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quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

DO TACAPE AO DRONE

Das savanas pouco restou. Da espécie, que lentamente foi-se erguendo, surgiram seres das mais diversas características. Tudo de acordo com as condições climáticas do lugar em que a espécie foi se desenvolvendo. O instinto animal preponderante foi a marca de sobrevivência e perpetuação. Quem diria que depois de milênios as armas de destruição seriam o brinquedo favorito de mentes distorcidas que desqualificam o adjetivo civilizatório. E o que é pior! Mentes privilegiadas insuflando, fomentando e se locupletando de ações cruentas e bestiais: tudo em prol do poder.

Nos primórdios, o enfrentamento se resumia à força física. No braço, com o auxílio de um pedaço de osso qualquer, de uma pedra ou de um tacape, íamos ganhando território, as presas e as fêmeas à disposição.

Estamos bem mais sofisticados hoje. Depois de passarmos pela infantaria, cavalaria, pela artilharia com bombas, foguetes e mísseis, de maior ou menor potencial destrutivo, chegamos aos drones. Aniquilamos alvos escolhidos a quilômetros de distância, sem risco para os pilotos encarregados do massacre. É a tecnologia servindo aos propósitos mais vis, estando já em uso pelas forças de repressão, indistintamente.

Como prenunciava Mário Quintana no seu FUTURÂMICA:

E haverá uma época em que se fabricarão bombas atômicas especializadas, especializadíssimas, meu caro senhor, e tão sutis que no princípio não se notará coisa nenhuma... até que um dia alguém descobrirá que se acabaram, por exemplo, todos os tenores de banheiro, todas as imitadoras de Berta Singerman, todos os poetas comemorativos, todas as oleografias do Marechal Deodoro proclamando a República!

(Caderno H- p.161)


O mundo globalizado do século XXI tornou-o plano, como afirma Thomas L. Friedman. Graças aos avanços da tecnologia e da comunicação vivemos todos absolutamente conectados, o que apenas reforça a nossa participação, senão como espectador, mas, também, como partícipe de todos os eventos, positivos ou negativos, que varrem o planeta, cotidianamente.

Isto é bom, porém alarmante e desafiador.

Alarmante, porque estamos à mercê de quaisquer ações tresloucadas que ocorram.

Desafiador, porque devemos manter uma visão otimista do amanhã. E está cada vez mais difícil mantê-la.

Estamos cercados. De um lado, os de direita; do outro, os de esquerda.

O poeta Luiz Coronel dá a sua versão poética da ESQUERDA & DIREITA:




Será o centro um “poder sem utopia, ao sabor dos ventos?”

E os totalmente radicais? E os suicidas em nome de uma causa?

Em quais lados estarão?

Quem sabe ao seu lado, ao nosso lado...


O mundo está precisando de homens e mulheres de boa vontade, independentemente de que lado estejam ou de qual religião professem.

Somos diferentes uns dos outros. Temos idiossincrasias muito particulares, observáveis mesmo entre membros de uma mesma família. Nossas origens são diversas e nossos valores, igualmente.

E a beleza está na diversidade e na capacidade de convivência pacífica. Para tanto, deve haver respeito ao outro. Ensinamentos que partem da própria célula familiar e de uma escola aberta ao diálogo e a valores formadores do caráter de cada indivíduo.

Sendo todos nós originários da mesma espécie, com um DNA caracterizadamente humano, deveremos ter nossos direitos e deveres resguardados pela sociedade em que estamos inseridos, independentemente da origem geográfica de cada um. O que se observa, no entanto, é que a exclusão de certos grupos pode levá-los a servirem de massa de manobra, desvirtuando capacidades que seriam mais bem aproveitadas na sociedade em que buscaram abrigo. Iguais oportunidades de estudo e trabalho seria, por certo, uma solução. 

E o que estará acontecendo aos que estão em suas comunidades de origem? Para que servirão os drones por lá? Para intimidar? Para aniquilar? Para desestabilizar? Para abrir caminhos à sanha predatória? Para espoliar riquezas? E tudo com o aval dos poderosos da região.

É! Estamos longe de uma solução pacífica e proveitosa para todos os lados.

