peito buscando proteção, Aninha apenas imagina ter sido sua primeira vez. As outras imagens de suas mãozinhas guarda-as na memória visual, nítidas, pois fazem parte de suas ações ao longo da existência.

O dedinho polegar de sua mão direita, que lhe servia como bico, fazia parte da cena junto a um travesseirinho, em que se agarrava e mantinha próximo ao nariz. Esta cena lhe acompanhou por muitos e muitos anos.

Aquelas mãozinhas, bem mais tarde, percorriam céleres o teclado do instrumento que lhe acompanhou por mais de duas décadas. Eram exercícios e mais exercícios que sempre levavam a um aprimoramento na execução de belas composições.

O giz que gostava de usar com a mãozinha sobre um quadro negro, fingindo ser professora. Aquela cena que, após alguns anos, se tornou realidade como professora em várias escolas.

Aquela mão, já mais crescida, que lembra ter fechado o portão de sua casa pela última vez. A mesma mão que escreveu uma carta de despedida, dando as razões da sua atitude.

Aquelas mãos que, também, executaram tarefas domésticas, necessárias ao viver cotidiano.

Foram aquelas mãos que se uniram, prostradas, em agradecimento a ELE, pedindo força para o enfrentamento dos dias que se seguiram.

Todas essas imagens pertencem a um viver que Aninha considera pleno.

Mãos que aninharam, protegeram e acariciaram o fruto do seu amor. Um amor que se tornou cúmplice de momentos amorosos: próprios daqueles que se amam.

Mãos que, também, abriram portas e janelas para aqueles que, juntos, estavam. E que continua a abri-las para os que se encontram, ainda, ao seu lado.

Mãos que muito cumprimentou, acenou e louvou. E ainda o faz: em companhia ou na solidão dos dias.

Mãos que se despediram com um terno toque sobre quem não mais podia despedir-se.

Mãos que jogam letras sobre a folha em branco, para depois juntá-las em frases que possam transformar-se em imagens aos olhos de quem as lê.

Quantos usos podem ter as mãos!

Mãos daqueles que pesquisam, experenciam fórmulas, produtos, medicamentos. Mãos daqueles que curam, que examinam, que operam, que educam, que redigem, que pintam, que constroem.

Mãos daqueles que oram, que abençoam. Poder-se-ia enumerar, por um longo tempo, tudo aquilo que as mãos oferecem a nós, seus portadores.

Aninha lembrou-se do poema que segue. Ele serve para exemplificar que, até em devaneio, nossas mãos têm serventia.



As mãos nos servem da maneira que nós permitirmos que nossos sentimentos sejam dominantes: sejam eles bons ou maus.

E, quando a súplica não é suficiente para que o bom sentimento aflore, tem-se a barbárie instalada.

Assim, diante daquela cena não mais se poderá respirar como antes: nenhum de nós. Tampouco, calar.

Mãos que não cumpriram a finalidade para a qual foram criadas, porque mataram.

E as outras nem puderam reagir para a própria defesa, porque imobilizadas.

Imagens que pertencem ao nosso mundo e que não se conseguirá esquecê-las. 

COMO ESQUECER!






sábado, 20 de abril de 2019

SELECIONE MELHOR...


Pois da janela vê-se uma árvore, que estende seus galhos, onde repousam alguns bem-te-vis.

No alto de um prédio, mais ao longe, chegam, em dupla, os conhecidos papagaios, comuns no bairro.

Sobre um telhado, bem mais próximo, um atento gato, vez por outra, espreguiça-se.

E o Sol a tudo e a todos ilumina na tarde que desce sobre o horizonte.

Um cachorro late ao longe.

O perfume que exala do pé de lavanda, bem mais próximo, completa o cenário.

É reconfortante sentir-se integrado nestes momentos que se sucedem frequentemente.

Ouvir o canto de um pássaro ou mesmo o silêncio é apaziguador.

Elevar o olhar e perceber, no céu, o movimento lento das nuvens e uma luz brilhante que se despede, pois o seu tempo findou. Quem sabe outra virá logo mais. Ou, talvez, a escuridão total seja o cardápio desta noite que se aproxima.

Um ciclo virtuoso que nos aproxima do nosso viver diário.

Sem esta percepção adulta, uma menininha, tempos atrás, também se encantava com esse acender e apagar de luzes. Tudo “comandado pelo céu” que cobria o pátio da sua infância.

Claro que, no escuro da noite, ficava muito difícil seguir o carreiro daquelas formiguinhas que se sumiam no porão de sua casa.

A seleção de imagens não se fazia presente naquela etapa da vida. Todas as imagens chegavam para acrescentar. Tudo era novo.

E hoje? Será tudo já tão velho, tão conhecido?

Com certeza, não.

