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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

PARA QUE TUDO ISSO?

Confessa que já anda meio deslocado. Até já mudou de data. Nem acontece mais no mês tradicional. Parece quererem que o esqueçam, ou que, pelo menos, não o queiram com tanta animação.
Os mais abastados, com certeza, escapam para outras paragens mais tranquilas, quando ele se aproxima.
Os que permanecem pela cidade aproveitam para um descanso mais espichado. Comodamente instalados, talvez o assistam pela televisão.
Quem não lhe abandona é mesmo o povão. Ah! Os salões das sociedades, ao que parece, também ainda o curtem.
Sua utilidade fica flagrante junto aos que menos tem. Sua importância é diretamente proporcional àqueles que pouco tem. Serve ele de compensação por tantos dias em que se tem tão pouco, em que se é tão menos.
Daí sua extrema importância.
Ele serve para muitos descansarem, outros muitos lucrarem e muitos milhões sonharem.
E o sonho é necessário. O sonho serve para desafogarmos mágoas, medos e tensões. Mas, também, serve para projetarmos caminhos possíveis, alternativas que se mostram ao acordarmos em alguma manhã diferente, de algum dia diferente.
Serve também o sonho para vestirmos uma fantasia majestosa e nos sentirmos reis. Afinal, um cetro e uma coroa não são para qualquer um. E esse sonho nos impele à construção de toda uma estória que, com começo, meio e fim, nos contará a vida, a obra, as façanhas, as supertições e todo o acervo humano, conquistado por séculos, tudo junto, contado e cantado numa única noite.
É! O reinado dura pouco. Mas, o quanto é importante!
E não é de circo que se está a falar. É de identidade, de participação, de superação, de sublimação para fatos importantes, não resolvidos, que se apequenam, frente ao espetáculo daquela noite. Ou se agigantam, dependendo do enfoque social trazido à cena.
Quando se escolhe um escritor para homenagear, que é da terra, cujas personagens forjadas são criaturas conhecidas nacionalmente e que traduzem tipos e formas de pensar, característicos do povo onde estão inseridas, é tudo de bom!
E é isso que a vermelho e branco, a Escola Imperadores do Samba, leva para a avenida no próximo dia 4 de março.
A Velhinha de Taubaté, coitada, já desaparecida, estará, porém, presente na avenida para lembrar-nos do grau de decepção que sofreu, depois da crise do mensalão, entregando os pontos, tenho certeza, antes da hora. Ela que sempre acreditava nos “governos”, quaisquer governos, apresentando sempre uma posição favorável a eles, instituídos, impostos, conduzidos, negociados ou eleitos.
Por outro lado, a socialite ravissante Dora Avante, ou Dorinha, graças a Deus, continua firme e forte, aparecendo de quando em vez com a Tati Bitati, destilando, através de seu discurso, a ironia sarcástica de seu genial criador.
Já Ed Mort, antigo detetive particular, sempre sem dinheiro, com seu famoso “escri”, de escritório, em Copacabana, cercado de baratas e do famoso rato Voltaire, deixa saudades.
E as Cobras, famosa coletânea de tiras, publicada em 1997, de circulação em alguns jornais brasileiros, que tinham como personagens o famoso Queromeu, o corrupião corrupto (tão atual!), além das lesmas Flexa e Shirley e o não menos famoso Durex, sempre a favor do governo em vigor!
E pra fechar o espetáculo o Analista de Bagé, figura caricata de um gaúcho metido a psicanalista. Sempre acompanhado por Lindaura, sua assistente, pronta a ajudá-lo em “todas” as causas e por “todos os meios imagináveis e inimagináveis”. Aprende-se com ele que o principal remédio para os males e dores subjetivas é o conhecido “joelhaço” que, aplicado no lugar correto, faz o vivente esquecer as dores “menores”, deixando, “de vez”, de frescura. Agora, se for mulher o paciente, as técnicas serão outras, aprendidas, acredita-se, atrás dos galpões.
Ora, depois dessa promessa de desfile, com criador e criaturas fazendo o espetáculo, a pergunta inicial pode ser devolvida com outra pergunta para esse senhor, já bastante idoso, que se chama Carnaval.
Para que serves? Deixe que eu responda.
Para que o povo armazene forças para matar um leão por dia, para que não perca a esperança frente aos embates que se seguem pelo ano afora, para que mantenha a autoestima em alta, para que o bom humor não o abandone, para que o sorriso do filho possa significar a esperança de dias melhores, para que saiba da sua força na transformação, para melhor, das instituições e para que saiba reivindicar, dentro da legalidade e da ordem, os seus direitos de cidadão.
Tudo, da mesma forma, como faz nos desfiles: interpretando os personagens da sociedade, cuidando da formação das alas, controlando o tempo despendido para cada evolução, desfilando no ritmo fornecido pela bateria, não atravessando o samba, compreendendo e respeitando as regras que o desfile exige.
Tudo para aprender a percorrer a avenida no compasso das batidas do coração, com segurança e coragem, rumo a uma melhor condição social que passa, necessariamente, pela correta interpretação do que o cerca.
E isso só se consegue com educação e cultura.
E o Carnaval é um pouco disso tudo.
Mas não é tudo. Há, ainda, um longo caminho a percorrer.
Por ora, armazenemos um tanto de energia nesse dia 4 de março, pois os dias, que se seguem, prometem.
Parabéns à Escola de Samba Imperadores do Samba e ao seu escolhido, o nosso Luis Fernando Veríssimo, para tema do samba-enredo desse Carnaval de 2014.
Um bom Carnaval a todos!