Mesmo assim, o otimismo não deve ceder ao desalento.


Agora, segundo o poeta Mário Quintana, TRÊS COISAS nos acompanham de há muito:

Todas as antigas civilizações – por mais isoladas umas das outras, no tempo e no espaço – sempre começaram descobrindo três coisas: a poesia, a bebida e a religião.

(Caderno H – p.156)


Quanto à bebida, devemos bebê-la com moderação!

Quanto à religião, a leitura da crônica dispensa comentários.

Quanto à poesia, o próprio Quintana dá a resposta quando escreve POESIA & MAGIA, ressaltando o aspecto mágico, que faz parte do nosso ser e que encontra guarida na sua leitura:


A beleza de um verso não está no que diz, mas no poder encantatório das palavras que diz: um verso é uma fórmula mágica.

(Caderno H – p.59)


Se todas as antigas civilizações descobriram no poder encantatório da palavra um alimento mágico, expresso em versos, e se, também, a aquisição de um sistema de crenças foi o caminho para a redenção, ambas, palavra e fé andaram sempre juntas. A ÁRVORE DOS POEMAS, de Mário Quintana, é uma exortação a que a palavra poética cumpra o seu dever de alimentar o espírito, sempre que necessário. Torçamos para que a tal árvore não suspenda a produção.





Agora, só para atualizarem-se, assistam ao vídeo que segue e onde drones (robôs) tocam instrumentos musicais.

Quanto à música drone, dita de estilo minimalista, vou poupá-los.

Ninguém merece!

E o tacape?

- Credo! Que coisa mais retrô!




Flying Robot Rockstars 





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Comentários via Facebook:

Amelia Mari Passos: "O mundo está precisando de homens e mulheres de boa vontade, independentemente de que lado estejam ou de qual religião professem.Soninha Athayde " Sensata razão e seu sensivel coração , espalham esperança.Meu abraço querida 


quarta-feira, 18 de junho de 2014

É LONGO O CAMINHO

Que primeira estrofe mais depreciativa!



Lá vem mais uma Copa.

Coração já se convoca.

A Pátria de chuteiras.

Tudo mais se joga pela ribanceira.

O trem da alegria vai levar

Toda turma do funil.

Contrabando na bagagem do cartola.

Ora bolas, é Brasil.



É o reconhecimento, plasmado na letra do hino oficial da Copa do Mundo de 2014, de práticas, ao que parece, aceitas pelos cidadãos que aqui vivem.

Expor mazelas e ainda conformar-se com isso: é demais.

Já o jingle Mostra Tua Força Brasil, encomendado pelo Itaú, banco oficial da Seleção Brasileira e da Copa do Mundo FIFA Brasil 2014, mostra, pelo menos, um país que reafirma as suas cinco estrelas estampadas na camisa da Seleção, exaltando o amor e a garra que a “massa” tem pelo Brasil. Destacamos dois trechos, com erro de concordância, que seguem:



Pois só a gente tem as cinco estrelas na alma verde-amarela.

E só a gente sabe emocionar cantando o hino à capela.

Mostra tua força, Brasil!

E faz da nação tua bandeira

Que a paixão da massa inteira

Vai junto com você Brasil.



Isso é pouco, mas não tão depreciativo.

Agora, Eunice, professora já aposentada, não imaginava que assistiria, durante a cerimônia de abertura oficial da Copa do Mundo de 2014, imagens que lhe trariam saudades. Lembrou-se ela que, certa vez, dirigiu, no pátio da escola, uma representação de seus alunos durante uma encenação em que criaram fantasias, confeccionadas em papel, imitando árvores, pois compunham um cenário que ilustrava a poesia de Olavo Bilac chamada Velhas Árvores. A apresentação foi muito criativa, merecendo a nota 10. Claro que, naquela circunstância e com os adereços que dispunham, aquele desempenho surpreendeu e agradou a todos os presentes.

Já na festa de abertura da Copa do Mundo de 2014, “aquelas árvores” deixaram a desejar. As árvores vivas de Eunice teriam feito bonito naquela apresentação.

