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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

SEM SINAL... SERÁ?


Apontam para o alto. Espalham-se pelos telhados. Todos os tamanhos e tipos são vistos. Por vezes, não captam. Mas o bem-te-vi canta ao lado, empoleirado próximo. Faz coro com outro bem-te-vi que responde ao sinal. De repente, outros cantos respondem aos bem-te-vis. São outros pássaros cantores que, alvoroçados, iniciam as suas próprias conversas sonoras. Todos em perfeita harmonia. Todos sinalizando uma comunicação perfeita. Todos emitindo e recebendo sinais, numa conversa que tem hora para iniciar e para acabar, pois existe um tempo para tudo: não só para conversar, mas, também, para calar.

Que beleza ouvi-los! São perfeitos neste mister. Não precisam de forças alheias a eles próprios. O amanhecer e o cair da noite são sinais suficientes para que se inicie uma conversa rotineira. Esta é uma observação sobre os pássaros “cantores”, habitantes das grandes cidades. São seres independentes que se equilibram num parapeito qualquer, num vão estreito de uma marquise, emitindo sinais a outros de sua espécie sem dificuldade alguma.

inveja perceber que somos, diferentemente deles, tão pobres neste diálogo saudável com os de nossa espécie.

O nosso “sem sinal”, atualmente, inviabiliza praticamente tudo. Ele impede de nos atualizarmos com o mundo. E o que é pior: com o vizinho que mora ao lado, no mesmo bairro. Está ficando difícil viver “sem sinal”. Quando isto ocorre, todos ficam como baratas tontas, sem saber como andam as coisas.

Como andam as coisas? Sem sinal, não somos mais nada. Com sinal, somos mais um com sinal. Apenas isto.

Mas somos tantos! Somos milhões! Melhor seria se fôssemos menos. Que estultice. Ops! Que vocábulo mais em desuso!

Somos milhões porque assim deve ser. Temos que perpetuar a espécie. Afinal, quanto mais gente estiver ligada em termos globais, melhor para o planeta e para seus habitantes.

Desde que haja sinal, é claro. Mas ele se vai com tanta facilidade, deixando multidões perdidas, desacostumadas ao abraço amigo e solidário do vizinho ao lado.

Aliás, quem é o vizinho ao lado?

Quanto mais sinal, mais conexão com o mundo. E o vizinho ao lado?

A informação chega, em avalanche, de todos os cantos do globo.

É avassaladora a sua chegada até nós. É um verdadeiro tsunami que não nos permite decodificar devidamente todo o conteúdo de que se compõem tais informações. Em todo o caso, o sinal cumpriu o seu papel: permitiu o tsunami invadir todos os cantos do globo. O pior é que esta enxurrada é formada por notícias pouco amenas e saudáveis. Como ficar imune a tantos problemas!

Ao que tudo indica, nos últimos tempos, não se vislumbra sinal algum para o enfrentamento de questões que pipocam pelo globo afora. Aliás, o sinal anda fraco para estas questões.

Será que isto é sinal de que andamos perdendo batalhas e tornando-nos mais fragilizados frente a este mar de catástrofes, insanidades, tragédias humanas, corrupção, malfeitos de todo o tipo?

Sinal dos tempos, dirão muitos. Que tempos? Não deveríamos nos ter aprimorado? Afinal, o sinal que nos possibilita a informação de todos os cantos do mundo, serve pra quê? Só para nos informar?

Quem dá as cartas continua sendo aquela matilha de “iluminados” que transita pelas esferas do poder avassalador da ambição? Ou seremos todos cúmplices, mesmo aqueles de fato “iluminados” pelo conhecimento, mas que se omitem ou se rendem?

Agora, há quem, mesmo com o sinal, opte pelo “off-line”.

Será uma boa prática?

É possível que signifique, num certo sentido, “poder”: aquele que isola, que não se compromete, que não se importa com o outro.

Pode ser, também, aquele momento de trégua para voltar os olhos para o bem-te-vi pousado sobre o poste de luz.

Pode ser a necessidade do silêncio, sinal que alimenta o nosso interior e nos obriga a refletir sobre a importância de nós próprios, dos que nos cercam e da nossa caminhada diária. Ela, que independe de sinal.

