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quinta-feira, 16 de agosto de 2018

CUTUCANDO...



Há oitenta anos, surgia a teoria dos ventos solares supersônicos, desenvolvida pelo astrofísico Eugene Parker, ainda vivo. Observações e estudos, feitos daqui do chão deste nosso planeta, serviram de base para esta aventura científica iniciada neste dia 12 de agosto de 2018.

O que acontecerá ao longo dos previstos 7 anos desta missão espacial, levando a sonda Parker Solar Probe? Ninguém sabe.

O que Mariazinha se lembra daquela época, em que o mundo científico não era tão aberto ao público em geral, era a observação da mãe sobre os girassóis.

Claro, não existia a Internet. Mas já existiam os girassóis e o encantamento pela natureza. Aquela que nos cerca até hoje, ao nível do olhar, do tocar, do sentir, do ouvir, do sonhar, do imaginar.

E os girassóis, assim como nós, já buscavam aquela fonte de calor, de vida. Nós, porém, ainda buscamos algo mais. Depositamos nosso olhar naquele poderoso astro e, com o coração receptivo, encontramos a emoção-contemplação, aquela que nos permite usufruir o sabor do mundo, o sabor da vida. Aliás, tudo que é grandioso, poderoso, invencível, tem que ser apreciado à distância. Tal como um leão dentro da jaula. Deixá-lo ali e admirá-lo ou soltá-lo e mantê-lo em longínquas selvas.

Quando, entre as venezianas, aquela luz brilhante ali aparecia era uma festa para Mariazinha. Era sinal de que poderia brincar no pátio à vontade. Com o tempo, o pátio transformou-se em praça e era melhor ainda ter sua companhia.

Ao admirá-lo quem não se encanta?

Seja ao alvorecer ou num entardecer sua beleza é indescritível. E, ao longo do dia, sua força torna-se imprevisível e todo o cuidado é pouco.


Convenhamos que, se perto dele chegarmos, não nos servirá pra nada. Lá, jamais poderemos aportar. Só é belo e útil à distância. Além do que a soma astronômica de US$ 1,5 bilhão (1 bilhão e meio de dólares) seria melhor aplicada para resolver problemas de milhões de pessoas que vivem na pobreza. Provavelmente, este incalculável valor tenha sido auferido de movimentos predatórios em tantos países espoliados, cujas populações vivem na indigência.

Mas quem se importa?

O que importa, segundo os cientistas, é obter dados que possam prever quando uma tempestade solar poderia afetar a Terra. Pois as tais partículas energéticas podem liberar tempestades geomagnéticas espaciais, causando a interrupção da rede elétrica em nosso planeta.

Meus caros!

Façamos uma prece aos ventos para que se mantenham e que nossa energia se transforme em eólica. Achei a solução!

Agora, não consigo achar solução para a perda do encantamento e, principalmente, para a reação que o nosso astro-rei pode ter quando for cutucado mais de perto.

Cuidado, senhores cientistas!

Não destruam o encantamento que acompanha o desconhecido, pois, se revelado, poderá estressar os poetas de plantão que têm olhos para estas belezas que compõem o nosso Universo.

O Universo para um poeta é fonte inesgotável! Sua origem é como a origem de um poema que, quando surge: nem seu autor sabe de onde.

Mas os olhos, que nele pousarem, sairão diferentes. Assim como aquele que repousa o olhar num entardecer brilhante pela luz de um Sol distante, mas ainda presente.

Lembrem-se das futuras “Mariazinhas”. Ah! E dos girassóis!


Em tempo:
O alerta fica por conta do ocorrido com Ícaro, filho de Dédalo, herói grego, que teimou em se aproximar demasiado do astro-rei.




 Uma homenagem da Banda Astro Rei ao Sol






segunda-feira, 16 de julho de 2018

“ESTE” TEM HISTÓRIA



Quem diria!

Ele é que, com seu canto, nos anuncia o início de um novo dia, depois de uma noite de trevas. Ele nos desperta anunciando que a escuridão acabou, pois a luz fez-se novamente. Ele é, para algumas culturas, o símbolo da ressurreição solar e espiritual.

Diante dessa constatação, só nos resta saudá-lo, após o placar que o reconheceu como suficientemente capaz de vencer o adversário e, portanto, estar à altura do título.

Já tinha assim ocorrido em 1998, quando a mascote Footix, já referida na crônica NO MUNDO DOS ANIMAIS, publicada em 5 de julho de 2018, venceu o pobre Canarinho por 3 a 0 em pleno Stade de France, na cidade de Saint-Denis. Lá, o Galo conquistou a sua 1ª Copa do Mundo, tornando-se campeão pela primeira vez.