Aquilo que encanta, que apazigua e que faz sonhar continua acrescentando, embora tais cenas sejam tão velhas quanto os olhos que hoje deparam-se com outras cenas pouco conhecidas: tão mais novas, tão mais violentas.

É fundamental para um equilíbrio no viver cotidiano que selecionemos as imagens e os cenários que nos cercam.

Tragédias reiteradas, mostradas à exaustão, devem ser vistas com cautela. Debates, em que as manifestações revestem-se de ironia, escárnio e termos chulos, tendem a se tornar desprezíveis por quem se preocupa com aquilo que tais comportamentos suscitam.

Não podemos e não somos alienados.

De forma constante, porém, ficar à mercê, em programas televisivos que se sucedem, de imagens e manifestações verbais que depõem contra os próprios participantes, nada acrescenta ao público que assiste.

Selecionar o que acrescenta, o que irmana, o que promove o conhecimento e o que encanta deve ser, cada vez mais, uma necessidade para que mantenhamos o equilíbrio corpo/mente.

É bom que sejamos um pouco crianças e possamos enxergar, no meio deste turbilhão, aquele carreiro de formigas, todas unidas, levando comida ao ninho, numa típica ação comunitária que a todas beneficiará.

Busquemos este caminho, pois somente ele nos qualificará como seres humanos dotados de pensamento crítico, reflexão e poder de decisão.

Urge que selecionemos aquilo que não ultrapasse o limite do tolerável.

Não podemos transigir com a barbárie que invade os lares pelas telas, espalhadas pelos cômodos e, igualmente, por aquelas outras constantemente manuseadas, a qualquer instante, em qualquer lugar, ao longo dos dias.

Salvemos a nossa capacidade de emocionar-se quando o olhar se perde no azul do céu, quando o som da cachoeira, seguindo seu rumo, nos leva junto ou quando o aperto de mão é o convite para uma nova amizade.

Estas são coisas que acrescentam em qualquer tempo e em qualquer idade.

Afinal, aproveitemos esta época de renovação para revermos nossos propósitos de vida e quais sentimentos, comportamentos e imagens farão parte do nosso dia a dia. 

FELIZ PÁSCOA!







domingo, 3 de fevereiro de 2019

IMAGENS... SENSAÇÕES... LEMBRANÇAS...



Quando pequena, ainda uma menininha, a escada onde se colocava, sob o olhar da mãe zelosa, era fora do pátio. Sua casa ficava abaixo do nível da rua.

Depois, mais grandinha, eram os vãos da cerca que fazia divisa com a casa da melhor amiga de infância.

Bem mais tarde, vieram os campos por onde se deslocava até a escola.

Sabe, hoje, que aprendeu, naquela época, que o olhar sobre as coisas e as gentes é um legado que permanecerá na memória como algo extremamente importante. As imagens deixam marcas durante a nossa caminhada. Elas estão presentes, são pessoais e intransferíveis. São criações próprias em parceria com o outro e com a Natureza.

Bem depois ainda, as manhãs, tarde e noites, cada uma delas, do jeito com que as enfrentamos, foram acumulando mais imagens.

Confesso que as imagens de hoje são bem diferentes das de ontem, mas não menos importantes. Muitas delas, ainda belas. Imagens vividas, sentidas ao vivo e a cores. O real é, ainda, o melhor meio de fixá-las na mente, pois contam com nossa emoção ao vê-las, ao participar delas. Fixam-se na memória para sempre. A nossa história de vida, pelo nosso visual, é plena de significados. E com tantas imagens poderíamos traçar o trajeto que percorremos desde o momento em que percebemos o nosso entorno até, tardiamente, quando resgatamos estas imagens e acrescentamos outras tantas, sempre diferenciadas das anteriores. Por isso, sempre ricas de conteúdo.

Todas as imagens que nos acompanham deixam um legado. Alegria, tristeza, desespero, medo, surpresa, perplexidade, afeto, carinho, amor, paixão e tantos outros sentimentos.

Imagens como este corredor de árvores que me acompanham, há algum tempo, em breve desaparecerá. Um pátio arborizado com muitas árvores cederá lugar para um prédio de apartamentos. Mas esta imagem permanecerá em minha memória visual, assim como faz parte da capa de meu livro, recém-publicado. Ao fundo, acompanho uma árvore plantada no último andar de um prédio. Parece querer alcançar o céu, tamanha a vontade com que cresce.

Bela imagem que permanecerá como uma referência do desafio da Natureza em meio a tantos obstáculos. Um ser vivo se impondo pela grandiosidade e pela admiração que inspira. Tal qual um ser humano, obra do Criador, apresenta-se como um ser ainda sobrevivente neste universo de concreto.

Como se esquecer daquele pátio onde imagens se sucediam, ano após ano, com uma interação sempre pessoal com a Natureza, embora se vivesse na cidade.

