Mostrando postagens com marcador beleza. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador beleza. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 4 de julho de 2014

SERÁ?


Nos primórdios da China Antiga, lá por volta de 3000 a.C., estudiosos afirmam que militares chineses praticavam uma espécie de jogo. Macabro, diga-se de passagem. O divertimento era chutar a cabeça dos soldados inimigos abatidos durante o confronto.

Daí, a coisa evoluiu e passaram a confeccionar bolas de couro. Claro, para não perder a graça de todo, continuavam a usar cabelo para revestir as tais bolas. Provavelmente, o cabelo seria aquele retirado da cabeça dos vencidos.

No Antigo Japão, esse jogo com a bola começou a tornar-se mais parecido com o futebol atual. Estabeleceram-se regras e a bola já era feita de fibras de bambu.

Quando os romanos chegaram à Grécia, lá já existia o jogo chamado Episkiros. Os jogadores continuavam sendo militares e a bola era uma bexiga de boi cheia de areia ou terra. A violência, porém, continuava a existir. Agora, já entre os próprios jogadores. Há relatos de que, na Idade Média, os jogadores, ainda militares, dividiam-se em defensores e atacantes, num jogo chamado Soule ou Harpastum. Nessas partidas, aconteciam mortes de alguns jogadores, dado o grau de agressividade da contenda ocasionado por problemas extracampo, questões de cunho social em que mergulhava a sociedade medieval.

Nessa evolução, surgiu, na Itália Medieval, um jogo chamado gioco del calcio. A violência, porém, perdurava igualmente entre os jogadores a tal ponto que se estabeleceram regras mais rígidas com a presença de, pasmem, 12 juízes, para que as mesmas fossem cumpridas.

Lentamente, com o passar dos tempos, os povos foram se civilizando e transformando o jogo de futebol em algo organizado e sistematizado. Assim, o gioco del calcio chegou à Inglaterra por volta do século XVII, vindo da Itália.

A partir dessa época, foi criado todo o regramento até hoje conhecido, passando-se a usar uma bola, já de couro, enchida com ar. Aos poucos, foi-se popularizando o futebol. Em 1888, fundou-se a Football League que visava organizar e difundir torneios e campeonatos internacionais. E a tão conhecida FIFA teve sua criação efetivada em 1904. Cabe a ela a organização dos grandes campeonatos de Seleções (Copa do Mundo) e de clubes ao redor do mundo (Libertadores da América, Liga dos Campeões da Europa, etc.).

No Brasil, o futebol foi introduzido, afirmam alguns, pelo paulista Charles Miller que, ainda criança, viajou à Inglaterra para estudar. Retornando posteriormente ao Brasil, em 1894, trouxe consigo a primeira bola de futebol e as regras para jogá-lo.

Já o pesquisador da História do Futebol, Paulo Goulart, informa que, bem antes, em 1878, o religioso jesuíta José Maria Mantero trouxe da França um compêndio que descrevia 80 jogos praticados em escolas jesuítas no mundo todo. E o primeiro jogo a ser descrito era o “Ballon au Camp” ou Bola no Campo.

Corroborando essa informação, o historiador da PUC-Campinas, José Moraes Neto, diz:

“O futebol associação, o campo regulamentar, o 11 contra 11, isso tudo vem com o Charles Miller mesmo, não tem como negar”. “Mas o jogo em si, a bola, a disseminação em escolas, nas fábricas, isso é anterior a ele”.



E hoje? Será que as regras em campo persistem?

A bola chutada é a cabeça do adversário já abatido? Não, claro que não mais! Não sei, não! Às vezes, assalta-me uma dúvida.

O futebol não estará sofrendo aquilo que as civilizações atingem, mais dia menos dia, um apogeu e um declínio posterior?