A cerimônia, dividida em três partes, apresentou na primeira a riqueza natural do país, a representação da sua natureza. Num segundo momento, exaltou-se o povo através da música e da dança. Por último, homens-bola surgiram, representando o futebol brasileiro, paixão nacional. Uma paixão tão avassaladora que transformou em arte o futebol. Pelo menos, é o que, até há pouco tempo, era visto como um diferencial no futebol brasileiro. As coisas parecem estar mudando! Vamos manter, por ora, essa expectativa que pode fazer a diferença no final do certame.

A trilha sonora de toda a cerimônia esteve a cargo de Otávio de Moraes, parecendo adequada ao espetáculo e servindo para dar maior brilho aos diversos momentos que se iam sucedendo. Ele é um conhecido criador de trilhas sonoras para importantes clientes na propaganda como o Banco Itaú, patrocinador oficial da Copa do Mundo 2014.

Agora, a apresentação musical de encerramento do espetáculo foi algo triste de se ver, ouvir e assistir. Talvez, ao gosto de belgas ou congêneres. Não teve, porém, nada a ver com a tradição musical mais representativa do povo brasileiro que é o samba. Com tantos discípulos de Joãozinho Trinta, com tanta gente capacitada a projetar e montar um espetáculo genuinamente brasileiro, coube a um casal de estrangeiros essa tarefa. Só podia dar no que deu.

A coreógrafa belga Daphné Cornez e o diretor italiano Franco Dragone foram os idealizadores e criadores do espetáculo que durou apenas 25 minutos e foi considerado, por muitos nacionais e outros tantos do exterior, como um espetáculo “morno”.

Deixando de lado a apresentação e desenvolvimento do espetáculo como um todo, que ficou a desejar, acredito que o maior azarão foi a música de encerramento com a participação de três reconhecidos cantores que, sozinhos, com seus estilos e público, fazem sem dúvida grande sucesso. São ótimos artistas. Juntá-los, cantando em playback We Are One, foi desolador. E a porto-riquenha dançando “na boquinha da garrafa” foi de doer. Aqui tem gente que faz isso muito melhor, com muito mais sensualidade. 

O momento não era para isso.

Perderam uma ótima oportunidade de mostrar ao mundo o nosso samba “de partido alto”, levantando de vez a galera que assistia ao espetáculo. Mas foi a FIFA que organizou todo o espetáculo! E sabe-se lá se aquelas estruturas, as do topo da arquibancada tubular externa, aguentariam tal empolgação? Circula pela Internet a informação de que as pessoas, que estavam mais abaixo, pediam para as de cima não pularem, pois tremia tudo.

Mas, também a Internet... Tudo cabe ali.

Cabe até a manifestação de pessoas que disseram que a imagem dos jogadores brasileiros, ao ingressarem no campo, parecia de detentos voltando pra jaula, com as mãozinhas no ombro e de cabeça baixa. Outros mais, muitos mais, afirmaram que mão no ombro significaria apoio, como o de um amigo verdadeiro. Dar a mão, afinal de contas, é um ato que se faz com qualquer um. Dar o ombro? É outra coisa!

Pois é! Ela, a Internet, registra tudo, possibilitando toda e qualquer manifestação. Tudo e todos são perquiridos. Tudo meio método socrático com um interlocutor virtual. O que é bom para o desenvolvimento das ideias, quando bem dirigido. Mas isso já é outro papo. O caminho é longo para que as boas ideias materializem-se em ações individuais, transformando a “massa”, referida no hino, em cidadãos verdadeiros.

Graças à tecnologia, pudemos assistir a uma coreografia pobre, a um encerramento desvinculado da nossa exuberância musical, que sabemos de qualidade.

Pena que o pontapé inicial de abertura da Copa nos foi subtraído, tanto pela ausência da fala das autoridades que deveriam fazê-lo, como é de praxe, quanto pela exposição do jovem tetraplégico, alçado a jogador, graças à ciência e tecnologia trabalhadas por cabeças brasileiras.

É! A manipulação é perversa. 