O afiador de facas e seu chamado com o apito não mais assusta. A imagem ainda é a mesma. Continua passando pelas ruas do bairro atual.

Já o assobio do catador de latinhas é algo novo. De uns tempos para cá, começou a assobiar. Acho que para tornar seu caminhar mais leve. São imagens que se encontram com as antigas. Todas presentes numa interação ser humano/ser humano. Não há barreiras, nem telas a separar. Tudo é tangível. Esta interação é primordial em algum momento da vida. E a infância é o melhor momento para que isto se sedimente na memória de cada um de nós. Esta interação nos acompanha já na fase adulta. Uma amiga bem próxima revelou que, durante suas viagens, não tem mais registrado no seu celular paisagens pelas quais passa. Tem dado preferência a fixar as imagens através de seus olhos, guardando-as naquele compartimento secreto que aciona quando quer lembrar ou sentir aqueles momentos desfrutados junto à Natureza. Tem pensado, inclusive, em voltar a bater fotografias com sua máquina fotográfica tradicional, revelando após estas imagens. Com certeza, elas não se perderão na nuvem. As imagens fixadas em sua mente serão confirmadas pelas fotos que guardar nos álbuns que possui. E olha que esta afirmação é de uma pessoa jovem.

Hoje, com uma bagagem suficiente de belas imagens parceiras, pergunto como não chocar-se com as recentes imagens de devastação que se abateu sobre um lugar considerado ponto turístico, envolto pelas brumas da região, daí a origem de seu nome.

Como fazer frente a tantas imagens chocantes que nos cercam hoje?

Acredito que o caminho é buscar, no fundo do baú da memória, imagens que nos deem algum alento e que possam fazer frente a cenas tão esvaziadas de amor: amor ao próximo, amor à Natureza.

Quem ainda consegue buscar a beleza que existe no céu estrelado, no sol que acorda ou que se põe, nas nuvens que bailam, na chuva mansa, no voejar dos pássaros, no canto do bem-te-vi? Todo aquele que ainda se importa consigo, com o outro e com a Natureza.

A comunidade aguarda que os poetas, os escritores, os compositores, os músicos instrumentistas, os pintores, os paisagistas, todos aqueles cuja sensibilidade clama pela apreciação do belo: se manifestem. É um pedido de socorro, em forma criativa, que deve chegar aos que administram as cidades, o país.

Se nada for feito pela preservação e respeito à Natureza: todos perecerão.

Estaremos envolvidos pelas brumas que escondem as tragédias, pela devastação de nossa Natureza, pela poluição de nossas fontes hídricas.

Mostremos a importância dos sons que nascem das fontes, da luz que repousa, ao entardecer, no horizonte dos rios, dos animais que compõem a Natureza.

Preservemos estas belas imagens para que nossas crianças também possam tê-las como lembranças de uma infância saudável.

Que seus olhos infantis guardem imagens, sons, cheiros e tantas outras sensações que lhes servirão de referenciais para um caminhar suave sobre a terra em que nasceram. Que esta terra sirva a seus filhos como uma mãe zelosa que cuida para que nada falte ao seu pleno desenvolvimento, tornando-os cidadãos responsáveis.

Tudo para que nossos olhos não se turvem com as lágrimas diante de cenas de devastação que se estão tornando corriqueiras.

Que imagens estamos deixando para olhos infantis que assistiram cenas de tamanho impacto?

Somos seres vivos carentes de outros seres vivos. Sobrevivemos nesta cadeia de interação, bem como perpetuamos a espécie.

Tudo o que avassala os nossos bens, oriundos da mãe Terra, nos torna vulneráveis física e espiritualmente.

Desastres possíveis e alguns previsíveis não podem ser mais tolerados.

É! O tempo dos campos floridos, do cheiro do jasmim no jardim, do leve piu-piu ao longe, do rom-rom na calçada, do grasnar no telhado, do leve som que cai sobre as pedras, abaixo da cachoeira... Tudo isto está fadado a desaparecer? Será?

Acordemos dessa letargia.






Apesar de tudo...

Fixemos o olhar no que ainda resta.

E ainda resta o bastante para que nos empenhemos em sua preservação.

Que as imagens, sensações e lembranças dos que sobreviveram possam ser superadas por novas imagens que se sobreponham e indiquem a possibilidade de construção de novos modelos para a economia da região.

Talvez os olhinhos infantis daquela bela região possam ainda usufruir de novas e belas imagens que façam parte de suas lembranças. Porque lembrar faz parte de nossa caminhada. E é muito bom quando estas lembranças só nos fazem bem.



Ah! A Banda São Sebastião, fundada em 13 de maio de 1929, formada por músicos da região devastada, encontra, nas músicas que continuam a executar, lenitivo para tanto sofrimento que se abateu sobre a cidade. (Depoimento prestado por um de seus músicos ao Fantástico neste domingo, dia 3 de fevereiro)