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quarta-feira, 5 de agosto de 2015

HORIZONTES ...

Olhos fixos na lua. Distante, cheia de sombras e de um relevo que não entendia. Nela, a guriazinha via uma orquestra pronta para se apresentar. Eram tempos em que a música fazia parte constante no dia a dia daquela menina, já apaixonada pela lua.

Nuvens negras que nem um tição e um vento zunindo forte. Hora de carregar os brinquedos para debaixo da casa, para um cantinho só seu.

Frio intenso e a geada que branqueia o gramado da casa. Olhar que se esconde por detrás da vidraça e que se surpreende com o verde que se transforma num branco. Um branco quebradiço que cobre quase tudo, com exceção de Netuno que se recolhe ligeiro para qualquer recanto protegido, sacudindo o pelo.



Horizontes distantes ao olhar, bem como cenários tão próximos quanto à distância da vidraça até o gramado.



Mais adiante no tempo, novamente a lua pousada sobre a cama fazendo parceria com quem com ela sempre andou junto. Agora, porém, num ménage à trois. Horizontes que se aproximam, embelezando o momento.

Bem antes, o sol batendo no rosto a cada subida do balanço nos fundos do pátio.

Num vaivém do tempo, a lua, vista por entre grades, assistindo ao olhar prisioneiro que impacta o momento. E ela despejando uma luz de esperança por melhores dias.

Bem mais próximo, uma réstia de sol, por entre as árvores, mistura névoa com uma umidade luminosa.

Um pouco antes, a estrela-guia que, numa noite estrelada, apontou o caminho a tomar na manhã seguinte.

Manhãs, tardes e noites que se sucedem. Todas diferentes, todas desenhando no céu singulares formas que o olhar, igualmente diferente a cada dia, vai captando e recriando sob a forma de uma prosa descompromissada. E tudo acaba por tornar-se uma necessidade íntima de registrar no papel em branco o que a visão previamente já escolheu.

Assim, vai-se pavimentando o caminho de quem busca expressar pela palavra escrita o que de belo nos cerca: a nossa morada por debaixo desse céu.



Horizontes e cenários que se misturam.

O longe, o infinitamente longe, com a quase tangível proximidade. Cenários que se abeberam no insondável infinito que nos cerca.

Imagens que conosco compõem cenários. Distantes horizontes que alimentam nossos sonhos, nosso imaginário. Precisamos deles, os horizontes, cada vez mais. Talvez, um dia, possamos vê-los fazendo parceria com cenários de seres abraçados, dando-se as mãos. Que cada um de nós e todos em conjunto possamos apreciar o espetáculo que nos é dado desfrutar todos os dias: ao alvorecer e ao entardecer. E que a noite consagre a nós a luz da lua a iluminar nossos sonhos.

Sonhos que se transformarão em realidade sob o brilho intenso de outra luz: a do sol. Luzes tão distantes para cenários tão próximos a nós. Cabe a nós, e somente a nós, fazê-los mais fraternos, mais produtivos, mais acolhedores.

Quem sabe assim possamos até nos tornarmos mais atrativos para alguma forma de vida ainda desconhecida, ainda tão longe de nós. Para tanto, lançamos, há mais de nove anos, aquela que vai à busca de não se sabe bem o quê. A New Horizons carrega toda a técnica existente, toda a expectativa e o desejo de encontrarmos traços de vida para além do horizonte já alcançável. Ela é uma sonda que nos dá a dimensão de tempo, de velocidade e abrangência que se propõe a executar. Tudo pelo desconhecido, mas que nos acalenta o sonho de não sermos únicos neste vasto universo.



Por ora, agradeço pelas imagens e cenários que até hoje me acompanham. Ambos, com certeza, também fazem aniversário comigo, considerando a trajetória amena que com eles venho traçando.

Ah! Esqueci!

Que as estrelas sirvam de ponte iluminada para que eu a atravesse de forma constante, num vaivém entre sonhos e realizações, e continue fazendo acontecer.



Salve o dia 5 de agosto!



Que a Via Láctea, trecho XIII, de Olavo Bilac, sirva de inspiração para quem ainda não se deteve a falar com elas, as estrelas.

A seguir, ouçam um samba iluminado pelas estrelas.



Boa leitura e audição.






Estrela – Zeca Pagodinho e Monarco 







segunda-feira, 13 de julho de 2015

EM BUSCA DA LUZ VERDADEIRA... ESSE É O PLANO


Com a mãozinha na beira do poço, espia lá pra dentro, pra o escuro. Nada enxerga. Nem consegue ver onde é o fundo.