Clipe Oficial do samba-enredo da Escola de Samba Imperadores do Samba para 2014 





sábado, 23 de novembro de 2013

GRADES INVISÍVEIS

Você é prisioneiro e nem suspeita. E o mais aterrador é exatamente isso: não se dar por conta.
Você está diuturnamente ligado. Até quando dorme, o seu entorno mantém-se conectado. Há quem diga que seus dedos, em pleno sono, são, por vezes, vistos a deslizar sobre o lençol na busca incessante da conexão. Há quem já esteja próximo do ser “autômato”, aquele descrito por George Orwell.
E o pior é que essa contínua conexão, que começa precocemente, prima pela pura diversão, pelo simples entretenimento.
Como esse ser irá adquirir cultura, aquele ingrediente que o tornará diferenciado e não apenas uma mera reprodução do coletivo de que faz parte em número, porém, não necessariamente em pensamento, em virtudes, em sensibilidade, em imaginação?
Como se pode adquirir cultura sem ler uma obra literária?
Como aguçar a sensibilidade para a música sem apreciá-la? Será que é suficiente, para tanto, ouvi-la como fundo de uma conversa pelo facebook, que, por sua vez, usa uma linguagem quase criptográfica?
Reflexão é coisa que se adquire após um tempo suficiente de amadurecimento obtido através de leituras e não em bate-papos pelo face.
Qual o futuro de um jovem que permanece sete horas em frente a uma tela, apenas divertindo-se, jogando, digitando letras desconexas que expressam sentimentos de alegria, prazer, raiva, descontentamento?
Há que ter presente a indiscutível importância da tecnologia da informação como ferramenta auxiliar do conhecimento. Nunca, porém, como base para uma sólida formação. Isso, claro, se estivermos interessados em capacitar os jovens a assumirem o papel que lhes cabe, qual seja o de transformar, para melhor, as sociedades as quais pertencem.
Agora, se esse não for o propósito, acredito que essa tecnologia poderá estar a serviço da criação de hordas de seres que absolutamente não pensariam, pois o pensar, ato que distingue o ser humano dos demais, estaria totalmente refém do inconsciente. Essa é a chamada sociedade Ingsoc, vislumbrada por Orwell em seu livro 1984, onde sistemas sofisticados, aparentemente não totalitários, poderão conduzir-nos a perdas de conquistas humanas que levaram séculos para se constituírem. Aliás, um livro escrito em 1948 e profundamente atual.
Qual de nós não pensa na linguagem da Internet ao se deparar com o vocabulário da Novilíngua?
Quem não se enxerga no duplipensar, quando vê mudanças repentinas de posições ideologicamente contrárias e que a nós passam a tornarem-se legítimas, tão legítimas que podemos adotá-las, conforme as conveniências do momento, de uma forma ou de outra?
Quem não se assusta ao ver os “Proles” de 1984 serem, hoje, uma expressiva fatia da humanidade, cujas opiniões ou a ausência delas é absolutamente indiferente para o “establishment”?
Há sempre o risco de esses usuários tornarem-se tão despreparados, tão vulneráveis à realidade que exige conhecimento, competência, espírito crítico nas escolhas, que ao abrir-se a porta dessa grade que os aprisiona, não consigam por ela escapar. Permanecendo, portanto, presos ao comodismo, a uma parca sobrevivência, pois não terão possibilidades de um pleno desenvolvimento da sua individualidade. Essa perder-se-á nos estereótipos do grupo, da turma, do coletivo massificado.
Agora, para descontrair, leia O PASSARINHO ENGAIOLADO de Rubem Alves que demonstra bem essa possibilidade de desistência da liberdade até para um animalzinho que só sabe viver voando, livre, capaz de, pelo instinto, safar-se dos perigos.
Por outro lado, Martinho da Vila traz, para compensar, uma passarinha bem mais corajosa que sai em busca de companheiro e que não deixaria, com certeza, as pimentinhas do conto de Rubem Alves intactas. Acompanhe a letra do samba GAIOLAS ABERTAS na voz de um de seus autores. O outro é João Donato. Bom divertimento!
Ah! Não se esqueça de conviver mais, conversar mais, ouvir mais, enxergar mais. Tudo ao vivo e em cores.
E, por favor, desligue o tablet na hora do almoço!