Com esta reflexão, talvez, consigamos nos assemelhar ao bem-te-vi, aquele que responde ao sinal do chamado do companheiro de espécie. Ele é o próprio sinal. Sejamos como ele. Exerçamos a capacidade que nos distingue dos demais seres vivos, inclusive do belo bem-te-vi. Que o nosso sinal seja a fala, a comunicação interpessoal, o olhar, o abraço, o bom-dia, a solidariedade. Que a tão útil informação seja digerida (decodificada) e transformada em ingredientes para ações conjuntas. Que o conhecimento se espalhe como um sinal de educação, no sentido lato, que a todos ilumina e que serve de transformação para tempos, aparentemente, tão obscuros.

Este é, com certeza, o único sinal que nunca se vai, que nunca se perde nas nuvens.

E quem sabe com ele consigamos evitar os males que nos afligem, numa escala diminuta, mas que se pode propagar como as ondas que se espalham mar afora.



Esta imagem, como sinal, vale a pena.

Qualquer outro será, apenas, acessório.





Sinal dos Tempos - Heróis da Resistência











segunda-feira, 13 de julho de 2015

EM BUSCA DA LUZ VERDADEIRA... ESSE É O PLANO


Com a mãozinha na beira do poço, espia lá pra dentro, pra o escuro. Nada enxerga. Nem consegue ver onde é o fundo.

A imaginação continua. E se fosse o contrário? E se estivesse lá embaixo, no escuro? Ela, a luz, acenaria lá de cima, da beira, como a indicar uma rota de fuga. A sensação seria diferente.

Quem, naquela idade, gostaria de penetrar no escuro sem saber aonde iria dar aquele caminho desconhecido.

A luz, por outro lado, por mais tênue que seja e por menor o ponto iluminado, sempre indicaria uma possibilidade de encontro com algo mais promissor do que a escuridão absoluta.

Visões infantis transformadas em pensamentos amadurecidos pelo tempo.

A luz ilumina e nos afeta com a intensidade em que é projetada ou com a intensidade que nos permitimos enxergá-la.

A luz branca do poste, que ilumina o chão, será menos ou mais intensa dependendo do olhar de quem observa e, principalmente, se este olhar enxergar aquele que jaz envolto em trapos no meio-fio da calçada. Será possível colocar um pouco mais de luz neste vulto?

Se a conscientização fizer parceria com a tomada de atitude, valerá um olhar mais demorado porque ele indicará uma luz a perseguir-se: exatamente como aquela que conduz da escuridão do fundo do poço à luz que emana da sua beira.

Uma luz é o que se persegue.

Que venha do sol que ilumina o dia.

Que venha da lua que ilumina a noite.

Que venha da justiça, da igualdade e da fraternidade que iluminam a sociedade.

Que as sombras não nos pareçam reais, pois não o são. São apenas sombras.

A luz que brilha fora da caverna é a que nos deve guiar. O olhar contra a parede e a iluminação a nós imposta tem que ser subvertida. A luz que se busca é aquela capaz de abrir as mentes e tocar os corações.

A evolução do ser humano só acontecerá quando as condições para tal forem conscientizadas e buscadas por ele próprio. Pela conscientização da importância de si mesmo como espécie.

É um trabalho árduo que pressupõe a capacidade de percepção do que nos cerca: das artimanhas em que estamos envolvidos.

A globalização, até certo ponto, facilita esta conscientização, pois há inúmeros exemplos, em diversos segmentos de sociedades tão diferenciadas, que possibilitam uma observação geral do que já deu errado, do que está dando errado ou do que ainda parece ter salvação.

Tudo indica que estamos a viver de imagens fabricadas e que passamos a concebê-las como realidades. As telas transformaram-se em paredes onde depositamos o olhar opaco, já sem luz, porque a luz verdadeira está lá fora. Está no parque, nas calçadas, nos viadutos, nos pátios, no convívio, no olhar do outro.

Na caverna de Platão e mesmo na de Saramago, mais próxima a nós, temos uma luz irreal, uma luz que não nos ilumina, que não deveria fazer parte de nossa caminhada. 

A verdadeira luz é outra.

Buscá-la: deve ser o plano individual.

Expandi-la: o plano universal.

Senti-la: aquilo que nos fará evoluir.


Uma luz em que o espectro apresente todas as cores, todos os matizes, todas as variantes: assim como são constituídos os mais diversos seres humanos.

Saiamos em busca. Para tanto, exige-se muito esforço.

Esse é o plano.

Afinal, estamos a falar da nossa sobrevivência como espécie.

Não valerá a pena o esforço?



De resto, façamos como escreveu Mario Quintana: 


Ou como Nelson Cavaquinho e Elcio Soares que souberam transpor esta mesma luz na composição Juízo Final, música cantada pelo próprio Nelson, com imagens resgatadas de apresentações do artista.

