segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O TAL DO SOM...



Passaram-se mais de três bilhões de anos de existência e o tal cometa encontra-se orbitando no espaço. Será ele mesmo ainda? Segundo estudos, ele se move a 135 km por hora e tem enviado informações há uma distância de 500 milhões de km da Terra. Coisa pouca para quem está por aqui girando há aproximadamente 4,56 bilhões de anos: idade do nosso Planeta.

Números astronômicos que dificultam o nosso entendimento de quem somos, de onde viemos e aonde vamos.

A recente Missão Rosetta, nome dado à sonda numa menção à Pedra da Rosetta, descoberta em 1799, que ajudou na compreensão dos hieróglifos egípcios, fez pousar o módulo Philae no tal cometa Churyumov-Gerasimenko, nome dado em homenagem aos seus descobridores no ano de 1969.

Lançada a Rosetta da Guiana Francesa, em dois de março de 2004, levou ela 10 anos para aterrissar no referido cometa. Aliás, o escolhido não era bem o atual cometa. Devido, porém, a contratempos enfrentados pela Rosetta, o cometa da hora passou a ser aquele de nome complicado, já referido.

Pois parece que o Egito, com toda a sua mística assentada em sinais de dificílima compreensão, serviu, igualmente, de inspiração para o nome dado ao módulo de aterrissagem Philae, nome de uma ilha do Rio Nilo.

A Missão Rosetta faz parte do projeto de cooperação entre a NASA (Agência Espacial Americana) e a ESA (Agência Espacial Europeia) com o fim de estudar a composição, a morfologia, as propriedades físicas e outros que tais do tal cometa. Tudo para tentar descobrir as origens dos cometas e suas correlações com o Sistema Solar.

Anos de estudos, um custo incalculável no montante final de dinheiro direcionado, no último século, para pesquisas de corpos que compõem o Sistema Solar, em detrimento de pesquisas que assegurem a nós todos, moradores deste Planeta, melhores condições de saúde, por exemplo.

Nada deveria ser mais importante do que a trajetória de vida do ser humano sobre este Planeta. Seriam necessários estudos aprofundados sobre as doenças que afligem o homem, bem como sobre as condições socioambientais fornecidas às populações indistintamente. Uma efetiva busca de soluções aos problemas de energia e água, oferecimento de uma educação aprimorada a todos, assim como uma conscientização de que estamos todos no mesmo barco, somos todos irmãos e que temos o direito de alongarmos o tempo de permanência, com qualidade de vida, neste Planeta. Isto seria o desejável.


Agora, quanto à Missão Rosetta, e para deixar o projeto ainda mais questionável, há quem afirme que o referido cometa foi criado por alienígenas como um aparelho de comunicação. Daí o tal do som emitido, não se sabe bem de onde, porém, detectado (dizem) pela Philae.

Talvez, depois de mais alguns trilhões de dólares e mais 30 anos, descubram o TAO do som, isto é, o caminho que leva até a origem do tal som. Por enquanto, o ruído é da própria sonda: pura estática. 

Religião e Ciência são caminhantes que se olham com reservas. A Religião porque tem certeza de suas verdades e não necessita de sinfonias para louvar a presença de Deus. E a Ciência porque vive de questionamentos eternos, produto da fatia de seres humanos pensantes que só buscam comprovações e labutam na dúvida ad aeternum.

Enquanto isso, nós temos sete bilhões de seres humanos para alimentar e uma produção de alimentos que depende das variações climáticas, cada vez mais severas. E um aumento expressivo de CO2 que aquece de forma drástica o Planeta. Lembremos que não há fronteiras na atmosfera.

A par das centenas de necessidades e problemas que afligem o ser humano, Stephen Hawking, conceituadíssimo físico britânico, alerta para a possibilidade de que uma inteligência artificial supere a dos seres humanos. E o Pentágono, apenas para colaborar ainda mais com o caos instalado, informa que os atuais drones, tão eficazes na sua trajetória até o alvo pretendido, poderão, num futuro, que parece não muito remoto, tornarem-se capazes de escolher, SOZINHOS, os alvos a serem atacados, dispensando-se os próprios homens desta tarefa assassina.

Convenhamos que o tal som emitido pela Philae não é exatamente o TAO do som que buscamos. Este é bem mais terreno, encontra-se nas profundezas desta esfera gigante que nos conduz há bilhões de anos com uma sincronicidade invejável com os demais seres celestes.