Na realidade, a história desse Galo é bastante antiga e remonta aos tempos em que a França fazia parte da Gália e os gauleses o povo então dominante. Na época, os romanos davam as cartas. Tudo aconteceu por conta da semelhança do termo latino gallus que significa galo, como registra o Dicionário Escolar Latino-Português do Prof. Ernesto Faria, 4ª edição, 1967, pág. 422 que, também, refere o item 2, descrito abaixo:
1- Gallus= galo

Gallus in sterquilinio suo plurimum potest= O galo é soberano no seu galinheiro (Sên.Apoc.405)

2- Gallus= um gaulês, habitante da Gália. Para os franceses, Gaulois.

Agora, o tal “galo” foi, durante a Revolução Francesa, um símbolo de vigilância e valentia.

Já para os chineses o Galo está associado ao conceito de Yang, isto é, aquele que traz calor, luz e vida ao Universo.

Toda esta simbologia está atrelada a uma lenda chinesa que explica como a Terra, recém-criada, vivia sob seis sóis. Isto tornava inviável o cultivo dos campos semeados, pois eram totalmente queimados.

Houve a tentativa de destruição desses seis sóis. Mas foi tudo em vão. Até que um arqueiro, vendo estes sóis refletidos em um lago, alvejou-os de forma certeira, fazendo-os desaparecerem. Um deles, porém, escondeu-se atrás de uma montanha.

No dia seguinte, a escuridão era total. Os camponeses desesperados tentaram, então, assustá-lo com um rugido de tigre, para que ele saísse do esconderijo. Não funcionou, porém.

Tentaram, após, o mugido de uma vaca. Nada conseguiram. O Sol recusava-se a aparecer. Estava muito assustado.

Daí, como última tentativa, um galo foi trazido por um camponês.

E o galo cantou. E o Sol, maravilhado, saiu detrás da montanha. E brilhou para sempre.

O galo, por sua vez, recebeu como prêmio uma coroa vermelha.

Desde então, este nosso Sol maravilhoso é acordado pelo canto do galo.

E as qualidades desse galo estendem-se por várias culturas, em especial, a chinesa e a japonesa.

Agora, não nos esqueçamos da tradição cristã da Missa do Galo. Este cantar, após o nascimento de Jesus, anuncia o nascimento de uma nova luz para o mundo e de uma esperança renovada para a Humanidade.

Poder-se-ia ficar ainda, por muito tempo, refletindo sobre a simbologia do que representa o galo em algumas passagens bíblicas. Não é este, porém, o objeto desta crônica.

Hoje, o galo, animal, com toda a sua retrospectiva histórica superou aqueles 3 leopardos ferozes que foram anestesiados pelo canto pleno de tons maiores e menores. Numa partitura que teve pausas e acelerações. Uma pauta recheada de legatos e staccatos.

Tudo para que, ao final, o Hino soasse como a vitória final da competência de jogadores, imigrantes ou filhos de imigrantes em sua maioria, sobre o invejável esforço e garra da equipe adversária. Uma competidora que passou para a história do futebol como uma equipe aguerrida, que demonstrou ser capaz de, quem sabe, erguer a Taça tão cobiçada na próxima Copa do Mundo. Aliás, Luka Modric foi eleito o melhor jogador desta Copa de 2018.

À bicampeã, os aplausos merecidos.

Ah! Este GALO não foi zebra.

Ele tem “História”!










sexta-feira, 15 de setembro de 2017

O GRANDE CÍRCULO



Impossível prendê-lo, nem segurá-lo. E é devastador!

Parte das entranhas da Terra. E de lá surge com diversas denominações. São primos e mais primos que podem surgir, inesperadamente, e levar a todos e tudo de roldão.

Há, porém, aquele outro desconhecido, imaterial, invisível, que surge não se sabe de onde, do Universo infinito, tão devastador quanto os primeiros. A diferença é que surge, normalmente, mais lentamente, sem atropelos, sem a força aparente de um cataclismo.

É com ele que lidamos desde o abrir de olhos, encerrando-se seu ciclo sem saber-se a hora e nem as circunstâncias.

Sobre os primeiros, talvez, tenhamos uma chance maior de evitá-los.

Sobre o último, nenhuma chance.

Assim, tudo que é passível de movimentação, ruído, calor, frio, dá-nos a possibilidade de preparação e, quem sabe, salvar-se de seus estragos.