Martinho da Vila – Gaiolas Abertas





segunda-feira, 29 de abril de 2013

VERDE QUE TE QUERO VERDE, “BEM VERDINHO”

Não importa muito a hora, nem o lugar. Sempre é hora pra quem curte esse fiel companheiro. Aquele parceiro que não tem ciúme se você o desfruta com outrem ou, se na roda, ele passa de mão em mão. E você, sendo o primeiro a senti-lo, não se importa de dividi-lo com tantos outros que, porventura, forem se achegando. Em cada sorvo, um momento de reflexão, uma conversa consigo próprio. E, quando um ronco se ouvir, um novo momento já estará a surgir. Reflexões e pensamentos escorrerão conversa afora, quando outro companheiro estiver sorvendo pela biqueira, na mesma bomba, a mesma seiva verde, bem verdinha.
 
Hábito agregador, a roda do chimarrão escancara palavras, pensamentos, amores, causos. É terapia entre aqueles que se dispõem a usufruí-lo com sabedoria. Sem, é claro, os inconvenientes dos que se atiram ao álcool ou, quem sabe, ao facebook. Um, pela dependência física que pode gerar, quando usado em excesso. O que, não raras vezes, acaba acontecendo ao longo dos anos. O outro, pela exposição ao mundo, ao coletivo, e não ao pequeno grupo, geralmente constante e amigo.
 
Agora, é também excelente terapia para aqueles gaúchos que andam mais extraviados que filhos de perdiz, ou aquele que anda extraviado “das ideias”. Nada como um bom mate pra “sentar as ideias”. É um companheiro fiel para as horas de solidão. É terapia barata e que dá bom resultado.

A sessão terapêutica já começa no preparo do mate. Escolhidos os avios (cuia, bomba, erva mate bem verdinha) pelo vivente, dá-se início ao ritual. Essa etapa já vai preparando o espírito para o que vem a seguir. Não vamos aqui ensinar como fazer um mate, nem como encilhá-lo, o que demanda certa habilidade. Para isso, acesse o material que segue abaixo.

Hoje, o que nos interessa é relembrar o dia 24 de abril como o Dia do Chimarrão.

Homenageá-lo, cultuá-lo como uma tradição nossa, que permanece até os dias atuais com reconhecida importância.
 
Tenho para mim que são, justamente, os momentos de reflexão que ele proporciona que o mantém tão vivo, tomado em grupo ou solitariamente.
 
É uma espécie de amigo de todas as horas.
 
Pasmem! Inclusive no momento de um assalto estava ele lá, presente. Uma cuia cheia de chimarrão foi arremessada sobre um assaltante. Esse ato forneceu os segundos necessários a que a vítima, um caminhoneiro que descansava no interior do veículo, tomando um mate “amigo”, gritasse por socorro. Acudido por outros colegas caminhoneiros, que estavam próximos, safou-se do assalto e, quem sabe, de ser morto. O bandido, assustado, fugiu sem levar nada. 



Parafraseando o verso VERDE QUE TE QUERO VERDE, do célebre poema Romance Sonâmbulo, da obra Romancero Gitano (1924-1927), do poeta espanhol Federico García Lorca, para VERDE QUE TE QUERO VERDE, "BEM VERDINHO", adotamos, esse último, como título dessa despretensiosa crônica.

Nesse famoso poema, o tempo é figura que subjaz ao fazer poético. Observa-se a importância do tempo na vida do indivíduo: sua inexorabilidade.

Com García Lorca, o tempo se sucede em formas, imagens, sensações, que deságuam com o fim da amada e com o seu próprio, trágico e precoce.

Com esse nosso matear dos pampas, também o tempo, mais ameno nesse caso, fornece o lapso necessário para pôr as ideias em ordem, para refletir sobre o tempo de cada um; para pensar sobre o viver, o amar, o sonhar, solidificando laços, renovando-se. E, inclusive, ter em mãos o próprio tempo, o tempo necessário para revidar a agressão a que estava submetida a vítima de mais um assalto.


