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quarta-feira, 27 de maio de 2020

GRADES...




Desde quando existem? Desde sempre.

Aninha, porém, não se lembra delas em sua infância e juventude. As janelas que encontrava pelo caminho eram despidas deste sufocante artefato considerado, hoje, de necessária segurança. Grades eram apenas para evitar fugas. E estas existiam onde os encarcerados encontravam-se. Éramos estudantes e trabalhadores que íamos e voltávamos em segurança.

Que diferença!

Casas existiam sem cercas, nem portões. Apenas um gramado, que se confundia com a calçada, enfeitava a entrada. Cercas elétricas? Câmeras de segurança? Para quê?

Hoje, uma grade será obstáculo suficiente?

Dependerá do momento, da circunstância e da ousadia de quem nada mais teme.

Sempre terá sido assim? Não nesta proporção.

Os considerados “maus elementos” eram em número muito menor que os chamados “cidadãos de bem”, que compunham uma fatia maior da sociedade. Atualmente, ao que parece, é exatamente o contrário.

Conceitos e valores foram-se, perderam-se.

Aninha quer acreditar que ainda um expressivo número da população seja cumpridor das leis que regem a sociedade. Isso, porém, apenas se consegue se os valores morais, recebidos na infância e reforçados por uma educação de qualidade, possam fazer-se presente no cotidiano de cada indivíduo. Observa-se, porém, que estes dois fatores estão em decadência.

Grades não são necessárias. A liberdade de quem nasceu livre tem que ser mantida. Uma liberdade integral com a observância de que o outro também detém este direito e de que juntos terão que observar limites. Uma liberdade com responsabilidade pelos atos cometidos é o que se almeja.

A punição começa a existir e, com certeza, deve existir quando as regras da boa convivência deixam de existir.

Hoje, há grades por toda a parte. Há grades, inclusive, no olhar. Olhares que se resguardam atrás de grades de proteção, pois vislumbram um possível assaltante a uma distância suficiente para que se troque de calçada.

A que ponto chegamos!

Aninha observa a diferença do antes para o agora.

Grades é o que deveria ser imposto a todos os malfeitores. Que este confinamento fosse capaz de fazê-los repensar seus atos. Que dele pudessem sair seres melhores. Que fossem acompanhados, durante e após este tempo, por um controle rígido de suas ações no cotidiano, tornando-os, novamente, indivíduos capazes de seguirem livres e úteis à sociedade. Agora, precisaríamos ter um Estado capaz de oferecer condições carcerárias adequadas e que possibilitasse uma reinserção desses indivíduos, como seres úteis, em uma sociedade carente de mão de obra em várias frentes de trabalho.

Utopia? Em nossa sociedade, ainda subdesenvolvida, a resposta parece ser afirmativa.

Não podemos, porém, gradear nossos olhos ao momento atual. Precisamos enxergar além dessas grades que nos dificultam o olhar. As reais que nos impedem, as virtuais que nos direcionam, nos manipulam e dominam, por vezes, e as pessoais que nos atemorizam e nos forçam a um confinamento emocional, tolhendo nossa capacidade de alçar voo, mesmo que sem rumo, em busca da realização pessoal que, em última análise, traz resultados positivos para a sociedade como um todo.

Aninha, agora, lembrou-se de um poema que bem representa esta capacidade de transpor a grade da indecisão.

Talvez, esta seja mais simples de transpor porque depende apenas de nós. Não sabe se assim é. Sabe, porém, que, quando transposta, traz uma recompensa por demais benéfica àquele que se atreveu a transpô-la.

Agora, o bom é que o nosso amigo Sol não se intimida com grades e entra janela adentro, desde que a mantenhamos aberta. E com ele tudo fica mais fácil!








domingo, 10 de maio de 2020

AQUELA NUVEM...

Sempre foi inspiração. A cada paisagem desenhada, lá, estava ela. Era branquinha, nunca cinzenta e ameaçadora. Enfeitava o céu que cobria aquela paisagem de montes, em que o sol ao fundo também aparecia, despejando alegria para aqueles olhos infantis sedentos de imagens da natureza.

Assim, Belinha acostumou-se a ver naquele branco um repouso, mesmo quando aquela nuvem, levemente, seguia um rumo indefinido. Ao seu olhar aquela cor trazia tranquilidade. Ainda não sabia que era paz o que sentia.

Bem depois, passou a entender o que ela significava. Uma cor limpa que lembrava as cortinas que a mãe sempre mantinha alvas, porque, por serem brancas, qualquer sujeirinha, como costumava dizer, apareceria.

Muito tempo depois, soube que alguns entendidos diziam ser a soma de todas as cores. Sobre isto nunca quis adentrar.