Aquilo que flui, porém, não se sabendo de onde vem e nem a quem atingirá: é profundamente imprevisível.

E, quando atinge o seu alvo, tudo termina.

Terminará?

Não há ruído que o anuncie. Não há ruído pelo qual se consiga percebê-lo. Mas há um ritmo indelével, vindo de não sei onde, que nos convida a desfrutá-lo, reconhecendo seu encantamento e bailando num ritmo que nos abriga num grande círculo: o círculo da vida.

É por demais voluntarioso e nos tira do sério quando algum de nós é retirado deste círculo, descompassando a nossa dança das horas.

Aqueles primeiros aparecem quando as condições do planeta os favorecem.

E aquele segundo, chamado Tempo, aparece a qualquer momento, sob qualquer circunstância, ao alvedrio de quem tudo rege, eliminando dançarinos que já não comungam do mesmo ritmo. Aquele ritmo inaudível por todos nós.

Como todos são excelentes dançarinos, mesmo aqueles que se arrastam pelas calçadas da vida, acredita-se: todos irão mudar apenas de círculo.

Com certeza, haverá um círculo mais abrangente e bem mais sereno, pois estarão todos sob o manto de uma eterna proteção e de uma placidez, também, eterna.

Portanto, nos preocupemos com os desastres naturais, porque em parte previsíveis.

Desfrutemos, porém, do tempo que dispomos para iluminarmos o olhar, aguçarmos os ouvidos, sonharmos com uma paz que nos envolva a todos num grande círculo amoroso. Tudo ao ritmo imperceptível do Criador.

Afinal, nosso tempo é diferente do tempo de um furacão.

O nosso se propaga por ondas mais sutis, impossível ouvi-las e prever o seu desfecho.

Ah! Ia esquecendo...

E assim fica difícil de gravá-las para, depois, usá-las como argumento contra outros componentes deste grande círculo, ou a nosso favor, no ato marcado para o Dia Final, aquele da Prestação de Contas.

Aliás, convenhamos, recurso desnecessário frente ÀQUELE que tudo sabe, tudo ouve, tudo percebe.



 Oração ao Tempo - Caetano Veloso, 1979








sábado, 12 de novembro de 2016

UMA HOMENAGEM ÀQUELE QUE IMITA A VIDA...










Logo estarei de volta ao lar antigo. Trouxeram-me para passear.

Alimento-me dos olhares e de quando me pegam, me tocam.

Gosto mesmo é de quando me levam, pois troco de lar. O que, aliás, é o de que mais gosto.

Enquanto não volto ao lar antigo, vou curtindo o sol bem de perto e a lua quando, por acaso, está iluminando a praça, como nesses dias de Super Lua.

Todos os anos, saio para passear. É uma vez ao ano, são apenas alguns dias, mas vale a pena aguardar tanto tempo. Fico muito bem-instalado numa barraca. Acordo ao som dos pássaros, o que é uma bênção. Não que a casa, onde me encontro o resto do ano, seja ruim. Lá, também, sou bem-tratado. Na verdade, é onde reflito e concluo que meu nascimento é muito parecido com o daquele de cujas mãos nasço para o mundo.

Tenho, também, um tempo para vir ao mundo. Às vezes, nasço de forma rápida. Em outras, levo até bastante tempo. Muitas vezes, desistem de mim e tenho que penar uma dupla frustração: a minha e a do meu criador.

Agora, quando venho ao mundo, sou pura alegria. Também, em dose dupla. Represento o produto lapidado e muito amado de meu mestre: aquele que acreditou na materialização de um sonho, de um desejo e até mesmo de um projeto de vida.

Saio daquelas mãos calorosas para o mundo. Sou porta-voz das emoções, dos sentimentos, dos reveses e aflições, das alegrias e louvores de quem acreditou que eu poderia, materializado, tornar-me uma extensão daquele ser criador. Coloco-me na condição de um descendente daquele ser que me criou. E nessa condição, saio pelo mundo.

E vou conquistando olhares, afagos, comentários.

Dependendo dos locais onde me encontro, minha exposição é mais visível, mais próxima, mais livre, mais face a face com quem me olha.

Por isso, adoro este passeio anual pela praça que me acolheu tão bem desde o início desta minha peregrinação pela cidade. E já são mais de sessenta anos.

De lá, posso voltar para o lugar de onde saí ou ir para outro lugar desconhecido, mas já, de antemão, desejado por mim. Tenho certeza que isto, também, é o que mais deseja meu mestre/criador.