Meus caros!

É sempre tempo de matear!
 
Revigora o corpo e a mente.
 
Apascenta a alma.

Até percebe-se melhor o tempo passar.

E, quem sabe, até nos faça voar pra longe do tempo presente, levados pela aparente presença do nada.




 
 
 
 
 
Seiva de Vida e Paz – João Chagas Leite
 
 
Roda de Chimarrão e Nós – Osvaldir e Carlos Magrão
 
 
 
 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 12 de abril de 2013











SIM, TUDO CERTO...

Foquemos as imagens que seguem:
 

Luana, seu nome verdadeiro, 28 anos, de cor preta, mãe de quatro filhos, atirada no meio-fio da calçada, na Avenida Getúlio Vargas, no bairro de nome de santo;

Pelé, apelido, de cor preta, aparentando 30 anos, atirado na calçada de outra rua do mesmo bairro;

Paulinho, nome fictício, 15 anos, deitado na calçada, sob uma marquise, em outra rua do mesmo bairro;

Beatriz, indiazinha de 14 anos, com um nenê no colo, seu filho, sentada na calçada da Rua José Bonifácio, pedindo esmolas. Junto a ela, mais uma criança de 3 anos, filha de uma outra jovem índia de 17 anos;

As quatro cenas registram o que o nosso olhar, teimosamente, finge não enxergar. Aparentemente, pelo simples fato de que não nos afeta o bolso, nem o nosso direito de ir e vir. Poluímos o olhar, é verdade. Mas desviamos daquele incômodo e vamos em frente.

Por acreditar que essa situação de abandono não nos diz respeito, ignoramos seus protagonistas. Mas eles se avolumam dia a dia.

O que nos cerca é assombroso. Corpos imundos, atirados, sobre calçadas também, muitas vezes, sujas. Varrer as calçadas: não é o bastante. Há que se dar um destino correto ao “chamado lixo”. Há que se reciclar a ambos. Um, pela destinação correta dos resíduos. Outro, por políticas públicas adequadas à faixa etária de quem lá se encontra jogado. Casas de Passagem, Albergues, Instituições Públicas que ofereçam Educação Formal, Educação Profissionalizante, encaminhamento para empregos: são alguns caminhos possíveis para tentar reverter esse quadro. Paralelamente a isso, a desintoxicação daqueles já dependentes químicos. Investimento nas crianças, filhos desses moradores das calçadas, para que essa prole não venha a se somar aos que já se encontram nessa situação trágica.

Essa será uma conta que teremos que pagar pelo não enfrentamento da questão.
 

Continuando nessa caminhada do assombro, encontramos as seguintes cenas:

Marcos chegou feliz em casa. Comprara um ventilador de teto. Marisa, sua mulher, preparava a janta na nova cozinha, que ainda estava por completar a mobília. Não entendia ela como poderia fixar a pia, definitivamente, no lugar previsto sem furar a parede para colocação dos canos. A construtora avisara que não poderiam furar paredes. Em todo o caso, Marcos dissera que ia dar um jeito. O barulho da furadeira já se ouvia da cozinha. Era Marcos furando o teto para fixar o ventilador.

De repente, batidas na porta de entrada fizeram Marisa ir atender a quem batia. Era a vizinha do apartamento de cima que, com olhos arregalados, vinha anunciar que acabara de quase ver atingido seu pé esquerdo pela ponteira de uma furadeira.

E o barulho viera debaixo. Pode me explicar o que está acontecendo?

Marcos, já sentado no sofá da sala, entre surpreso, apavorado e indignado, gritou de lá: furei a sala da vizinha.

Ah! Minha Casa, Minha Vida!

É possível isso?

Está certo isso?

Sim, tudo certo...
 

Agora, queridos leitores, decidi:

- Para não ficar muito cansativo vou agora ensinar a fazer um belo miojo.

Não! Desisti. Não sou muito chegada a esse tipo de comida.

Deixo isso para o nosso candidato ao exame do ENEM.

Poderia, quem sabe, descrever as façanhas do Tricolor (Até a pé nós iremos...) ou do nosso Inter (Glória do desporto nacional...).

Também disso desisto.

Vou deixar essas duas pérolas para o outro candidato ao exame do ENEM, aquele torcedor do Palmeiras.

Pergunta-se:

É possível isso?

Está certo isso?

Sim, tudo certo...
 

Pois, mesmo fardada, uma policial militar foi assaltada em frente ao prédio da Secretaria Estadual de Segurança, no horário das 18h30min, tendo o ladrão roubado o revólver calibre38, que a policial portava.

