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quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

ENCANTE-SE... SURPREENDA-SE...


Observe aquela nuvem que se desloca, fazendo movimentos circulares, e que emoldura aquele prédio ao longe.

E aquele ventinho que passeia por entre as folhas das árvores que enfeitam a bela praça?

E aquela luz que brilha durante todo o dia sobre os prédios daquela saudosa rua?

Quanta beleza nos reserva a Natureza!

E aquela lua que convida os casais a trocarem afagos?

E as estrelas que se multiplicam e se espalham fazendo companhia à lua?

Se as coisas, aqui por baixo, não estão bem, erga os olhos e aproveite os presentes da Mãe Natureza. Ela ainda persiste em nos brindar com belos espetáculos.

Que fique, porém, claro que devemos mantê-la saudável. Afinal, é nossa parceira diuturna.

O controle da poluição nas esferas terrestre, marítima e aérea são de extrema importância. Ao que parece não estamos fazendo o dever de casa como deveríamos fazê-lo. Consequências virão. Aliás, em muitos lugares, isto já é uma realidade.

Neste espaço da pandemia, por estarem as pessoas mais reclusas, provavelmente, tenha havido uma diminuição na poluição como um todo.

Belinha confessa que tem ocupado seu tempo e seu olhar com imagens que a Natureza nos oferece diariamente, independentemente do momento desastroso e, por vezes, caótico em que nos encontramos.

Na praça do bairro, encontram-se crianças brincando e avós relembrando seus tempos de juventude.

No bar da esquina, todas às sextas-feiras, à noite, grupos musicais se apresentam.

É possível, ainda, encantar-se com a Natureza, com um semelhante a nós, com o desenrolar de uma conversa amena.

E por que não se surpreender com aquele vizinho que nos parecia chato, mas cuja conversa foi animadora para quem se deteve a ouvi-lo.

Como não se surpreender com aquele outro vizinho que, nos últimos tempos, tem cumprimentado com um bom-dia audível e um sorriso no rosto?

Belinha acha que esse tempo de reclusão serviu para mudanças de comportamento.

Acredita que as pessoas tenham percebido a importância do outro no seu cotidiano.

Embora ainda estejamos sob ameaça de uma nova cepa do tal vírus, sigamos nos encantando com a Natureza que nos cerca e nos surpreendendo com atitudes positivas, pois elas ainda existem.

 

 

 

 

 

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

À BEIRA DE UM RIO



Não temos a estátua do Cristo. Não temos o mar.

Temos, porém, o nosso Guaíba. 

E o vemos do alto do Morro Santa Tereza. Através das precisas aberturas, que enquadram a paisagem no Museu Iberê Camargo, obra do premiadíssimo arquiteto Álvaro Siza Vieira, também podemos vê-lo. Acompanhá-lo também é possível ao longo da Avenida Edvaldo Pereira Paiva. No Gasômetro e no Cais do Porto nossos olhos esbarram com ele o tempo inteiro. 

Atravessá-lo com as antigas barcas, num caminho de ida e volta até a cidade de Guaíba, era um divertimento. Barcas enormes onde cabiam vários automóveis. Claro, não havia o conforto dos catamarãs de hoje. O visual, porém, era o mesmo. Um rio que desliza suave, que não amedronta. Um rio que é o cartão postal desta cidade. Que mais lindo ainda se torna quando o sol se deita para iniciar o seu sono profundo.

As imagens diárias das inúmeras guerras que se sucedem deixam nossos olhos por demais fustigados. São escombros, uma mortandade generalizada, semblantes retorcidos pela dor, pela fome e pela perda de familiares e de seus bens. E a beleza natural dessas terras, referenciais para esses povos, também estão destruídos. Rios que serviram de cartão postal para suas comunidades e que hoje estão deteriorados pelos artefatos de guerra, ali, constantemente, despejados.

Longe da devastação, produto de guerras fratricidas, por aqui se propaga outra devastação. Esta, com certeza, deveria ser bem mais fácil de ser estancada. Infelizmente, porém, não o é. 
A recente reportagem de ZH, de 26 de julho, confirma esta assertiva.

E pensar que eu me banhei nas águas da Praia de Ipanema, zona sul de Porto Alegre.

A perda para os negócios turísticos é incalculável. Uma orla extensa sem qualquer aproveitamento para o turismo, tal a sujeira e poluição que grassam por todo o rio.

Lixo, lixo e mais lixo.