Os FILHOS DE VERA CRUZ, música composta por Altayr Veloso e Paulo César Feital, especialmente para a Copa, e cantada por Zeca Pagodinho, bem que poderia ter sido a música escolhida para o encerramento do espetáculo. E veja o quanto de simbólico encerram os versos que seguem, transcritos da referida música:



“Ó, minha pátria amada, cuida bem dos seus guris.”

“Mete nas canetas, faz de letra meu país.”



Observa-se tanto a expressão do drible “de caneta”, quanto o pedido de que se coloquem os guris de posse das canetas, com que se escreve, fazendo de letra um país. Não somente com os pés trocados como um gol de letra, mas um gol de letra no analfabetismo funcional, que ainda grassa.

O caminho é longo, mas vale a pena investir, pois são as ideias que movimentam o mundo. Educar é o caminho.






Zeca Pagodinho fala sobre Filhos de Vera Cruz – música para a Copa do Mundo 



Clip de Zeca Pagodinho para a Copa do Mundo/Brasil





Velhas Árvores - Olavo Bilac





sábado, 5 de abril de 2014

PARA OS ANAIS DOS ESPETÁCULOS DE PORTO ALEGRE




Para quem foi acostumada a conviver entre duas cores reverenciadas, uma pelo pai e outra pelo único tio que tive, assistir, muito atenta, à reinauguração do Estádio Beira-Rio foi bastante gratificante. Meu pai teria gostado de estar presente. Sua filha acredita que o representou, de forma emocionada, na festa/espetáculo desse dia 5 de abril de 2014. E ela assistiu à festa, comodamente instalada em sua sala. Mesmo assim, pôde constatar a grandeza do evento.