A imaginação continua. E se fosse o contrário? E se estivesse lá embaixo, no escuro? Ela, a luz, acenaria lá de cima, da beira, como a indicar uma rota de fuga. A sensação seria diferente.

Quem, naquela idade, gostaria de penetrar no escuro sem saber aonde iria dar aquele caminho desconhecido.

A luz, por outro lado, por mais tênue que seja e por menor o ponto iluminado, sempre indicaria uma possibilidade de encontro com algo mais promissor do que a escuridão absoluta.

Visões infantis transformadas em pensamentos amadurecidos pelo tempo.

A luz ilumina e nos afeta com a intensidade em que é projetada ou com a intensidade que nos permitimos enxergá-la.

A luz branca do poste, que ilumina o chão, será menos ou mais intensa dependendo do olhar de quem observa e, principalmente, se este olhar enxergar aquele que jaz envolto em trapos no meio-fio da calçada. Será possível colocar um pouco mais de luz neste vulto?

Se a conscientização fizer parceria com a tomada de atitude, valerá um olhar mais demorado porque ele indicará uma luz a perseguir-se: exatamente como aquela que conduz da escuridão do fundo do poço à luz que emana da sua beira.

Uma luz é o que se persegue.

Que venha do sol que ilumina o dia.

Que venha da lua que ilumina a noite.

Que venha da justiça, da igualdade e da fraternidade que iluminam a sociedade.

Que as sombras não nos pareçam reais, pois não o são. São apenas sombras.

A luz que brilha fora da caverna é a que nos deve guiar. O olhar contra a parede e a iluminação a nós imposta tem que ser subvertida. A luz que se busca é aquela capaz de abrir as mentes e tocar os corações.

A evolução do ser humano só acontecerá quando as condições para tal forem conscientizadas e buscadas por ele próprio. Pela conscientização da importância de si mesmo como espécie.

É um trabalho árduo que pressupõe a capacidade de percepção do que nos cerca: das artimanhas em que estamos envolvidos.

A globalização, até certo ponto, facilita esta conscientização, pois há inúmeros exemplos, em diversos segmentos de sociedades tão diferenciadas, que possibilitam uma observação geral do que já deu errado, do que está dando errado ou do que ainda parece ter salvação.

Tudo indica que estamos a viver de imagens fabricadas e que passamos a concebê-las como realidades. As telas transformaram-se em paredes onde depositamos o olhar opaco, já sem luz, porque a luz verdadeira está lá fora. Está no parque, nas calçadas, nos viadutos, nos pátios, no convívio, no olhar do outro.

Na caverna de Platão e mesmo na de Saramago, mais próxima a nós, temos uma luz irreal, uma luz que não nos ilumina, que não deveria fazer parte de nossa caminhada. 

A verdadeira luz é outra.

Buscá-la: deve ser o plano individual.

Expandi-la: o plano universal.

Senti-la: aquilo que nos fará evoluir.


Uma luz em que o espectro apresente todas as cores, todos os matizes, todas as variantes: assim como são constituídos os mais diversos seres humanos.

Saiamos em busca. Para tanto, exige-se muito esforço.

Esse é o plano.

Afinal, estamos a falar da nossa sobrevivência como espécie.

Não valerá a pena o esforço?



De resto, façamos como escreveu Mario Quintana: 


Ou como Nelson Cavaquinho e Elcio Soares que souberam transpor esta mesma luz na composição Juízo Final, música cantada pelo próprio Nelson, com imagens resgatadas de apresentações do artista.

Que esta luz vingue para a nossa salvação como espécie.




Nelson Cavaquinho – Juízo Final 








sexta-feira, 24 de abril de 2015

O VAZIO PLENO

O cheiro de bergamota, o do caqui-chocolate e o da laranja no pé...

O barulho do balde batendo na água, no fundo do poço...

O banco de praça servindo de mesa para o café da manhã da Mariazinha e do Joãozinho, bonecos tão amados...

O galpão que guarda tantas quinquilharias...

O balanço que carrega Juquinha de cá pra lá, de lá pra cá...

A cortina que esconde o presente de Papai Noel...

A parreira que quase não dá uva, mas compensa com uma sombra benfazeja...

Um cachorro que cuida do pátio e caça minhocas quando essas se aventuram para fora do canteiro das hortaliças...

Um olhar que procura a lua, pois sabe que é de lá que vem aquela luz que fascina e que mostra o caminho do céu...

Um caramanchão de flores que enfeita o portão de entrada do jardim...

Uma parede de hortênsias, quase sempre florida, enfeitando a janela do quarto...

Um porão que guarda um pote de manteiga, em dias extremamente quentes, para conservá-la fresquinha, pois não se tinha ainda adquirido o tão sonhado refrigerador... 