Que esta luz vingue para a nossa salvação como espécie.




Nelson Cavaquinho – Juízo Final 








terça-feira, 12 de março de 2013












É TEMPO DEMAIS!

Passaram-se séculos.


Um dia, o chefe da família retornou do trabalho e encontrou: uma mesa posta e uma carta.

Seu reinado acabara.

Ana, por alguns anos, ainda ouviria aquela voz que ecoava pelos labirintos de seus sonhos. Ou melhor, de seus pesadelos: sombrios, arroxeados, a lembrar as marcas deixadas em sua mãe.

                                                                             (trecho final do conto O CHEFE DA FAMÍLIA, de minha autoria)



Primeiras, ainda tímidas, reações das mulheres ao jugo machista. E já estávamos no último quartel do século XX, em pleno país chamado Brasil. E isso continuava acontecendo.

E isso continua acontecendo.

Como comemorar uma data que, em tese, não deveria existir?

Por acaso comemora-se o Dia Internacional do Homem? Ou o Dia do Homem?


A tragédia da época, ocorrida em Nova Iorque, em 08/03/1857, serviu como motivo para fixação de uma data que relembrasse o sacrifício das trabalhadoras mortas naquele incêndio, em número de 130, que não se pode afirmar tenha sido premeditado. Há quem afirme que tenha havido confusão com outra tragédia, ocorrida na fábrica Triangle Shirtwaist Company, em 25/03/1911, na mesma cidade, onde morreram, também em um incêndio, 150 mulheres. Essa seria efetivamente a tragédia que teria dado origem ao Dia Internacional da Mulher.

O fato é que a origem, na verdade, remete a greves de trabalhadoras de fábricas têxteis, onde a violência da repressão policial aos atos era desmedida. Mulheres que, à época, reivindicavam melhorias, pois trabalhavam até 16 horas diárias com salários em até 60% inferiores aos dos homens, além de sofrerem agressões físicas e sexuais.

A verdade é que, ainda hoje, tenta se minimizar os efeitos destrutivos de relações baseadas no poder de mando do homem sobre a mulher.

Só bem recentemente, as reações observadas são dignas de mudanças efetivas.

Mas lá se vão séculos. E estamos falando das populações que vivem no Ocidente.

E as pobres, infelizes, que “sobrevivem” às crueldades perpetradas contra elas em terras do Oriente Médio?

E que ninguém se levante para invocar o aspecto cultural como fator abonatório para tais atrocidades sabidamente praticadas contra mulheres.

Por quantos séculos ainda persistirão atos de extrema violência contra aquelas mulheres? Será justo “espiar” o mundo através de dois buracos, abertos no tecido, onde um par de olhos busca o inexplicável?

Do lado de cá, os avanços têm sido significativos em favor dos direitos fundamentais da pessoa, incluindo-se as mulheres, parte quantitativamente maior, porém mais negligenciada em seus direitos.

Por aqui, no Rio Grande do Sul, apenas em novembro de 1973 é nomeada a 1ª mulher, a Dra. Maria Berenice Dias, para o cargo de Juíza, ingressando no Poder Judiciário do Estado. Exatamente após 100 anos da criação do Poder Judiciário, que teve seu início datado de 03/02/1874, é que pôde uma mulher ter acesso à magistratura, conseguindo adentrar nessa esfera de Poder.

Até então, o Judiciário não homologava inscrição de mulheres para as provas da magistratura.

Somente após denúncia, junto à imprensa, da discriminação para com as mulheres candidatas, foi que o Tribunal julgou a questão favoravelmente. Porém, como as provas eram identificadas, as concorrentes às vagas exigiram que fossem retirados seus nomes dos documentos. De um número de 60 mulheres, naquele primeiro concurso, apenas 04 lograram êxito, passando no concurso para juiz.

Diante de tantos fatos entristecedores e de conquistas arduamente conseguidas, acredita-se que não haja muito a comemorar.

Pelo contrário, há ainda muita batalha pela frente.

Coragem, Mulheres!



Mas isso não impede que mantenhamos nossa sensibilidade à flor da pele, nosso olhar amoroso ao ser envolto em panos, fruto do nosso ventre, e que sigamos em frente, embora tendo ao lado aquele que escolhermos para um convívio mais íntimo, tão íntimo quanto o choro derramado em momentos de solidão.

Mas, ainda assim, uma mulher com a individualidade preservada, capaz de novos voos, com os limites próprios de uma sociedade fraterna para com todos os gêneros da espécie.





Maria, Maria – Milton Nascimento
HIMNO A LA MUJER