O conjunto da produção do espetáculo mereceu todos os aplausos, que ressoaram para além do estádio. Foram duas horas e meia de uma apresentação de pura paixão e emoção. A produção musical, a cargo do maestro Dudu Trentin, demonstrou perfeita sincronia entre os músicos da orquestra Unisinos/Anchieta, o coral de 200 vozes e as bandas que se iam sucedendo durante o espetáculo. Ele compôs todas as trilhas, cabendo ao maestro Evandro Matté a regência da imensa orquestra e coral. Participaram da festa 1500 pessoas em cena, entre atores, orquestra, bandas e bailarinos. Foram usados 3000 figurinos. A plasticidade das cenas aliada à tecnologia, que lhe serviu de suporte, apresentou ao público a parte histórica do clube ao longo do tempo. O barco singrando as águas do rio foi emblemático acerca das dificuldades enfrentadas com a localização do estádio. Nada, porém, que não pudesse ser solucionado com o passar do tempo e com os esforços de todos os que se empenharam na construção de um sonho, destacando-se a campanha de doação de tijolos que movimentou 35 famílias voluntárias.
A narração, como background, com textos de conhecidos cronistas gaúchos e os telões repassando os diversos momentos históricos do clube, foram carregados de luz, tal qual o golo de Elias Figueroa, chamado por ele próprio de o golo iluminado. Graças a esse único golo, feito aos 12 minutos do 2º tempo, o Internacional conseguiu o seu primeiro título brasileiro em 1975, jogando contra o Cruzeiro de Minas Gerais.
E as décadas iam-se somando sob os acordes da 9ª Sinfonia de Beethoven e a encenação de obras reconhecidas de Leonardo Da Vinci, Picasso, Salvador Dali. Tudo sincronizado, tal qual o voo de Dadá Maravilha, no ano de 1976, quando o Internacional venceu o Corinthians por 2 a 0 no Beira-Rio, sagrando-se bicampeão brasileiro.
O ano de 1989 ficou nos anais do clube, pois aconteceu o chamado Grenal do Século, o de nº 297, vencido pelo Internacional por 2 a 1, disputado no Beira-Rio e que teve o maior público de Grenais em Campeonatos Brasileiros. Foram 78.083 pagantes. A década de 80 foi de conquistas, com 14 títulos no total.
Momentos difíceis e momentos de glória foram relembrados.
Com muito trabalho e confiança no plantel, os feitos recomeçaram a partir do século XXI. E Adriano Gabiru seria o grande nome, com a ajuda dos demais companheiros, na conquista do Mundial de Clubes da FIFA, em 17 de dezembro de 2006, no Japão. No mesmo ano, pela primeira vez, o clube já conquistara, em 16 de agosto, a Taça Libertadores da América. O que se repetiria em 2010, tornando-o bicampeão do mesmo certame.
Quanta história desde 1909! São 105 anos de vida e 45 anos da reinauguração do estádio Beira-Rio, aberto oficialmente em 6 de abril de 1969, cuja construção iniciou-se em 1959.
Esses fatos todos fazem parte da história da cidade de Porto Alegre.
Fico feliz em ter assistido a um espetáculo tão bonito, o que demonstra a capacidade de trabalho, o empenho de tantos interessados, o aporte considerável de recursos na concretização das obras e do espetáculo.
O mesmo ocorreu com a outra agremiação, tão cara aos gaúchos, quando da sua inauguração em 2012.
Assistimos, na oportunidade, a um espetáculo e a uma plateia merecedora do aplauso da sociedade porto-alegrense como um todo.
Para os amantes do futebol, como esporte de massa, é um orgulho termos um gigante e uma arena representando o Estado para fora dos seus limites. Para um mundo globalizado, serão ambos os estádios uma vitrine da cidade que se diz alegre.
Portanto, está de parabéns o diretor artístico Edison Erdmann, responsável pela organização de todo o espetáculo da reinauguração do Estádio Beira-Rio.
O vermelho pelo espelho, finalmente, passou.
O azul do mar, há algum tempo, já chegou.
Uma última palavra àqueles que esperam o mesmo espetáculo, assistido no último dia 5 de abril, para:
- a reinauguração, com nível de excelência, de um grande hospital;
- a construção de centenas de UPAs, dentro das normas técnicas, com um quadro médico e técnico pronto a prestar os primeiros socorros, incluindo-se medicamentos básicos e material compatível com as necessidades do eventual paciente;
- a implantação, nos colégios, de infraestrutura condizente com as necessidades do ensino-aprendizagem;
- a despoluição de nossos arroios e riachos;
- um substancial melhoramento no transporte coletivo;
- o saneamento básico, ainda deficitário, em algumas comunidades;
- uma segurança mais presente no dia a dia e não apenas em grandes eventos;
- uma gestão honesta e eficiente de pessoal e recursos nos serviços prestados à comunidade pelo poder público.
Tudo, claro, com o padrão FIFA, porque os botocudos já sabem, agora, o que é o tal padrão. Sem desmerecer o povo indígena, já extinto, que habitava regiões do país. Referimo-nos a nós próprios, esse pessoal rude e grosseiro que não conhece o que são as benesses de uma vida de qualidade. Todos nós aguardamos, de ora em diante, um padrão FIFA de serviços. É o grande desejo de toda a sociedade brasileira.
E o impostômetro? Pelo controle digital, desde o primeiro dia de 2014 até esse exato momento, dia 7 de abril, às 19 horas e 30 minutos, a arrecadação está na cifra de R$ 469 bilhões, 246 milhões e..., já superando a marca atingida na mesma época do ano passado. Impossível acompanhar tal voracidade e rapidez... No ano de 2013, ao que parece, a marca atingida foi de um trilhão e 700 bilhões de reais.
Para os colorados fica a certeza de que com a ajuda inicial daqueles tijolos construiu-se um sonho e dele fez-se não um castelo de areia na beira de um rio, mas um gigante da própria história.
Fiquem, agora, com a beleza de O AMANHÃ COLORIDO e NUVEM PASSAGEIRA, duas joias, compostas por gaúchos reconhecidos, que abrilhantaram a festa de reinauguração.





