segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013



Ó ABRE-ALAS...

A época é oportuna. A hora é agora. Aproveite os próximos dias para exercitar essa necessidade que nos mantém mais vibrantes, mais esperançosos.

Abra as gavetas da alma, retire os trapos, sim, desde que sejam bem coloridos. Desnude-se da tristeza, vista-se por fora e por dentro com o que de há muito estava jogado no canto. Transforme-se num outro personagem. Escale muros, rompa paredes e se jogue de corpo inteiro, num mundo do faz de conta. E faça de conta que é bom de samba no pezinho. Se não conseguir, saracoteie mesmo assim.

Permita-se esse devaneio. Inspire-se na alegria contagiante dos passistas, dos ritmistas, dos puxadores de samba, da escola como um todo.

Não importa onde você esteja: se em casa ou na avenida. Introjete essa alegria contagiante e viva, por esses poucos dias, apartado da tristeza. O Carnaval serve para isso. São poucos dias. É acessível a todos e vale como uma terapia. Muito cuidado, é claro, para não exagerar. Tudo o que é em excesso prejudica.

O grande risco é tornar-se mais alienado do que já se é normalmente. Se a imersão for muito profunda, levará um tempão para a recuperação. E aí já teremos atingido o próximo Carnaval.

Mas como não sucumbir à necessidade de sonhar?

Quando a sociedade civil organizada parece não encontrar mais rumo, nem seus cidadãos, aqueles que efetivamente constroem o país com o seu trabalho honrado, mais amparo no atendimento às necessidades básicas de saúde, educação e segurança, o que esperar dos outros 361 dias?

Aproveitemos do Carnaval, pelo menos, a alegria, a capacidade de sonhar, a capacidade de transformar sucatas em verdadeiros castelos, carregados de sonhos e de esperanças.

Mas que não herdemos apenas o sonho pelo sonho, que nos alimenta a alma, mas não nossas famílias, tampouco nossa cidadania.

Abramos bem os olhos para o rumo que as coisas estão a tomar.

Que a zona de dispersão, que acompanha toda escola de samba, não espelhe o comportamento do coletivo. Porque nós somos o coletivo e devemos estar unidos em busca de soluções para os graves problemas que afligem nossa sociedade.

Parodiando o refrão da antiga marchinha carnavalesca que diz:

“Ó abre-alas que eu quero passar”, digamos:


Ó ABRE-ALAS QUE EU QUERO SONHAR

Ó ABRE-ALAS QUE EU PRECISO SONHAR COM UM NOVO TEMPO





 
 
 
 
 
Ó Abre-Alas(Chiquinha Gonzaga) - Leandro Braga / Marlene, Emilinha e Angela Maria
 
 
 
 
 
 
 
 

 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013







DE RAPOSAS, GRAXAINS E...
                                                BUGIOS, TAMBÉM!


Todos, ao longo do tempo, foram se aprimorando. Faz parte da evolução. Foram se adaptando ao meio, adquirindo novos hábitos, especializando-se na arte da sobrevivência, nos mecanismos de defesa e, claro, também nos de ataque.

A semelhança dos dois primeiros citados é grande, tanto no aspecto físico quanto comportamental. E a mais visível é a esperteza no agir, ludibriando, por vezes, o oponente, sem esse nem dar-se conta do ocorrido.

A primeira citada ronda o ambiente, analisa as condições do local, a almejada presa, as possíveis rotas de fuga sem deixar rastros, de preferência. Tudo bem calculado.

O segundo é tão esperto que, quando se sente ameaçado, um de seus truques é fingir-se de morto.

Quanto ao último, o bugio, daqui a um pouco eu conto.

Esopo e suas fábulas, tão conhecidas, já demonstravam que raposa é raposa desde sempre. Imagina, hoje, o que Esopo teria que sofisticar para bem expressar o aprimoramento que a espécie, no quesito esperteza, apresentou de lá para cá.

Ah, esqueci de dizer que assim como alguns homens, hoje, transpuseram para seus animais de estimação suas características humanas, num trato quase filial, há vários outros homens que adotaram características bem próprias de alguns animais. Aliás, estão cada vez mais necessitados uns dos outros. Há até quem adote mais de uma característica animal para exercer sua racionalidade com maior eficiência, vestindo-se de cordeiro para atacar de lobo.

Então, dessa maneira, temos, hoje, animais quase gente e gente quase animais, de tão parecidos no comportamento.

E aqui animal não se refere a ser estúpido, grosseiro, mal-educado, quase irracional. Estamos, aqui, a falar da raposa, animal extremamente ladino e esperto.