O Museu Iberê Camargo, o Parque Marinha do Brasil, o Anfiteatro Pôr do Sol, as margens da Usina do Gasômetro, o Cais do Porto, todas estas belezas aos pés da imundície, da podridão, do descaso, do descompromisso com o meio ambiente, com a sua cidade.

Como é possível um rio sobreviver diante de tal devastação! Afinal, bebemos deste rio. Até quando será possível consumi-lo sem que nos prejudiquemos, tal a quantia de produtos químicos necessários para que se consiga sua potabilidade?

Este é um assunto de extrema gravidade e que deve envolver a todos: comunidades, indústrias da região metropolitana, Governos do Estado e dos Municípios.

A Lei nº 12.305, de dois de agosto de 2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, estipulou o prazo de quatro anos para a total implantação dos chamados aterros sanitários em substituição aos lixões. Os rios Jacuí, Gravataí, Sinos e Caí, todos eles formam o nosso Guaíba, que desemboca na Lagoa dos Patos. Mas quantos arroios desembocam nestes rios? Quantos deles também já se encontram poluídos? 


Belas imagens dos arroios de outrora foi o que nos legou Mário Quintana, através dos versos que seguem:





Infelizmente, nem estes se salvaram da poluição. Às vezes, é por eles que começa ela a espalhar-se.

Luiz Coronel, em NOTURNO DE PORTO ALEGRE, do livro Um Querubim de Pantufas, nos versos nºs 17 a 24, exalta o Guaíba, despejando perfume em suas margens e vendo em seu pôr do sol, quase uma miragem.


- Ó cidade, bem não te conhece quem um dia não tenha
se entregue aos teus braços de rio de margens perfumadas.
Breve, eu sei, tenho certeza, muros e anteparos tombarão
e o “Porto dos Casais” e o rio serão uma verdade única e entrelaçada.

Mas quais virtudes, além de tua beleza, te fazem assim
amada e envolvente? Teu pôr do sol, quase miragem?



Como seria belo vê-lo assim. Belo para os olhos de quem não cansa de apreciá-lo, e fornecendo água limpa, própria para um mergulho nas águas de Ipanema. Uma Ipanema que se juntava as outras praias da região: a do Lami, a do Espírito Santo, a do Veludo e por aí...

Um rio abandonado a sua própria sorte, com lixo depositado às suas margen, é o que a cidade observa.

Porém, acreditem, suas águas ainda encontram-se, quase que diariamente, com ele, o Sol, oferecendo-se para o encontro amoroso.

E ele, acariciado pelas suas mãos de seda, deita-se no leito, conforme RELATO DAS RELAÇÕES DO SOL COM AS ÁGUAS DO GUAÍBA, poema de Luiz Coronel, do livro Um Girassol na Neblina, espargindo luz até o final do encontro.




E a cidade, à beira deste rio, agradece o espetáculo que se renova sempre que propício o tempo. 

Na verdade, os cidadãos querem bem mais do que assistir ao espetáculo do pôr do sol às suas margens. Querem, novamente, desfrutar de suas mansas águas.

E a cidade aguarda que o Estado tome as medidas necessárias para a implantação efetiva desta importante política ambiental, acompanhada de uma fiscalização rigorosa pelo seu não cumprimento.

E o cidadão aguarda...

Nós, porto-alegrenses, aguardamos...

Até quando?









Entre o Guaíba e o Uruguai – Noel Guarany





sexta-feira, 7 de junho de 2013


APESAR DE TUDO 


Rolam notícias de todos os cantos do mundo e por todos os meios de veiculação possível. É quase um tsunami diário. E a maioria, invariavelmente, de conteúdo negativo, que em nada estimulam ou favorecem o nosso viver diário. São os homens destruindo a natureza, como um todo, entredevorando-se, socialmente falando, matando, esfolando, estuprando, ludibriando, corrompendo, disseminando venenos por todos os lados (alimentação, sementes, drogas lícitas e ilícitas, poluição em todos os níveis).

Acordar-se, pela manhã, e acreditar que, apesar de tudo, vale a pena encarar mais um dia, é fundamental para um viver equilibrado e satisfatório.

Se os conglomerados financeiros dominantes fizerem as Bolsas caírem ou subirem, nada disso modifica a vida do Francisco, vigia que cuida do supermercado. Parece que se a economia estiver indo bem, segundo os maiores interessados na sua divulgação, os governantes, Francisco sofrerá os impactos positivos dessa aparente estabilidade. Isso é pura falácia. A verdade é que pouco do que ele percebe ao seu redor tem modificado para melhor. Suas necessidades básicas continuam carentes de atendimento satisfatório.