E que guarda mistérios, por vezes...

A cerca que esconde por entre as tábuas a figura da amiguinha que, de quando em quando, aparece para brincar...

Os pintinhos que acompanham a galinha Mindinha, todos juntinhos, na caminhada matinal...

A colmeia, muito respeitada, existente no fundo do quintal e só visitada por quem sabe colher o mel...

A pata Isadora que acabou morrendo por causa do galo Teodoro. Evento que, à época, ultrapassou a compreensão infantil...

Uma casa, um pátio, um jardim, um céu...

Uma menina sozinha e muitos livros: um universo para viver e sonhar.



Era uma solidão plena. Plena de imaginação, de cenas criativas, de sonhos e também, por vezes, do medo do desconhecido que se colocava fora do portão de entrada da casa. Nada tão assustador, porém, que não se desintegrasse pela alegria de percorrer poucos metros até alcançar outro portão: o da primeira escola que a menina passou a frequentar a partir do 1° ano.

Uma solidão que se desfez no encontro com os colegas de aula e na relação com os professores, que sempre tanto prezou.

E tudo mais ainda melhorou quando iniciou os estudos de música. Como afirmava Arthur da Távola, reconhecido jornalista, escritor, professor e um grande conhecedor da música clássica e erudita:

“Música é vida interior. E quem tem vida interior jamais padecerá de solidão.”

Um aparente vazio. Nada que um pátio desafiador, que a música, os livros, a lua e as estrelas não tenham preenchido.

E quando o dia anoitecia a imaginação percorria os campos férteis, lavrados ao sol e regados pelo suor das atividades desenvolvidas ao longo desse dia.

E assim caminhava a menina.



Nos embates do cotidiano, ela continua ouvindo, lendo e criando, sempre que possível.

E, principalmente, olhando, observando, conversando... E, novamente, olhando, percebendo, sentindo...

Sentindo, como se naquele pátio ainda estivesse.

Imaginando, como se aquela lua e aquela estrela fossem suas companheiras permanentes. E elas o são, ainda.

Criando, como se tivesse por missão preencher o constante vazio que deve estar para sempre pleno. Pleno de sonhos e de ações concretas. Pois é isto o que somos: aquilo que sonhamos. Para tanto, a menina acredita que deve fazer acontecer.

Esta é a verdadeira solidão plena e produtiva: aquela em que se tem espaço para sonhar e para fazer acontecer. Reconstruir com os pedaços um novo todo: é sempre desejável. 

É o que se busca com o poema RESCALDO. Transpondo-se para o universo infantil, AQUELE BICHINHO traz o desejo expresso de “reconstrução” e “continuidade” por quem tem nas mãos tal possibilidade. Neste, a ternura e a fantasia andam de mãos dadas. Em ambos, é bom estar preparado, sempre, para um novo recomeço. Um lugar em que o vazio não se instale, pois um recomeço é a capacidade de torná-lo pleno: pleno de sonhos e de realizações.

Vazio? Que vazio?

Seres pensantes nunca se encontram vazios. Pensar já é um exercício. E que exercício!

Há quem considere a possibilidade concreta do vazio pleno ou do alcance de uma espiritualidade profunda, desapegada de tudo e de todos. Deixemos isto, porém, para o depois. O depois que não exija nada mais de nós: nem o ato de pensar. Aí, quem sabe, o vazio finalmente apareça. Isto, porém, deve ter existência em outra dimensão.

Fiquemos, por ora, com a capacidade única de sermos criaturas e criadores de novas criaturas. E isto, com certeza, torna o nosso vazio totalmente pleno. “Dá um trabalho danado”, mas é extremamente gratificante.

Trazermos os sonhos de infância e a imaginação criativa, que nos acompanha desde sempre, para um cotidiano de realizações pessoais. Este é o nosso destino por aqui. Ou não é?


Relembrem a música VELHA INFÂNCIA, composta por Arnaldo Antunes, integrante do Trio Tribalistas, que busca na letra aqueles referenciais infantis do amigo, do canto, da dança, das brincadeiras, do clarão da lua, da escuridão, tudo o que nos torna seres sonhadores, pois de sonhos somos construídos. E é na infância onde eles brotam. E temos de tê-los, mesmo que utópicos.


Eduardo Galeano, nosso reconhecido escritor sul-americano, recentemente falecido, afirmou que a utopia serve para que não deixemos de caminhar. Caminhar, digo eu, em busca deles: os sonhos.









Velha Infância – Marisa Monte 









sábado, 14 de março de 2015

EXALTAÇÃO!