O nosso TAO é o da conscientização da gigantesca responsabilidade que temos para com ela, a Terra, e, consequentemente, para com nós mesmos. Um TAO que nos conduza à felicidade e ao direito de usufruir de todas as belezas que conhecemos. Um TAO que nos permita uma sincronicidade com os demais indivíduos, promovendo uma real e efetiva comunicação entre irmãos de diversas culturas.



Agora, dias atrás, procurei, indaguei e descobri de onde vinha o tal do som, que entrava quarto adentro, às 3 horas da manhã. E encontrei o TAO do tal som.

Sim, porque música não era. Era um som batidão. De tão reles este som e suas letras, bem como seus adoradores, que me abstenho aqui em demorar-me a descrevê-lo.



Retornando da pequena digressão, fica, aqui, a advertência:

- Cuidemos para que o TAO do verdadeiro som, aquele que emana das entranhas do Planeta, seja o nosso guia na conscientização pela preservação de nossa morada. Um coração, que bate há bilhões de anos, não pode parar por causa de sons que criamos para destruir, rompendo uma harmonia perfeita com que fomos acolhidos desde sempre.



Os outros sons? São apenas os tais sons...

Haverá os que nos enobrecem, quando repousam no belo, na arte, ou nos brutalizam, vulgarizam, quando assentam na mediocridade e na estupidez.

A escolha é nossa.



Há quem, porém, poetize achando que, um dia, o próprio céu se esvaziará. Luiz Coronel, poeta nosso, vê urgência em usufruir o que está a nosso dispor. Considerando apenas a última estrofe do poema UNIVERSO, que se refere às geleiras, é urgente, digo eu, a ação dos homens sobre as urgências do Planeta.



Por outro lado, Carlos Drummond de Andrade, em seu poema ADEUS A SETE QUEDAS, brada contra a insânia de haverem destruído as famosas 19 cachoeiras, que eram agrupadas em Sete quedas, ou o conhecido Salto das Sete Quedas, considerada a maior cachoeira do mundo em volume de água, reconhecida como um patrimônio natural do Brasil e da Humanidade. Em seu lugar surgiria a criação do lago da Hidrelétrica de Itaipu ou “A pedra que canta”, na língua tupi. Do canto das cachoeiras restou um barulho de águas: bem diferente de um canto. Segue, abaixo, um vídeo com o poema declamado.

E, apenas para recordar, a bela letra da música AS FORÇAS DA NATUREZA cantada pela saudosa Clara Nunes.



Adeus a Sete Quedas - Carlos Drummond de Andrade 


Adeus Sete Quedas - Grupo Blindagem




As Forças da Natureza – Clara Nunes 







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Amelia Mari Passos: "Arte, Ciência e Metafísica não valem um instante de amor" Concordo. Como sempre Soninha Athayde cativante reflexão .Sempre me faz bem, passar por aqui.Um terno abraço.




domingo, 23 de novembro de 2014

A RECEITA

Nestes tempos conturbados, difíceis, em que o corpo padece, muitas vezes, pela inércia do espírito, nada melhor do que recuar, silenciar e montar estratégias diante da avalanche de negatividade que se avoluma a cada dia.

Alguns caminhos avistam-se. Não há, porém, uma única receita salvadora. E não se está a falar de problemas de ordem econômica, social ou política. O que se busca, aqui, é salvaguardar o ânimo, a paixão, a iniciativa, o persistir, o seduzir, o amar.

São estes gatilhos que movem o ser humano. E paixão, é bom lembrar, é aquela chama que deve irromper a cada amanhecer para que nos mantenhamos vivos e atuantes pelos anos afora.

Como conservá-la acesa?

Dirigindo o olhar para tudo e todos que acrescentem, que surpreendam, que encantem a partir do nosso próprio empenho para que tal aconteça.

Perceber-se a si e ao outro como seres cativantes, portanto, prontos ao sorriso, à conversa, ao encontro, ao convívio. Com tais ingredientes o espírito dará uma resposta positiva que impulsionará o corpo para variadas atividades. Assim, trabalho poderá significar prazer.