Então, todas as suas carências, somadas à avalanche de notícias negativas, vindas de todos os lados, acarreta-lhe a necessidade de um esforço redobrado a cada manhã. Levantar-se e, apesar de tudo, continuar com a esperança de que as coisas vão melhorar. Jogar para o futuro o que, por ora, está difícil de vislumbrar.

Acredito que, nesse instante, as combinações genéticas presentes no DNA é que falarão mais alto. Que bom se todas elas tendessem ao bem, ao correto e que estivessem a serviço da força interior, que deve animar o nosso corpo, bem como da luz que, igualmente, deve nos iluminar durante essa jornada.

Pois é desse tipo de DNA que iremos falar.

José Luiz Camboim Moni, que vive embaixo de um viaduto da BR116, em Esteio, é um fruto que, ao que parece, deu certo. Demonstra garra ao apegar-se àquilo que encontra ao seu dispor, a saber: conseguir estar entre os primeiros alunos de sua classe, com excelentes notas, cursando a 8ª série da Escola Estadual de Ensino Fundamental Ezequiel Nunes Filho, em Esteio. A mãe presente, nas mesmas circunstâncias de vida, é importante para o seu desenvolvimento. As condições em que vivem são bastante ruins: sob um viaduto, num constante barulho de um trânsito pesado e sob uma poluição, também constante. A reportagem, transcrita abaixo, revela detalhes da situação em que se encontram.

A partir da reportagem publicada em Zero Hora, na data de 05 de junho, a TVCOM levou ao ar uma entrevista, que pode ser acessada abaixo, com a jornalista Kamila Almeida e o fotógrafo Tadeu Vilani, autores da matéria.

Presente ao encontro, o ex-menino de rua Jorge Luis Martins, que viveu, conforme relato próprio, em situação de constante risco, absolutamente sozinho em nossa Capital, desde os 10 anos de idade.

Os pais de Jorge já não existiam mais há algum tempo e a avó que lhe dava apoio, acabou também por falecer, quando ele tinha apenas 10 anos de idade. É, também, um relato comovente e que a todos deveria motivar para que se tentasse encontrar soluções para tão graves situações existentes ao nosso redor.

Em uma ou outra situação, observa-se a presença de um familiar que é, no caso de José, ou foi, no caso de Jorge, figura importante na transmissão de valores. No caso de Jorge, a promessa à avó, em seu leito amparado por quatro tijolos, segundo suas próprias palavras, de que seria um homem de bem e alguém na vida, a partir de três valores: respeito, vergonha e trabalho. Diz, ainda, que agradece a Deus por ter chegado aonde chegou, mantendo a saúde mental.

Agora, é inquestionável que uma força maior, uma força interior, que extrapola todo e qualquer auxílio externo, acompanha a caminhada de alguns desses guerreiros do asfalto.

Isso, por outro lado, não nos desobriga como cidadãos a exigir a implantação de políticas que deem apoio a essas verdadeiras cruzadas “solitárias” em busca de sobrevivência digna.

No caso de Jorge, hoje adulto, escritor, corretor de imóveis, ator, possuindo uma locadora de veículos, ainda estudando, sua luta está registrada em livros, o que o credencia a dar palestras em escolas, levando a sua história a quem dela precisa como estímulo a vencer as dificuldades que, com certeza, são infinitamente menores do que foram as do palestrante.

Com José, acontecerá o mesmo. Num futuro, servirá de exemplo a outros tantos menores que vivem nessas condições precárias, por absoluta inércia de uma sociedade tíbia em exigir que o Estado concretize ações efetivas no encaminhamento, pelo menos, daqueles em que a luz interior ainda brilha intensamente, apesar de tudo. Aliás, José já é um vitorioso e um exemplo a tantos outros que, embora em condições privilegiadas, não se esforçam como ele, que recebeu diploma de melhor aluno do ano de 2012.


Parabéns ao José!

Fica o aplauso às pessoas que se sensibilizaram com o caso presente. Isso, porém, ainda é muito pouco. Restam muitos outros que já se encontram em completa escuridão.

Parabéns aos autores da matéria jornalística.

 
OLHARES QUE BUSCAM SÃO OLHARES QUE ENXERGAM.

POR ISSO, ENCONTRAM.


E isso faz toda a diferença.