O que percebe, ainda hoje, é que a mãe tinha razão. Essa cor exige limpeza. E disto todos nós precisamos. Veio à tona essa percepção da importância dessa cor em meio a este surto global que a todos atinge.

Os nossos profissionais da saúde têm nesta cor as suas vestimentas de trabalho. Todo o complexo hospitalar prima por apresentar o branco como uma constante em suas dependências.

Belinha, agora, lembrou-se das pombas que circundavam o pátio de sua infância. Os cuidados verbais da mãe com relação àquela pombinha branca que aparecia, vez por outra, entre as demais. Dizia que devíamos ter muito cuidado com ela, pois ela representava a paz. À época, não entendia muito bem isso, mas cumpria a orientação dada.

Símbolos que nos acompanham desde o abrir de olhos.

Se há paz é porque há harmonia.

Que tempos os nossos! Estamos carentes de ambas.

Sobre o que nos cerca, dizer o quê?

Um arco-íris representaria, nesta hora, um exemplo do que é convivência de todas as cores. Um espetáculo que deixou Belinha, quando visto pela primeira vez, extasiada.

Assim, pudéssemos nós, hoje, transpondo para a espécie humana, juntar raças, cores, vivências e estilos de vida num grande e deliberado esforço global de união. Seríamos fortes para enfrentar qualquer nova epidemia.

Belinha ainda permanece esperançosa de que esse dia chegará.

Pela necessidade de autossobrevivência? Pode ser.

Pela conscientização, quem sabe, de que não passamos de uma nuvem passageira que com o tempo se vai, conforme diz a letra daquela bela canção.

Aos olhos de Belinha aquela nuvem branca ainda mantém a sua magia e representa, em movimento, sua jornada rumo ao desconhecido.

Hoje, porém, representa bem mais. Através daquela cor branca, que atraía o olhar daquela menina de outrora, Belinha cumprimenta todos os profissionais envolvidos com a saúde da população.

Mais ainda:

Através dela, aspiramos que a paz nos acompanhe nesta caminhada. E que, diferentemente da nuvem branquinha no céu de Belinha, com repentina aparição e fuga contínua, essa cor, que simboliza a paz, permaneça nos céus de todos os continentes. Sempre, deslocando-se para outros céus, todos conhecidos, todos carentes de sua passagem e felizes pelo espetáculo que é oferecido àqueles que, ainda, acompanham essas maravilhas da Natureza.

Ah! A Terra e seus habitantes agradecem por esta conscientização global de porque estamos aqui.

Para nascer, viver, conviver em harmonia e saudar esta Mãe que nos acolhe, talvez reiteradamente, por um tempo indefinido, assim como o trajeto daquela nuvenzinha que ia e voltava.

Seria a mesma nuvenzinha?

Seria outra?

Belinha ainda busca esta resposta.





 Somewhere Over The Rainbown – cantado por Israel Kamakawiwo’Ole












domingo, 3 de maio de 2020

JANELAS...


Aquelas enfeitadas por hortênsias que quase alcançavam os braços de quem se debruçava para ver a lua, despontando ao anoitecer. Onde estarão?

Aquelas que não conheciam as grades e podiam ser abertas e deixadas escancaradas para que o vento entrasse e, quem sabe, até um sabiá ensaiasse um voo e um canto bem próximo de olhos curiosos que ali estavam sempre à espera. Onde estarão?

E outras tantas que, abertas, esperavam aquele olhar indiscreto, mas aguardado, que buscava aquele outro olhar promissor. Onde estarão?

Aquelas que não temiam o vento e nem a chuva, porque alguém delas cuidava para mantê-las resguardadas. Onde estarão?

Ah! Janelas da infância, da adolescência...

Aquela outra que fazia companhia à menininha que aguardava a chegada do avô, tão esperado. Onde estará?

Aquela que aguardava, ansiosamente, junto à mãe zelosa, a volta da menina, aluna de escola não tão próxima. Onde estará?

Será que não mais existirão porque o tempo as desfez?

Será que a lembrança de hoje é apenas pura imaginação?

Não, a lembrança é tão audível quanto o silêncio. E ele é audível tanto quanto a liberdade de abrir-se, de par em par, para uma realidade que não é pura imaginação.

Coitadas delas!

Hoje, apenas servem para que a luz entre. Por vezes, o ar. Paira, porém, sobre elas, sem solução, as grades que as impedem de abrir-se ao mundo como antigamente.

O mundo está lá fora. O que percebem, porém, é que o motivo de ali estarem restringiu-se apenas ao cerceamento da liberdade de receberem braços que se apoiavam nelas para conversarem, namorarem ou, simplesmente, sonharem com mundos distantes que a imaginação costumava buscar.