E este é o plano. Transformar uma atividade laborativa em algo prazeroso, com uma resposta que afague o eu, que lhe dê retorno positivo no plano das emoções. Ações motivadas e gratificantes garantem sucesso como resultado de qualquer empreendimento. E, na esfera do puro prazer, a gama de situações e possibilidades é imensa para quem se aventura a tais delírios, como os poetas que concebem versos delirantes, tal como propõe Manoel de Barros em UMA DIDÁTICA DA INVENÇÃO, VII, onde descreve:



E delírio pressupõe um clima prévio de sedução. E o mesmo Manoel de Barros, em GORJEIOS, dá a receita:



Já Mário Quintana vai além quando, em POESIA E MAGIA, assegura:

A poesia de um verso não está no que diz, mas no poder encantatório das palavras que diz: um verso é uma fórmula mágica.

Como mágico deve ser o encontro entre DOIS AMANTES de Pablo Neruda, poema extraído da compilação Cem Sonetos de Amor (XLVIII-Meio-Dia), que diz:



Eternidade que a poesia persegue na reflexão de Mário Quintana sobre a palavra CRÔNICA, quando diz:

Ah, essas pequenas coisas, tão quotidianas, tão prosaicas às vezes, de que se compõe meticulosamente a tessitura de um poema... Talvez a poesia não passe de um gênero de crônica, apenas: uma espécie de crônica da eternidade.

Com certeza, todos nós buscamos ser felizes. Se não for pedir muito, quem sabe, sermos lembrados, pois o perene nos fascina, nos instiga, nos faz melhores.

Por ora, dê um tempo no tempo e viva com entusiasmo e alegria o presente. Afinal ele te prepara para o amanhã: que é logo aí.

Esta é a receita que nos fará melhores. 

Claro, tudo dependendo do nosso empenho.


E nesta busca por felicidade parceria melhor não há do que somar música e poesia. Juntas criam o cenário perfeito para o encontro amoroso: aquele que mistura o choro e o riso, que se ilumina, que não fica, nem vai, como diz a letra da música ESTADO DE POESIA de Chico César, na voz de Maria Bethânia. Aquele cenário em que a epifania do instante se eterniza: um cenário que é o próprio estado de poesia.




Estado de Poesia – Maria Bethânia 





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Maria Odila Menezes: Belíssima crônica, Soninha! Parabéns!!!

Amelia Mari Passos: Um arco-iris bem no meio do dia.Sensiveis e inquietas palavras. Amei.



domingo, 16 de novembro de 2014

CONSUMA... SEM MODERAÇÃO!


Encante-se com as nuanças das cores que brincam entre as nuvens. Elas escondem um sol sonolento que já dá sinais de exaustão depois de um dia escaldante. E nada melhor do que um bom descanso.

Acompanhe a aproximação do papagaio galanteador que se achega à parceira, sussurra algo e, juntos, bebem a água que se deposita na gateira próxima ao telhado, para voarem, logo após, ao refúgio noturno. E só eles sabem onde fica.

Exercite o ouvido com os mais diversos sons, ruídos e sussurros. Eles podem nos alegrar, nos alertar ou nos trazer cálidas lembranças. Precisamos muito delas. Elas nos alimentam, muitas vezes, mais do que um alimento próprio para tal.

Veja o que o vento enraivecido causa à árvore da esquina. E o que a leve brisa faz com as flores, recém-desabrochadas, daquele pé de jasmineiro.

Perceba o outro que perdeu o olhar no nada e nem lhe enxerga.

Atente que o hoje, às vezes, se parece com o ontem. Projete, se assim lhe aprouver, o hoje no amanhã. Ou o contrário. Você pode tudo.

Invente, reinvente, ressignifique, crie seu próprio dialeto para um mundo que se transforma a todo o instante. Assim, será mais fácil compreendê-lo e internalizá-lo do seu jeito. Afinal, somos individualidades pensantes. Precisamos apenas adocicar o nosso pensar, tornando palatáveis os novos comportamentos e atitudes.