 Menor Abandonado - Zeca Pagodinho
 
 
 

quarta-feira, 29 de maio de 2013


DE BOSQUES, PALMEIRAS, SABIÁS E... COQUINHOS

 
O som lembra o de aviões prontos para decolar. Um grid de largada para ninguém botar defeito: ali presentes os melhores. E a cidade a recepcioná-los. Um vasto lago como cenário, vias bloqueadas e um circuito, há tempo imaginado, para celebrar a festa da velocidade. Que cidade moderna! Tudo muito cul (cool) e, especialmente, clin (clean).

Agora, na verdade, faltam poucos detalhes. Aqueles entraves que perturbavam já foram, finalmente, removidos. Com isso até o lago saiu ganhando. A seiva, qual lágrima, que escorreu daquelas espécies em extinção junto ao lago, talvez tenha ajudado a encher, um pouco mais, o nosso reservatório. O que não se sabe é se a seiva, na escuridão da noite, escorreu para o lado certo, isto é, em direção ao lago. Alguma coisa, provavelmente, tenha se perdido. Quem sabe, encontrou pelo caminho algum gramado que a acolheu, benfazejo.

As espécies em extinção extinguiram-se novamente, uma vez mais. Com elas, também os gorjeios.

Mas o que isso importa? Temos os roncos dos motores, o início e a chegada, triunfante, das máquinas mais velozes. E elas, ao que se tem notícia, não tardarão a aparecer quando a Fórmula Indy aportar por aqui. Protocolo de Intenções já foi assinado em 2011, inclusive com um traçado planejado para a corrida, já esboçado.

Com o quê e para que nos preocuparmos, então.

Afinal, temos que dar um apigreide (upgrade) no nosso dia a dia. Tudo anda muito monótono: uma mesmice.

Por que manter uma paisagem que descansa o olhar? Para que uma sombra acolhedora, se posso espichar a cabeça para fora do carro e receber um “ventinho” no rosto que é puro gás nocivo.

Aliás, querem coisa mais antiquada do que bosques, palmeiras, flores, sabiás e ninhos?

Ah! Eu ia me esquecendo. Estamos vivendo em cidades. Nada disso é necessário. No máximo, uma pracinha com brinquedos e uma ou outra árvore para adorno. Porque para quem quer mesmo refrescar-se, vá ao xopin (shopping) mais próximo. Lá tem de tudo, até sombra de mentirinha. Algumas parecem ser verdadeiras. Devem ser transgênicas, coitadas. Quero dizer, coitados somos nós!

Gonçalves Dias, em sua Canção do Exílio, despeja poesia de louvor à pátria. Tão famosos tornaram-se seus versos que, dois deles, foram copiados e introduzidos, por Osório Duque Estrada, em 1909, autor da letra do Hino Nacional Brasileiro, como parte do hino, aparecendo entre aspas:

 
 
“Nossos bosques têm mais vida”,

“Nossa vida” no teu seio “mais amores”.

 

Verseja também o poeta sobre as palmeiras onde cantam os sabiás. Esse seu poema, transcrito abaixo, tornou-se um dos mais citados na literatura brasileira, bem como na nossa música popular brasileira.

Na literatura, vários poetas versejaram, sob o mesmo título, enaltecendo as belezas naturais do país, em especial, as palmeiras e os sabiás.

Gilberto Gil, ainda nos tempos da Tropicália, grava composição sua em parceria com Torquato Neto, onde faz referência à Canção do Exílio. Diz ele:

“Minha terra tem palmeiras/ onde sopra o vento forte da fome/ do medo e muito principalmente da morte”.

E não poderíamos deixar de lembrar a conhecida canção Sabiá, de Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, que diz:

“Vou voltar/ sei que ainda vou voltar/ para o meu lugar/ foi lá e ainda é lá/ que eu hei de ouvir uma sabiá”. E mais adiante:

“Vou voltar/ sei que ainda vou voltar/ vou deitar à sombra de uma palmeira/ que já não há/ colher a flor/ que já não dá/ e algum amor talvez possa espantar/ as noites que eu não queira/ e anunciar o dia”.


Canção essa em que o sabiá e a palmeira identificam a saudade que acometeu, à época, os exilados políticos.

 
 
 
Tudo isso dito acima para deplorar a atitude de desprezo com que o nosso meio ambiente vem sendo tratado.

Ah! Ia esquecendo, novamente, que estamos vivendo na cidade e não no campo.