Posso ser motivo para a oferta de um presente. Às vezes, isto deixa-me apreensivo, porque já aconteceu de me jogarem num canto, ficando eu ali: abandonado.

Na maior parte das vezes, porém, sou afagado, folheado com todo o cuidado e colocado em um lugar seguro, para que eu me conserve por muitos e muitos anos. Fico eu ali para o desfrute de quem me quiser afagar.

Agora, o meu tempo de vida é insuperavelmente maior do que a do meu criador.

Não tenho tempo para acabar. Aliás, posso nunca acabar. Tenho esta vantagem em relação ao meu criador. O que, de certa forma, é uma bênção para mim, mas, também, para quem me criou.

Aquela reflexão que me gerou, aquelas ideias que me tornaram algo importante, que me transformaram num portador de possibilidades, de soluções, de conceitos, de descobertas, de plasticidade nas imagens, quando assim também me adornaram, de emoções confundindo-se com a razão pura, de sonhos, tudo aquilo que leva às gerações futuras um conhecimento do acervo inestimável de culturas as mais diversas e remotas: isto tudo sou eu. Ao fim e ao cabo, somos eu e meu criador peças importantes no processo civilizatório da humanidade.

Tenho a pretensão de ser um imitador da vida.

Nasço para ela depois de algum tempo.

Dependo, nos meus primeiros passos, de alguém que me cuide. Desejo que me olhem e me afaguem: que me queiram próximo. Posso expressar um conjunto de muitos sentimentos. Transmito muitas ideias, muitas possibilidades. Por isso, posso ser fonte do aparecimento de outros seres semelhantes que a mim se juntarão nesta diversidade de assuntos e paixões.

Confesso que tenho a autoestima elevada, pois tenho a convicção de que sempre terei alguém interessado em mim. Mesmo quando eu estiver atirado num meio-fio de calçada, alguém, que também lá estiver, pousará os olhos curiosos em mim e trará para junto daquele cobertor surrado e sujo o meu corpo feito por páginas e páginas, já meio desgastadas, mas ainda plenas de palavras e, também, muitas vezes, de imagens.

E isto foi exatamente o que meu mestre/escritor encontrou em uma rua de seu bairro.

E o corpo era um livro infantil: Alice no País das Maravilhas.

Com certeza, sua leitura serviu àquele morador de rua, nem que por um tempo curto, de alento para os sonhos daquela noite que já se iniciava. De um mundo subterrâneo, que tão bem conhece, para um País das Maravilhas que ainda espera que exista: um sonho com o qual adormece.


Agora, devo confessar que me sinto profundamente frustrado quando chega aos meus ouvidos a notícia de que tiveram contato comigo, mas nem percebi, não soube, não senti. Sou tomado por uma sensação de vazio. E se eu for jogado às nuvens? E se eu por lá permanecer para sempre? A tela fria é algo que me tem incomodado.

Nem quero mais falar disto. Fui!


Estou voltando para a praça. Afinal, esta foi apenas uma pequena digressão que me permito uma vez ao ano.

O tempo urge e tenho que aproveitar os últimos dias para me expor, para me fazer amar: para encantar.



E só para corroborar minha tese, de que possuo corpo e alma, leiam estes três pensamentos de Mário Quintana, publicados no Livro “Caderno H”, Editora Objetiva, 2013.








Ou, ainda:




Eu acrescentaria que, quando te faço sonhar ou mesmo chorar, estou expondo a minha alma, que se confunde com a do meu criador, e que reverbera na tua, leitor.

Cuidado, porém! Por ter herdado tanto do meu autor, lá pelas tantas, posso escorregar pelo lado sombrio da mentira. Nesse caso, estarei isento de culpa, pois, afinal, sou um imitador da vida...

Aliás, segundo afirmação do filósofo e escritor alemão Johann Gottfried Von Herder, nascido no século XVIII (1744-1803):

“Muitas vezes, um livro forma ou arruína um homem, por toda a vida”.

Agora, para mais ainda confirmar a minha importância, o nosso grande poeta Castro Alves, cujo legado encontra-se reunido no Livro Espumas Flutuantes, composto por 54 poemas, credita a mim, livro, uma importância relevante. Para tanto, o poeta faz uma exortação a todos aqueles que semeiam livros, quando saltam de sua pena os versos que compõem a 8ª estrofe do poema O LIVRO E A AMÉRICA, composto por 10 estrofes:




Como última reflexão, acredito que, imitando a vida, também tenho o poder de transformá-la, pois ela é mutável e feita de pessoas. E eu, livro, posso mudar uma pessoa. E pode ser para melhor... Por que não? 