 


O Amanhã Colorido - Pouca Vogal
Nuvem Passageira - Hermes Aquino



sábado, 23 de novembro de 2013

GRADES INVISÍVEIS

Você é prisioneiro e nem suspeita. E o mais aterrador é exatamente isso: não se dar por conta.
Você está diuturnamente ligado. Até quando dorme, o seu entorno mantém-se conectado. Há quem diga que seus dedos, em pleno sono, são, por vezes, vistos a deslizar sobre o lençol na busca incessante da conexão. Há quem já esteja próximo do ser “autômato”, aquele descrito por George Orwell.
E o pior é que essa contínua conexão, que começa precocemente, prima pela pura diversão, pelo simples entretenimento.
Como esse ser irá adquirir cultura, aquele ingrediente que o tornará diferenciado e não apenas uma mera reprodução do coletivo de que faz parte em número, porém, não necessariamente em pensamento, em virtudes, em sensibilidade, em imaginação?
Como se pode adquirir cultura sem ler uma obra literária?
Como aguçar a sensibilidade para a música sem apreciá-la? Será que é suficiente, para tanto, ouvi-la como fundo de uma conversa pelo facebook, que, por sua vez, usa uma linguagem quase criptográfica?
Reflexão é coisa que se adquire após um tempo suficiente de amadurecimento obtido através de leituras e não em bate-papos pelo face.
Qual o futuro de um jovem que permanece sete horas em frente a uma tela, apenas divertindo-se, jogando, digitando letras desconexas que expressam sentimentos de alegria, prazer, raiva, descontentamento?
Há que ter presente a indiscutível importância da tecnologia da informação como ferramenta auxiliar do conhecimento. Nunca, porém, como base para uma sólida formação. Isso, claro, se estivermos interessados em capacitar os jovens a assumirem o papel que lhes cabe, qual seja o de transformar, para melhor, as sociedades as quais pertencem.
Agora, se esse não for o propósito, acredito que essa tecnologia poderá estar a serviço da criação de hordas de seres que absolutamente não pensariam, pois o pensar, ato que distingue o ser humano dos demais, estaria totalmente refém do inconsciente. Essa é a chamada sociedade Ingsoc, vislumbrada por Orwell em seu livro 1984, onde sistemas sofisticados, aparentemente não totalitários, poderão conduzir-nos a perdas de conquistas humanas que levaram séculos para se constituírem. Aliás, um livro escrito em 1948 e profundamente atual.
Qual de nós não pensa na linguagem da Internet ao se deparar com o vocabulário da Novilíngua?
Quem não se enxerga no duplipensar, quando vê mudanças repentinas de posições ideologicamente contrárias e que a nós passam a tornarem-se legítimas, tão legítimas que podemos adotá-las, conforme as conveniências do momento, de uma forma ou de outra?
Quem não se assusta ao ver os “Proles” de 1984 serem, hoje, uma expressiva fatia da humanidade, cujas opiniões ou a ausência delas é absolutamente indiferente para o “establishment”?
Há sempre o risco de esses usuários tornarem-se tão despreparados, tão vulneráveis à realidade que exige conhecimento, competência, espírito crítico nas escolhas, que ao abrir-se a porta dessa grade que os aprisiona, não consigam por ela escapar. Permanecendo, portanto, presos ao comodismo, a uma parca sobrevivência, pois não terão possibilidades de um pleno desenvolvimento da sua individualidade. Essa perder-se-á nos estereótipos do grupo, da turma, do coletivo massificado.
Agora, para descontrair, leia O PASSARINHO ENGAIOLADO de Rubem Alves que demonstra bem essa possibilidade de desistência da liberdade até para um animalzinho que só sabe viver voando, livre, capaz de, pelo instinto, safar-se dos perigos.
Por outro lado, Martinho da Vila traz, para compensar, uma passarinha bem mais corajosa que sai em busca de companheiro e que não deixaria, com certeza, as pimentinhas do conto de Rubem Alves intactas. Acompanhe a letra do samba GAIOLAS ABERTAS na voz de um de seus autores. O outro é João Donato. Bom divertimento!
Ah! Não se esqueça de conviver mais, conversar mais, ouvir mais, enxergar mais. Tudo ao vivo e em cores.
E, por favor, desligue o tablet na hora do almoço!