Precisamos de muito açúcar para enfrentar o dia a dia com um renovado estoque de otimismo. Não aquele, o vilão da saúde, mas aqueloutro. Aquele que o poeta das insignificâncias, Manoel de Barros, chamava de mel das palavras: a poesia. Use dela em abundância. Ela reveste as palavras de significados diversos do habitual. Sendo assim, uma enseada, isto é, um aspecto da geografia do terreno, pôde se transformar na imagem de uma cobra de vidro mole que fazia a volta atrás da casa do poeta. E isto era para todos, que por ali moravam, apenas uma volta que o rio dava atrás da casa do poeta. Para ele, muito mais do que isto. Era a imagem de um animal vivo a circundar a sua propriedade. Nele era comum a coisificação do humano ou do animal e a humanização das coisas.

Como, por exemplo, em:

Borboleta é uma cor que avoa.

Para encontrar o azul eu uso pássaros.

Vi a manhã de pernas abertas para o Sol.


Poesia para ele “era a armação de palavras com um canto dentro, um gorjeio: daí a harmonia”.

Segundo ele a razão é a última coisa que deve entrar na poesia. Ela não serve para descrever, senão para descobrir e para ser incorporada através da imaginação que transvê o mundo.

O poeta, com sua sensibilidade, decodifica o que o olho simplesmente vê, a lembrança revê e ele com a imaginação, que lhe é peculiar, vai transver o mundo através das palavras. Seu único objetivo é produzir encantamento. Quem sabe, chegando ao grau de brinquedo retirado lá da infância, pois é lá, segundo Manoel de Barros, onde se encontra a melhor fonte de poesia que existe. Na verdade, porque troca o sentido das coisas. Talvez, por isso, se classificasse como o poeta das insignificâncias do mundo e das coisas.

Claro que o seu humor, sua ironia, por vezes, e o seu jeito de transver o mundo alçaram sua poesia, quer tenha querido ou não, a um patamar superior.

São suas estas palavras:

O poeta não tem compromisso com a verdade.

Senão que, talvez, com a verossimilhança.

Quem descreve não é dono do assunto.

Quem inventa é.


E quão importante foi como criador de palavras, desvirtuando-lhes o sentido original, fazendo uma artesania, como dizia, própria para revelar imagens através de palavras que se mostravam carentes para tanto. Daí a necessidade de criá-las incessantemente, através da percepção de imagens do cotidiano. De imagens das coisas menos significativas, das pequenas coisas que, no seu exercício de transver, transformavam-se em grandiosas e surpreendentes.

Deixou ele uma obra de um verdadeiro poeta. Aquele ser cuja natureza pensa por imagens e que aguça o olhar pela cosmovisão, como dizia ele próprio. E que foi capaz de afirmar:

Só as coisas rasteiras me celestam.


Com certeza, só um verdadeiro esticador de horizontes e um abridor de amanheceres pode nos adocicar e nos preparar para o enfrentamento diário com esta coisa rasteira que são os nossos problemas cotidianos: destituídos de qualquer encantamento para nós que não somos poetas.

Guardemos um tempo do dia para sorvermos um pouco deste mel que nos traz satisfação pessoal, encantamento e a descoberta da importância do leitor para a obra poética e do quanto de poesia existe em cada um de nós. Coisa que o nosso poeta Mário Quintana lança como alerta a nós todos no poema que segue:




Para lembrar o poeta Manoel de Barros que se foi para além do azul, onde continuará sua nobre missão de transver aquilo que daqui levou e que, com certeza, receberá novos olhares e interpretações, destacamos alguns poemas e frases que, entre nós, continuarão a oferecer o mel para seus ávidos leitores.










Viagem – Emílio Santiago 






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Comentários via Facebook:

Rosangela Guerrieri Pereira: Soninha, li tudo, gostei muito, a música que escolheste não poderia ser melhor. Parabéns.

Amelia Mari Passos: Soninha Athayde Aprecio muito suas crônicas, sempre nos levam a sentimentos bons. Manoel de Barros e Mário Quintana ... seu olhar, trouxe sensibilidade e leveza , complementado na excelente escolha da canção de Emilio Santiago.Obrigada querida.

Floreny Avila Ribeiro: Muito lindo,amiga.

Maria Odila Menezes: "Adocicar o nosso pensar..." E Tu Soninha! Adocicas nossos dias com teus pensamentos!! Adorei tua crônica, sábias e poéticas palavras! Parabéns!

Elizabeth Remor: Parabéns Soninha Athayde. Bela crônica, escrita com tua anima.Abraço dourado.

Zaira Cantarelli: Soninha Athayde tem uma maneira aguçada de escrever.