DE BOSQUES, PALMEIRAS, SABIÁS E... COQUINHOS
O som lembra o de aviões prontos para decolar. Um grid de largada para ninguém botar defeito: ali presentes os melhores. E a cidade a recepcioná-los. Um vasto lago como cenário, vias bloqueadas e um circuito, há tempo imaginado, para celebrar a festa da velocidade. Que cidade moderna! Tudo muito cul (cool) e, especialmente, clin (clean).
Agora, na verdade, faltam poucos detalhes. Aqueles entraves que perturbavam já foram, finalmente, removidos. Com isso até o lago saiu ganhando. A seiva, qual lágrima, que escorreu daquelas espécies em extinção junto ao lago, talvez tenha ajudado a encher, um pouco mais, o nosso reservatório. O que não se sabe é se a seiva, na escuridão da noite, escorreu para o lado certo, isto é, em direção ao lago. Alguma coisa, provavelmente, tenha se perdido. Quem sabe, encontrou pelo caminho algum gramado que a acolheu, benfazejo.
As espécies em extinção extinguiram-se novamente, uma vez mais. Com elas, também os gorjeios.
Mas o que isso importa? Temos os roncos dos motores, o início e a chegada, triunfante, das máquinas mais velozes. E elas, ao que se tem notícia, não tardarão a aparecer quando a Fórmula Indy aportar por aqui. Protocolo de Intenções já foi assinado em 2011, inclusive com um traçado planejado para a corrida, já esboçado.
Com o quê e para que nos preocuparmos, então.
Afinal, temos que dar um apigreide (upgrade) no nosso dia a dia. Tudo anda muito monótono: uma mesmice.
Por que manter uma paisagem que descansa o olhar? Para que uma sombra acolhedora, se posso espichar a cabeça para fora do carro e receber um “ventinho” no rosto que é puro gás nocivo.
Aliás, querem coisa mais antiquada do que bosques, palmeiras, flores, sabiás e ninhos?
Ah! Eu ia me esquecendo. Estamos vivendo em cidades. Nada disso é necessário. No máximo, uma pracinha com brinquedos e uma ou outra árvore para adorno. Porque para quem quer mesmo refrescar-se, vá ao xopin (shopping) mais próximo. Lá tem de tudo, até sombra de mentirinha. Algumas parecem ser verdadeiras. Devem ser transgênicas, coitadas. Quero dizer, coitados somos nós!
Gonçalves Dias, em sua Canção do Exílio, despeja poesia de louvor à pátria. Tão famosos tornaram-se seus versos que, dois deles, foram copiados e introduzidos, por Osório Duque Estrada, em 1909, autor da letra do Hino Nacional Brasileiro, como parte do hino, aparecendo entre aspas:
Agora, na verdade, faltam poucos detalhes. Aqueles entraves que perturbavam já foram, finalmente, removidos. Com isso até o lago saiu ganhando. A seiva, qual lágrima, que escorreu daquelas espécies em extinção junto ao lago, talvez tenha ajudado a encher, um pouco mais, o nosso reservatório. O que não se sabe é se a seiva, na escuridão da noite, escorreu para o lado certo, isto é, em direção ao lago. Alguma coisa, provavelmente, tenha se perdido. Quem sabe, encontrou pelo caminho algum gramado que a acolheu, benfazejo.
As espécies em extinção extinguiram-se novamente, uma vez mais. Com elas, também os gorjeios.
Mas o que isso importa? Temos os roncos dos motores, o início e a chegada, triunfante, das máquinas mais velozes. E elas, ao que se tem notícia, não tardarão a aparecer quando a Fórmula Indy aportar por aqui. Protocolo de Intenções já foi assinado em 2011, inclusive com um traçado planejado para a corrida, já esboçado.
Com o quê e para que nos preocuparmos, então.
Afinal, temos que dar um apigreide (upgrade) no nosso dia a dia. Tudo anda muito monótono: uma mesmice.
Por que manter uma paisagem que descansa o olhar? Para que uma sombra acolhedora, se posso espichar a cabeça para fora do carro e receber um “ventinho” no rosto que é puro gás nocivo.
Aliás, querem coisa mais antiquada do que bosques, palmeiras, flores, sabiás e ninhos?
Ah! Eu ia me esquecendo. Estamos vivendo em cidades. Nada disso é necessário. No máximo, uma pracinha com brinquedos e uma ou outra árvore para adorno. Porque para quem quer mesmo refrescar-se, vá ao xopin (shopping) mais próximo. Lá tem de tudo, até sombra de mentirinha. Algumas parecem ser verdadeiras. Devem ser transgênicas, coitadas. Quero dizer, coitados somos nós!
Gonçalves Dias, em sua Canção do Exílio, despeja poesia de louvor à pátria. Tão famosos tornaram-se seus versos que, dois deles, foram copiados e introduzidos, por Osório Duque Estrada, em 1909, autor da letra do Hino Nacional Brasileiro, como parte do hino, aparecendo entre aspas:
“Nossos bosques têm mais vida”,
“Nossa vida” no teu seio “mais amores”.