Claro que Esopo, à época, não poderia imaginar o aparecimento de um animal que se pareceria com a raposa: o graxaim. Aliás, isso é coisa para subdesenvolvido, que tem que aprender muito ainda com as raposas da vida.

Agora, quanto ao bugio, nem te conto!

O bicho chegou à conclusão que a comida está escasseando, que ele está quase em extinção, então resolveu o quê? Deixar de ser totalmente herbívoro. E hoje está tomando o lugar da raposa e entrando no galinheiro para roubar, sabem o quê? Ovos.
Segundo o vídeo, logo abaixo exposto, o bicho transformou-se em carnívoro. É o que também atesta a letra da música que segue após.

Vejam só! O bugio, animal tão bem adaptado ao nosso pago, tão antigo entre nós, nome, inclusive, do mais genuíno ritmo sul-rio-grandense, também não mais honra a sua espécie. Virou um carnívoro. Esperto, é claro, sempre foi. Agora está comendo de tudo.

Isso é inacreditável! Está tudo dominado!


Volta, Esopo, e refaz a fábula, porque esse bugio está dando de goleada na raposa.
E o graxaim? Coitado, não assusta ninguém. Apenas o cheiro é que, por vezes, pode incomodar. Mas a gente confia. Qualquer dia, o bicho vai surpreender todo mundo com num novo cheiro, mais politicamente correto.

A evolução está correndo rápida e solta pelo Brasil.

Bugios-Pretos também comem ovos


 


Os Serranos – Bugio do Chico – DVD ao vivo na Expointer


Fábula da Raposa e o Bode – Esopo – (Grécia – séc. VI AC) – texto extraído do livro Seleta em Prosa e Verso, de Alfredo Clemente Pinto, 56ª Edição (1982), obra rara, editada pela Martins Livreiro/Porto Alegre










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Comentário via Facebook:

Scyla Bertoja escreveu: 
RAPOSAS..." inteligente e aguda s/"evolução" de nosso universo" BR. Brava, Soninha! E o que dizer da riqueza metafórica com que formaste o nosso desfile/BR durante o reinado de Momo? Mas depois da FOLIA, lágrimas! Obrigada pelas "aulas". Bjs








quarta-feira, 30 de janeiro de 2013







APESAR DE TUDO...

Diante da crônica anterior, imediatamente escrita antes da tragédia que se abateu sobre todas as famílias que perderam seus entes queridos, e que comoveu a todos os que assistiram às cenas, veiculadas exaustivamente pelos meios de comunicação, como ainda buscar belas imagens para olhos tão dolorosamente fustigados, impactados com cenas absolutamente chocantes?

Nada mais parece interessar. O olhar dirigido ao alto não mais acompanha as nuvens no seu trajeto (como na crônica passada), mas se perde no infinito, turvo pelas lágrimas, e incapaz de captar o belo.

A lua, por sua vez, está sumida. Desapareceu, escondeu-se, constrangida por tanta tristeza. Sua beleza restou ofuscada, não cabendo expor-se, por ora, ao vazio dos olhares. Sua beleza cedeu lugar à majestosa dor que a todos tomou de refém.

Tudo, hoje, é só tristeza.

 
 

Chopin – Tristesse  
 
 
Imagens da tragédia, nesse caso, absolutamente necessárias para que toda a sociedade indague sobre as responsabilidades e o Poder Público investigue, à exaustão, as causas que levaram a uma tragédia dessa proporção. Isso espera-se que seja feito. Que a legislação se aprimore e que a fiscalização se proceda com o efetivo rigor, para que tragédias desse tipo não mais ocorram.

Isso é o movimento externo às coisas e às pessoas.

Mas, o que dizer da avalanche de sentimentos que devem estar a cercar as mães, pais, irmãos, avós e todos os que mantinham laços de consanguinidade ou de grande proximidade com as vítimas?

Esses sentimentos permitirão que, após tão doloroso desenlace, ainda se possa ver o belo em alguma coisa?

Com certeza, o tempo será o único caminho, ele será o grande aliado dos familiares para que a imagem do ente querido, após doloroso rescaldo, que poderá durar um longo tempo, possa retornar, novamente, fixando-se naquilo que restou na lembrança: o brilho nos olhos, o sorriso habitual, os cabelos em desalinho, os jeitos e manias.

Só então será possível buscar nessas imagens, guardadas na retina, a paz de espírito.

Tal como as nuvens e a Lua, tão distantes e tão presentes no dia a dia, possa a imagem de seu ente querido aproximar seus sofridos familiares do Divino, apascentando-lhes o espírito  para buscarem entender os desígnios de Deus.



Que a paz e a alegria retornem um dia, abrindo frestas para a felicidade.

Apesar de tudo...




Jesus, Alegria dos Homens – Johann Sebastian Bach