Mas há quem afirme, pelo menos assim circula a notícia, que seu sonho é um mundo sem árvores. Pode?

Pode! Disse também o ilustre Senador:

“Esses radicais querem que o país volte a ser uma floresta só e que vivamos pendurados em árvores, comendo coquinhos por aí, como Adão e Eva”.

Esse cidadão é o Presidente da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado Federal. E é, também, o maior produtor de soja do Brasil. Que tal?

Resta-nos apenas lamentar tão desastrada afirmação. Renato Russo, já na década de 80, do século passado, compôs o conhecido Que País é Esse?

Urge que se atualize tal letra, porque as coisas só pioraram.

Quanto a nossa cidade e ao nosso lago, há que se fique atento. Os níveis de poluição, pelo ar e água, aumentam a cada dia. De repente, nem água de boa qualidade mais teremos.

É isso, por ora.

 
 
Não falemos da extração de areia que ronda e se avizinha. Tudo caminhando a passos céleres. 



QUERERES ( I )

Ah! Sombra que te quero tanto!

Ao teu pé, preciso perder-me a olhar este pôr de sol tão nosso.

Vê-lo, não envolto em névoa que engole a todos.

Preciso mantê-lo vivo e claro como o olhar de criança.

Preciso orná-lo com uma moldura de contornos verdejantes.

Tudo para contrastar com um lago, que ainda sonho, despoluído.

Nem precisa ser azul.

Basta ser pincelado com o verde das árvores que dele fazem espelho.

Soninha Athayde



 
 
 
 
 
 
 
 
Sabiá - Chico Buarque e Tom Jobim
 
 
  O Ano Passado - Roberto Carlos
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

quinta-feira, 21 de março de 2013

A PRESENÇA DELA
                                 É GARANTIA DE VIDA
 
O berço cálido, de um colorido especial, convida a um espreguiçar-se para melhor acomodar-se. Já está, por bom tempo, imerso em meio líquido.

Um dia, porém, verte suas primeiras lágrimas, frente ao estranhamento pela chegada de um novo tempo. Junto às suas unem-se outras, plenas de emoção, daquela mulher maravilhada pela imagem viva a debater-se, produto de seu ventre.

Nos momentos de grande sofrimento, de profunda alegria, de rara emoção, de êxtase, lá estará ela presente. Ela está sempre pronta a marejar nossos olhos, porque a sua fonte existe em nós desde sempre. Essa fonte é quem nos sustenta desde a concepção até o último suspiro. E nossa mãe sabe disso. Cuida para que ela não nos falte. Afinal, mais de 70% do nosso corpo é constituído por ela.

Mas e aquela outra que jorra, incansavelmente, das profundezas de seu ventre, essa dádiva essencial à nossa sobrevivência, vem tendo um olhar agradecido, um olhar cuidador, um olhar que todos os filhos, já adultos, deveriam ter para com suas mães?

Antes, não cuidávamos porque a fonte parecia inesgotável. Na verdade, ela até seria. Hoje, sabemos que, senão a cuidarmos, tornar-se-á absolutamente proibida ao uso que dela fazemos, tendendo ao exaurimento. Isso significa que as próprias culturas, criações, nossos alimentos, parte da energia existente, tudo estará seriamente comprometido.

Essa mãe, fecunda e pródiga no jorro desse alimento insubstituível, tal qual o leite materno, precisa de ajuda. Com a grande diferença de que esse alimento é necessário durante todos os dias de nossa vida e não apenas nos primeiros tempos.

Quando foi instituído pela ONU, em 1992, o Dia Mundial da Água, a Mãe-Terra agradeceu. Mas, isso representou, já à época, um sinal de alerta, porque, invariavelmente, quando se cria um dia para homenagear alguém ou algo, é sinal de que é absolutamente necessário e urgente que modifiquemos a nossa visão e atuação sobre tal assunto.

Sabemos que o Planeta Terra é composto, aproximadamente, de 70% de água. Desse percentual, 97,5% concentram-se nos oceanos, 2% nas geleiras e calotas polares e 1% destina-se ao consumo. Esses 97,5% são de água salgada. Apenas 2,5% são de água doce, distribuída da seguinte forma: 29,7% nos aquíferos, 68,9% nas calotas polares, 0,5% nos rios e lagos e 0,9% em outros reservatórios (nuvens, vapor d’água). Todos esses são dados aproximados.

O Brasil detém 53% do manancial de água doce na América do Sul e o maior rio do Planeta: o Amazonas. Desse manancial 72% estão na Região Amazônica, 27% na Região Centro-Sul e 1% na Região Nordeste.