“Nossa vida” no teu seio “mais amores”.
Verseja também o poeta sobre as palmeiras onde cantam os sabiás. Esse seu poema, transcrito abaixo, tornou-se um dos mais citados na literatura brasileira, bem como na nossa música popular brasileira.
Na literatura, vários poetas versejaram, sob o mesmo título, enaltecendo as belezas naturais do país, em especial, as palmeiras e os sabiás.
Gilberto Gil, ainda nos tempos da Tropicália, grava composição sua em parceria com Torquato Neto, onde faz referência à Canção do Exílio. Diz ele:
“Minha terra tem palmeiras/ onde sopra o vento forte da fome/ do medo e muito principalmente da morte”.
E não poderíamos deixar de lembrar a conhecida canção Sabiá, de Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, que diz:
“Vou voltar/ sei que ainda vou voltar/ para o meu lugar/ foi lá e ainda é lá/ que eu hei de ouvir uma sabiá”. E mais adiante:
“Vou voltar/ sei que ainda vou voltar/ vou deitar à sombra de uma palmeira/ que já não há/ colher a flor/ que já não dá/ e algum amor talvez possa espantar/ as noites que eu não queira/ e anunciar o dia”.
Canção essa em que o sabiá e a palmeira identificam a saudade que acometeu, à época, os exilados políticos.
Na literatura, vários poetas versejaram, sob o mesmo título, enaltecendo as belezas naturais do país, em especial, as palmeiras e os sabiás.
Gilberto Gil, ainda nos tempos da Tropicália, grava composição sua em parceria com Torquato Neto, onde faz referência à Canção do Exílio. Diz ele:
“Minha terra tem palmeiras/ onde sopra o vento forte da fome/ do medo e muito principalmente da morte”.
E não poderíamos deixar de lembrar a conhecida canção Sabiá, de Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, que diz:
“Vou voltar/ sei que ainda vou voltar/ para o meu lugar/ foi lá e ainda é lá/ que eu hei de ouvir uma sabiá”. E mais adiante:
“Vou voltar/ sei que ainda vou voltar/ vou deitar à sombra de uma palmeira/ que já não há/ colher a flor/ que já não dá/ e algum amor talvez possa espantar/ as noites que eu não queira/ e anunciar o dia”.
Canção essa em que o sabiá e a palmeira identificam a saudade que acometeu, à época, os exilados políticos.
Tudo isso dito acima para deplorar a atitude de desprezo com que o nosso meio ambiente vem sendo tratado.
Ah! Ia esquecendo, novamente, que estamos vivendo na cidade e não no campo.
Mas há quem afirme, pelo menos assim circula a notícia, que seu sonho é um mundo sem árvores. Pode?
Pode! Disse também o ilustre Senador:
“Esses radicais querem que o país volte a ser uma floresta só e que vivamos pendurados em árvores, comendo coquinhos por aí, como Adão e Eva”.
Esse cidadão é o Presidente da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado Federal. E é, também, o maior produtor de soja do Brasil. Que tal?
Resta-nos apenas lamentar tão desastrada afirmação. Renato Russo, já na década de 80, do século passado, compôs o conhecido Que País é Esse?
Urge que se atualize tal letra, porque as coisas só pioraram.
Quanto a nossa cidade e ao nosso lago, há que se fique atento. Os níveis de poluição, pelo ar e água, aumentam a cada dia. De repente, nem água de boa qualidade mais teremos.
É isso, por ora.
Ah! Ia esquecendo, novamente, que estamos vivendo na cidade e não no campo.
Mas há quem afirme, pelo menos assim circula a notícia, que seu sonho é um mundo sem árvores. Pode?
Pode! Disse também o ilustre Senador:
“Esses radicais querem que o país volte a ser uma floresta só e que vivamos pendurados em árvores, comendo coquinhos por aí, como Adão e Eva”.
Esse cidadão é o Presidente da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado Federal. E é, também, o maior produtor de soja do Brasil. Que tal?
Resta-nos apenas lamentar tão desastrada afirmação. Renato Russo, já na década de 80, do século passado, compôs o conhecido Que País é Esse?
Urge que se atualize tal letra, porque as coisas só pioraram.
Quanto a nossa cidade e ao nosso lago, há que se fique atento. Os níveis de poluição, pelo ar e água, aumentam a cada dia. De repente, nem água de boa qualidade mais teremos.
É isso, por ora.
Não falemos da extração de areia que ronda e se avizinha. Tudo caminhando a passos céleres.
QUERERES ( I )
Ah! Sombra que te quero tanto!
Ao teu pé, preciso perder-me a olhar este pôr de sol tão nosso.
Vê-lo, não envolto em névoa que engole a todos.
Preciso mantê-lo vivo e claro como o olhar de criança.
Preciso orná-lo com uma moldura de contornos verdejantes.
Tudo para contrastar com um lago, que ainda sonho, despoluído.
Nem precisa ser azul.
Basta ser pincelado com o verde das árvores que dele fazem espelho.
Soninha Athayde
Sabiá - Chico Buarque e Tom Jobim
O Ano Passado - Roberto Carlos