Coitadas! Percebem o motivo que as fez menos românticas. O medo da violência que grassa é o principal motivo de tamanha tristeza para elas.

Nos últimos dias, porém, sentiram-se menos esquecidas.

Antes, seus senhores saíam à rua para sentirem-se mais libertos. Afinal, saíam apenas para desfrutar de uma praça próxima.

Agora, não se sabe por quanto tempo, sentem-se mais partícipes da vida de seus senhores. Afinal, elas têm percebido a permanência de seus donos, por mais tempo, dentro dos lares.

Elas, as grades, continuam lá. Abertas, porém, para que braços, novamente, se apoiem, conversem entre si, sintam o sol batendo na pele que, dizem, traz benefícios.

E à noite?

Bem, à noite, o ar fresco, a sombra do luar sobre a morada, o beijo repentino, pode até empolgar o vizinho ao lado.

Grades que se abrem. Janelas que respiram liberdade. Seres prontos para repensarem sonhos, atitudes, modos de convivência.

Quanto tempo durará essa imersão?

Ninguém sabe.

As janelas, despidas das grades por momentos durante o dia, por ora, agradecem.

E a menininha de outrora?

Igualmente, agradece, pois este tempo possibilitou rever aquele outro, já bem distante.

E nada melhor do que o silêncio e uma pausa, no tempo de tanta correria, para que mantenhamos a mente iluminada para as coisas que nos fazem bem, que acrescentam e que reforçam a humanidade que há em cada um de nós. Afinal, somos seres humanos e aqui estamos para conviver em harmonia. É o que se espera que esta pausa traga após findar-se.

Ah! Ia esquecendo...

E as janelas virtuais?

Jamais ultrapassarão as reais. Competirão, com certeza. Perderão este embate, pois o tempo dirá que a exaustão, a confusão e o distanciamento, entre os seres humanos, foram os vilões que as abateram.

Seres humanos necessitam de outros seres humanos presentes: ao toque, ao olhar.

As janelas agradecem a quarentena. Elas têm sentido o toque de seus donos, pois delas se usam ao apoiarem-se e, dali, lançarem a imaginação para bem longe, num tempo futuro que se imagina melhor para a humanidade.








domingo, 13 de outubro de 2019

MAIS LONGE? OU... MAIS PERTO?


O que busca o nosso olhar?

Os movimentos do corpo podem até ser rápidos, porém o olhar é seletivo e se detém naquilo que lhe é mais familiar. Viveu pouco, mas já tem referenciais que prendem a sua atenção.

Na outra extremidade, temos outro olhar, também mais seletivo, mais necessitado do que já observou, viveu e sedimentou em uma lembrança que lhe acompanha, trazendo momentos de paz interior.

O olhar que busca, atrás da cortina, o presente prometido é o mesmo olhar, acredito, que já descobriu o que lá existia, mas que, mais uma vez, quer lembrar a magia daquele momento e abraça o ursinho que enfeita a sua cama. Ele é o que seu olhar reteve de mais puro naquele tempo passado. E uns versos surgem no embalo desta lembrança. 


Hoje, passados tantos anos, há como que uma volta na postura do que busca este sábio olhar.

Tornou-se menos saltitante. Busca o que de menos efêmero existe, pois só assim poderá estender seu olhar por mais tempo sobre aquilo que representa um maior tempo de existência. Pois, estamos a falar do tempo que passou àquele que ocupa o seu olhar agora.

O tempo, que intermediou estes dois momentos, foi extremamente diversificado, dividido, sobrecarregado a tal ponto que o olhar foi incapaz de selecionar a necessária paz interior, tal a profusão de focos diferenciados.

A resposta à pergunta inicial traz a certeza que somos, com o passar dos anos, cada vez mais semelhantes ao que fomos quando o nosso olhar era tão seletivo ao ponto de apenas buscar o seio materno.

A idade traz a sabedoria com o acréscimo de um olhar mais pacífico, mais seletivo, menos célere: mais infantil no sentido da sua busca pelo olhar do outro, como uma fonte que alimenta.

Acredito que o próprio tempo tenha possibilitado esta volta no tempo que nos permite voar, não contra o tempo, mas de forma mágica através dos seres, dos fatos, dos momentos guardados na lembrança que nos aproximam da criança que fomos.

Hoje, estamos mais perto do que fomos ontem.

Seria uma volta no tempo que robustece a ideia de que somos eternos. Apenas, para não perder a graça, voltamos de tempos em tempos para curtir novos tempos, pois gostamos de exercer essa constante proximidade da criança com alguém “mais experiente”.

Voltar a ter um olhar de criança é apaziguador.

Aliás, saudemos nossa criança interior neste Dia das Crianças!

Por que não?