Temos ainda vasto lençol freático, também chamado de Aquífero Guarani, localizado no subsolo do Centro-Sudoeste do Brasil, com 1.2 milhões de km2, estendendo-se o restante pelo Nordeste da Argentina, Noroeste do Uruguai, Sudeste do Paraguai e nas bacias do Rio Paraná e do Chaco-Paraná.

Temos ainda o Aquífero Alter do Chão, localizado sob os Estados do Pará, Amazonas e Amapá. São reservas de importância incalculável.

Mas de nada adiantará tais reservas, se não aprendermos a cuidar da água de que dispomos. A continuar essa marcha desenfreada de poluição, estarão também poluídas as reservas quando dela necessitarmos.

O que causa estupefação é que mesmo os mais poderosos, donos das maiores fontes de poluição, não se dão conta de que os efeitos, já presentemente nocivos em regiões de maior pobreza, um dia, fatalmente, atingirão comunidades mais abastadas, onde esses melhor aquinhoados se encontram.

Ou quem sabe, pensem que isso não os atingirá, esquecendo-se dos filhos, netos, bisnetos, e por aí.

Ou quem sabe, pretendam mudar-se para outro planeta. Já estão sendo feitas incursões nesse sentido.

Ou quem sabe, esperem dos cientistas fórmulas milagrosas que despoluam, por completo, as águas dos rios, lagos e mares.

Ou quem sabe, só se interessem por si mesmos, no aqui e o agora, enquanto por aqui estiverem. O depois, a eles não interessa.

Ou quem sabe, a ganância tornou-os cegos e surdos à evidência dos fatos que estão a ocorrer. E continuam a discursar em cima do engodo, da mentira, da desfaçatez.

Ou, melhor ainda, até não discursam. Apenas agem nos subterrâneos malcheirosos de organizações ditas de desenvolvimento.

De qualquer sorte, o meu Guaíba pede socorro, o nosso Sinos, o nosso Gravataí e outros tantos.

Quem sabe ainda possamos sonhar com a despoluição de alguns conhecidos e importantes rios do nosso Brasil.

A poluição hídrica é um fato gravíssimo. Somente através de muita conscientização e mobilização da sociedade é que se poderá reverter esse quadro devastador de despejo nos mananciais hídricos de esgotos domésticos, efluentes industriais, resíduos hospitalares, agrotóxicos, etc.

Que esse dia 22 de março nos leve à reflexão e à cobrança efetiva por medidas de estancamento do despejo de contaminantes em nossas águas. Que os cidadãos comecem a exercer, já tardiamente, o papel que lhes compete, que é: cobrar das autoridades constituídas tais medidas.

Não esqueçamos que ÁGUA É VIDA, DESDE QUE ESTEJA SAUDÁVEL.

 

Agora, o fato incontestável é que essa dádiva, que nos alimenta desde sempre, serve de tema para inúmeras e belas músicas, cujas letras falando dela, da água, são pura poesia. Cassiano Ricardo, Membro da Academia Brasileira de Letras (cadeira nº 31, 1937), definia Poesia “como sendo uma ilha cercada de palavras por todos os lados”. Seria como afirmar que Poesia é o fenômeno criador, presente aí a figura do poeta, que transforma em linguagem as emoções, os impulsos ou suas reações frente a uma determinada realidade.

Segundo definição de Antônio Soares Amora, historiador literário brasileiro, “o poema é a fixação material da poesia, é a decantação formal do “estado lírico”. São as palavras, os versos e as estrofes que se dizem e se escrevem, e assim fixam e transmitem o “estado lírico” do poeta.
Então, quem sabe, um dia, possamos nos apropriar da água que nos cerca e fazê-la um verdadeiro poema, visível aos olhos, transformada, pelas ações corretas do homem, em pura poesia.

Assim como as ÁGUAS DE MARÇO que fecham nossos verões, bela canção interpretada pela saudosa dupla Tom Jobim e Elis Regina, que, também, é pura poesia.






Assista ao vídeo abaixo. Obtemos, através dele, um retrato da situação atual da água no planeta e seus prováveis e terríveis desdobramentos, se acaso medidas não forem urgentemente tomadas.



Documentário Ouro Azul: A Guerra Mundial pela Água.
 
 
Águas de Março - Tom Jobim e Elis Regina
 
 
Planeta Água - Suzy Noronha