Tudo já está nas enciclopédias e todas dizem as mesmas coisas. Nenhuma delas nos pode dar uma visão inédita do mundo. Por isso é que leio os poetas. Só com os poetas se pode aprender algo novo.
                                         (Do Conhecimento, Caderno H, p. 165)


Mário Quintana, de forma irônica e com senso de humor, trata o fazer poético, que era mestre, como uma força poderosa de enriquecimento do conhecimento: pela simples visão inédita do mundo, como afirma.
Assim, digo eu, é possível aprender que uma lua pode revirar os olhinhos ou desviá-los só para não constranger o casal que está amando, como em:





Esta lua é tão viva, tão partícipe, tão antiga, que já faz parte do olhar de quem com ela tem parceria.
Assim como vivas são as imagens do trecho extraído de DELÍRIOS de Manoel de Barros:

Eu estava encostado na manhã como se um pássaro à toa estivesse encostado na manhã. Me veio uma aparição: Vi a tarde correndo atrás de um cachorro. Eu teria 14 anos. Essa aparição deve ter vindo de minhas origens. Porque nem me lembro de ter visto nenhum cachorro a correr de uma tarde. Mas tomei nota desse delírio. Esses delírios irracionais da imaginação fazem mais bela a nossa linguagem.
E ainda:

Sapo é um pedaço de chão que pula”. 
Até as pedras da rua choravam”.


Gabriel Perissé, em seu livro A ARTE DA PALAVRA, páginas 119 e 120, diz a certa altura:

“O escritor é um ser humano. Sente o divino prazer de ser humano. Um ser humano comum. Que pega ônibus. Que fica na fila de um banco. Mas carregando uma luz... iluminando essa fila, o que nela existe de kafkiano, de cruel, de cômico, de insensato, de sugestivo... iluminando os episódios corriqueiros que acontecem dentro de um ônibus. E essa luz torna o ônibus mais ônibus, mais real, tão real que chega a ser surreal... Mais impressionantemente real do que podemos perceber na nebulosa rotina do dia a dia”.

E, mais adiante:

“O que ilumina é a convicção. A convicção de que há uma força simbólica na realidade, nas palavras, e que essa força, percebida, identificada, oferece novo alento à nossa vida”.

E esta palavra, cuidadosamente buscada, metaforicamente usada, é que fornecerá estilo, tornando-se este eterno.

Shakespeare, no trecho que segue, exalta a metáfora, tão usada pelos poetas. Com certeza, é ela quem dá precisão à linguagem poética.


(do livro A Poesia – Uma Iniciação à Leitura Poética – Armindo Trevisan, páginas 236 e 237)


Diante do que já foi exposto, acredito que esteja plenamente justificado o título desta crônica. Uma EXALTAÇÃO, neste dia 14 de março, à arte de poetar e um aplauso a todos aqueles que a este ofício se dedicam.

VIVA O DIA NACIONAL DA POESIA!

 Sintam-se motivados com as sugestões que seguem:
“Eu acho que todos deveriam fazer versos. Ainda que saiam maus, não tem importância. É preferível, para a alma humana, fazer maus versos a não fazer nenhum. O exercício da arte poética representaria, no caso, como que um esforço de autossuperação. É fato consabido que esse refinamento do estilo acaba trazendo necessariamente o refinamento da alma”.
 (Mário Quintana, Caderno H, p. 24 – trecho extraído do epigrama A POESIA É NECESSÁRIA)


ME ENSINA A ESCREVER, composição de Oswaldo Montenegro, incentiva-nos quando diz que não sabe se o poema é bonito, mas sabe que precisa escrever




Me Ensina a Escrever – Oswaldo Montenegro 





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Comentários via Facebook:

Elizabeth Remor: Parabéns Soninha Athayde, excelente homenagem! Abraço dourado.

Amelia Mari Passos: Não há palavras.Nada será justo.Amo- te - ler. Obrigada. "Não sabe se o poema é bonito, mas sabe que precisa escrever." assim é .

Maria Odila Menezes: Parabéns Soninha! Mais uma vez me encantas com a tua Crônica. Trechos que ficaram na minha memória:" O que ilumina é a convicção." "Eu acho que todos deveriam fazer versos."

Zaira Cantarelli: Soninha Athayde, transmites msg de sabedoria, refletes um aprendizado íntimo, humano, poético. muito bom te ler ! Escrever é a arte do voo onde a gente se transporta a um outro mundo para parir versos e é tão bom qdo os amigos curtem o q escrevemos, mas infelizmente apenas alguns, os verdadeiros (no meu caso).

Rosane Luft: Sonia no meio de tantas notícias ruins ler uma poesia é tudo de bom, nos faz acreditar que a vida é possível. um abraço