A Leitura na Vida! 









sexta-feira, 5 de agosto de 2016

NÃO DELETE! REPAGINE!






O esquecimento carrega consigo o vazio, o nada. E o nada é simplesmente o nada. Não acrescenta, não diminui. Não nos possibilita lembrar as imagens de momentos vividos que foram deixados no reino do esquecimento, do nada. Lá, nem as sombras existem para que a imaginação possa recriar, repintando com novas cores aqueles instantes já passados.

Sem a lembrança não nos é permitido acompanhar a linha tênue entre o ontem e o hoje nem, tampouco, traçar caminhos mais iluminados para um futuro que se quer o mais distante possível.

Somos uma soma em que a subtração, às vezes, é necessária. A divisão é sempre interessante, mas a multiplicação é por demais almejada. E esta deve repousar sobre o rescaldo das coisas positivas que ficaram. Para isso, precisa-se da lembrança daquilo que foi negativo e prejudicial na caminhada.

Somos como os atletas que disputam uma maratona, onde o que interessa é alcançar a linha de chegada.

A nós, atletas do dia a dia, não importa se chegamos em primeiro lugar ou em último. Não disputamos com o outro. A disputa é consigo próprio. Para isso, a lembrança de cada obstáculo, vencido ou não atingido, é de extrema importância.

Para os atletas de verdade, os de competição, isto é fundamental. Para os demais atletas, metaforicamente falando, a importância da lembrança é, também, com certeza, a possibilidade de somar experiências para alcançar novos momentos mais exitosos.

Tudo ao natural, sem doping. Dele não se precisa.

Do quê se precisa? Do quê?

Da construção da sua autoimagem: ela depende de você.

Busque o silêncio, reconstrua as lembranças com novas cores, ilumine os novos roteiros, mantendo acesa a chama que surgiu com o primeiro abrir de olhos. Ela, que nunca se apaga, ilumina todos os momentos vividos: tenham sido bons ou maus.

Ela serve de farol para onde todas as lembranças afluem, pois o escuro não existe. Ela garante isto. Nós é que teimamos em torná-la menos nítida, quando os momentos difíceis batem à porta, forçando ao esquecimento tais instantes.

Nesta maratona da vida, somos os atletas. E a chama que carregamos é eterna, pois ultrapassa os umbrais do desconhecido.


Muito mais do aquela Chama Olímpica ou do que aquela outra dos nossos pagos, a Crioula, a nossa própria surgiu quando o primeiro sopro de vida foi ouvido no silêncio do Universo.

Portanto, não delete o seu passado. Reconstrua-o em novos moldes, mesmo que isto agora seja possível, apenas, pela imaginação. Novos cenários, usando-se os materiais já existentes e disponíveis, com novos formatos e cores, vão possibilitar um olhar compassivo para o passado e renovado na criação de um futuro.

Os atletas por profissão aprendem com os erros cometidos: corrigindo-os.

Nós, atletas da vida, detentores da chama eterna, podemos dar uma roupagem nova a antigos figurinos e reconstruir velhos cenários com cores mais suaves e promissoras.

De resto, tudo é uma eterna repetição. Podemos, porém, percorrer a caminhada de agora de forma mais leve, mais aprazível, com mais sabedoria.


Pois é! Cadê? Cadê?

Cadê o sorriso? Cadê o bom humor?

Faça um selfie de si com seu passado e curta os Jogos Olímpicos.

Afinal, os próximos no Brasil? Não se sabe a data.


Viva o dia 5 de agosto!

Ah! Lembrei que uns olhinhos azuis abriram-se, num dia 5 de agosto, há algum tempo atrás. Estes olhinhos revisam o passado com compaixão e gratidão, repaginando, com as cores de uma aquarela, os instantes perdidos, os momentos sofridos. Que a esperança e a alegria de viver prevaleçam e mantenham a chama sempre viva a iluminar os belos instantes que virão, a exemplo dos que já aconteceram.

Em homenagem aos olhos azuis, seguem dois poemas que falam deles. 








E ouça, para reforçar a chama existente em cada um de nós, o oitavo poema de “O Guardador de Rebanhos”, chamado de o Poema do Menino Jesus de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, recitado por Maria Bethânia, poema este adaptado e com alguns cortes numa apresentação ao vivo da cantora. Ao final da leitura do poema, a intérprete canta a versão de Ah! Sweet Mistery of Life, composição de Victor Herbert e Rida Johnson Young. A versão em português recebeu o nome de O Doce Mistério da Vida.


O Doce Mistério da Vida – Maria Bethânia