Martinho da Vila – Gaiolas Abertas





sábado, 26 de outubro de 2013

NADA SERÁ COMO ANTES




Quem diria! Os cabelos e a roupa completamente sujos de ovos e farinha. Isso é uma comemoração de aniversário em uma escola da Capital. Um ritual de passagem, quase tribal. Coitado do aniversariante!
Vestia-se aquilo que se tinha de melhor na data do aniversário. Esse detalhe não tem a menor importância hoje. Isso foi assim em outro século.
Ser um vencedor, não apenas sentir-se um, também é coisa do passado.
Hoje, basta sentar-se em frente a uma tela. Com os olhos brilhando de ansiedade, jogar-se na cadeira e comandar com as mãos, freneticamente, o avançar de posições, o ultrapassar o concorrente, evitando a derrapagem, para, finalmente, atingir, em primeiro lugar, o marco de chegada. Quem sabe, em segundo. Ou, talvez, em terceiro, mesmo. É a falácia de que eu venci, portanto sou um vencedor.
O máximo que isso, talvez, propicie seja uma maior habilidade para dirigir, o que, em última análise, contribui para a desova dos milhares de automóveis que superlotam o pátio das montadoras. E apenas isso.
Quantos adolescentes, hoje, têm o hábito da leitura? E será que compreendem o que leem?
Quantos são capazes de elaborar um texto com introdução, desenvolvimento, argumentação e conclusão, atendo-se ao tema proposto?
E os bons programas de televisão, e eles existem, serão assistidos por eles?
E os filmes? Serão apenas os violentos aqueles que os motivam?
Cinema/Arte? Isso também é coisa do século passado.
E seus ouvidos conseguirão ainda captar algum som abaixo de 100 decibéis? Se conseguirem, avisa-se que, as coisas seguindo esse rumo, daqui a alguns anos não mais terão essa capacidade.
É claro que nada será como antes.
Mas precisava ser tão ruim?
 
Será que o abraço virtual, mandado via facebook, substitui aquele outro verdadeiro, real, que aconchega o aniversariante, parabenizando-o? Será que o abraço tornou-se virtual? Será que tudo é virtual hoje?
 
Claro que a tecnologia veio para auxiliar, para disponibilizar um mundo de possibilidades nunca dantes imaginado.
Aninha, por exemplo, esteve assistindo ao Campeonato Master de Atletismo e lá encontrou uma senhora mexicana, de 67 anos, muito simpática, de nome Maria de Jesus Lopez. Iniciaram, a propósito da cuia de chimarrão que Ana portava, uma conversa bastante agradável que, com certeza, terá desdobramentos, pois trocaram os e.mails pessoais. Isso é maravilhoso! Despediram-se, ao final do encontro, num contato bem conhecido por ambas: o contato humano do abraço. Ambas são de outra geração, é claro.
Mas estamos em 2013. E o abraço virtual, ao que parece, tem substituído o único e verdadeiro: aquele que aproxima corações, literalmente falando.
Como se explica um pai ou uma mãe mandarem, via facebook, morando na mesma cidade, um abraço virtual a um filho aniversariante?
São os tempos atuais a transformar o nosso dia a dia em algo extremamente solitário, embora haja multidões conectadas entre si.
O ser humano, porém, é bem mais do que isso: uma massa de manobra, virtual, disponível.
Ao que se saiba não há ainda uma geração virtual em que bata um coração. Tampouco artérias e veias em que circule o sangue, herança de nossos antepassados, herança Dele.
A letra da música COMO UMA ONDA expressa a realidade com correção. Nada é exatamente igual no instante seguinte ao de sua origem. No que concerne ao ser humano, embora modificado pelo tempo, mantém ele as características da espécie humana que são ainda a dependência no início e fim da existência, as necessidades de amor, carinho, proteção, bons exemplos que vão desaguar num indivíduo ético, idôneo e responsável. O coletivo dos dias atuais deveria superar as hordas dos primórdios.
Em que direção estamos indo?
Aninha ainda tem esperança. Aquela tão bem expressa na poesia de Mario Quintana, que segue.
 

 
 
Ou naquela outra esperança, descrita em poesia por Carlos Drummond de Andrade, chamada CORTAR O TEMPO, abaixo transcrita.
 


Aninha, com certeza, ainda prefere o abraço forte, coração com coração, para desejar um Feliz Aniversário aos seus e aos outros, também. Por que não?
 
 
 
 
Como Uma Onda no Mar - Lulu Santos
 
 
Cortar o Tempo – Carlos Drummond de Andrade – na voz de Gabriel Chalita