É possível isso?

Está certo isso?

Sim, tudo certo...
 

Levantamento revela que 101 postos de combustíveis da Capital foram assaltados no período de 1º de janeiro de 2013 a 04 de abril desse ano, conforme estatística da Brigada Militar.

É possível isso?

Está certo isso?

Sim, tudo certo...
 

E Vladimir Dias, pai de Luiz Marcelo, chora a morte do filho por falta de atendimento adequado a quem estava em estado de emergência, lutando pela vida, apresentando um quadro gravíssimo, com dores lancinantes. As emergências de todos os hospitais procurados não o acolheram como determina a sua condição de cidadão. É o caos da superlotação. (matéria publicada em Zero Hora de 10 de abril de 2013)

É possível isso?

Está certo isso?

Sim, tudo certo...
 

E o que fará a Professora Rosinha com aqueles seus seis alunos que não venceram todos os conteúdos da série anterior, mas já cursando a série seguinte? Lá estão juntos com todos aqueles outros, que foram aprovados, mas que por suas individualidades, aprendem, também, em ritmos diferentes e, portanto, exigem da Professora Rosinha um atendimento diferenciado. Terá, então, ela que prestar esse atendimento, diferenciado, ministrando os novos conteúdos compatíveis à série, aos alunos que foram aprovados. Correto? Aos seis alunos, que não venceram todos os conteúdos da série anterior, deverá a Professora Rosinha prestar atendimento individualizado, objetivando a que atinjam o resultado deles desejado, à época, quando cursavam aquela série. Acrescido esse atendimento individualizado a outro, também individualizado, onde ministrará conteúdos da nova série. Claro está que esses alunos sentirão mais dificuldades do que os que venceram anteriormente tais conteúdos. Complicado? Por demais.

Tentando esquematizar, para melhor entendimento:


Aluno A (aprovado na série anterior)

Conteúdo: novo (série atual)

Atendimento: constante

Aluno B (parcialmente aprovado na série anterior)

Conteúdo: novo (série atual), acrescido do antigo (da série anterior)

Atendimento: constante e personalizado (quanto aos conteúdos da série anterior, bem como quanto aos conteúdos da série atual).

OBS: A dificuldade, nesse caso, quanto aos conteúdos da série atual será maior, pois esses seis alunos não terão como base os conteúdos da série anterior.

E a Professora Rosinha? E seus trinta e tantos alunos? Sem comentários.

A Professora Rosinha precisa, com urgência, de uma colega que, pelo menos, lhe ajude a atender esses seis alunos. Quem sabe, um atendimento em horário inverso ao das aulas?

Caso contrário, todos sairão prejudicados, porque ninguém será bem atendido.

É possível isso?

Está certo isso?

Sim, tudo certo...
 

E para não se dizer que não se falou dos gaúchos e sua cultura, até para fazer jus ao nome do blog, verifica-se a introdução de um famoso uísque nas comemorações da Semana Farroupilha de 2012. Com galpão armado, “prendas pilchadas” e uma garrafa do dito destilado em cima da mesa onde se preparava um prato, acredita-se que típico da culinária campeira. O piquete do tal destilado promoveu uma “harmonização” do conhecido uísque com o churrasco. E a nossa cachaça?

É possível isso?

Está certo isso?

Sim, tudo certo...

Mas bah!

Que cansaço!

A essa última cena os patrões dos diversos CTGs e o próprio Movimento Tradicionalista Gaúcho, todos esses organismos voltados às tradições gaúchas têm de estar atentos, para que não se desvirtuem os verdadeiros valores da cultura gaúcha e de seu povo.  
 

Quanto às cenas anteriores, cabe lembrar que nós, sul-rio-grandenses e brasileiros que somos, pagamos a maior carga tributária do planeta e, portanto, cabe aos governos constituídos resolverem as questões acima referidas. Essas são, fundamentalmente, questões de Estado nas esferas federal, estadual e municipal, e não de governo.
 

Assim, diferentemente da música Dois e Dois, de Caetano Veloso, que era um grito camuflado contra a opressão, existente à época da sua criação, esse grito hoje é para que se alertem todos que, ainda, temos a liberdade para modificar os quadros apresentados. O problema é agirmos com relativa rapidez, ordem, ética e honestidade. Precisamos, com urgência, da tão desejável e necessária integridade moral.

Por ora, cabe apenas completar a última frase do mote:

SIM, TUDO CERTO... COMO DOIS E DOIS SÃO CINCO.




Caetano Veloso – Como dois e dois