Quando o futebol/arte cede ao futebol/técnica, e esse esbarra em equipes igualmente de alta capacidade técnica, o que resolve, para que a bola atinja a rede adversária, é afastar o obstáculo, de qualquer maneira. As formas podem ser diversas, desde a mordida, a pisada intencional, o golpe mais pra judô do que futebol, até a derrubada do oponente com sérias consequências para a sua integridade física. Todo o cuidado é pouco! Não podemos retornar aos tempos da Idade Média onde havia mortes durante as contendas. A violência era tanta, à época, que para os 27 jogadores por equipe, havia 12 juízes para vigiá-los. Quem sabe a gente adota a marca de sete juízes (um em campo e três para cada lado do campo)? 

Será que isso resolverá? Não, não resolverá.

O que se tem a fazer é civilizar-se. Ter em mente que o futebol é um esporte que traz alegria e divertimento para milhões de pessoas. Não estamos mais numa arena romana, onde seres humanos eram entregues aos leões famintos. O espetáculo deve ser bem outro. Toda a tecnologia que nos permite visualizar, em instantes, se a bola adentrou à linha do gol, também nos dá detalhes de ações deliberadamente mortais contra colegas de profissão. Pois, hoje, ser jogador tornou-se uma profissão. Aquela profissão que deve trazer momentos de alegria e de encantamento com o time do coração. Claro que, também, nos ensina a encarar a frustração da derrota que pode ser aprendida, gratuitamente, toda a vez que o nosso time perder.

Agora, se ficar muito difícil, consulte uma psicóloga. Faça análise!

Veja o que é possível fazer para compensar sua frustração com o futebol.

Garanto-lhe que as opções são várias.

Por favor, será que voltaremos à Idade Média?

Será que estamos em plena decadência civilizacional?

Será que o nosso futebol/arte não mais existe?

Será que a plasticidade cedeu lugar à barbárie?

Acho que, sinceramente, não somos mais únicos e imbatíveis nesse chamado futebol/arte. O negócio é continuar se aperfeiçoando e criando dribles nunca dantes conhecidos neste país. Isso é que trará beleza ao futebol. Aquele jogador que desestabiliza o oponente pela surpresa, pelo voleio que termina num “carrinho” que leva a “brazuca” a se aninhar naquele cantinho inesperado da rede. Isso é o que encanta, é o que inova, surpreende e acrescenta qualidade ao esporte. Com certeza, todos com ele envolvidos sairão beneficiados. 

Será que passamos pela gloriosa Alemanha?

Será?





Tatu Bom de Bola - Arlindo Cruz 


Rumo à Copa – Arlindo Cruz cria samba para decorar os grupos da Copa do Mundo




quarta-feira, 28 de maio de 2014

PERENE ALIMENTO


Onde será que ela despeja toda a sua luz durante o dia?

Acho que para ela não existe dia. Só na escuridão é que desfila seu esplendor. Por isso busca, noturnamente, mostrar-se nua, prenhe de tempos em tempos, mirrada em outras vezes. Porém, sempre poderosa. Perfeita no seu comando, norteando mares e marés, norteando amores e dores.

Ao se deixar fecundar, vai-se avolumando, noite após noite, desfrutando de olhares sequiosos de sua beleza, parecendo uma dama da noite que se perde no infinito, por vezes.

Não se perde, porém, da sua função primordial que é encantar, seduzir. Quando reaparece, suas formas vão tomando corpo e aí é que mostra toda a sua força. Ela é profundamente diferente de nós mulheres. Quanto mais volumosa, mais atraente, mais desejada. Dessa forma plena é que seus amantes a querem cada vez mais. Sob sua luz, serve ela de repositório a juras de amor.

Quando vai emagrecendo, porém, perde muito de seu poder. É como se na passarela do infinito, só tivesse vez quando estivesse bem redonda. Quanto mais redonda, mais presença, mais assistência, mais luz.

Enamorada dela, sinto-me profundamente recompensada quando a vejo nua, totalmente redonda, sobre minha cama iluminando meus sonhos. Despejando sua beleza toda sobre mim, aguardo, a cada passagem sua, que meus sonhos aconteçam de verdade. Que eu possa tornar-me tão bela quanto ela e tão generosa no doar-se a quem busca por mim.

Contrapondo Pablo Neruda em seu Livro das Perguntas, em que lança a frase:

- Onde deixou a lua cheia seu noturno saco de farinha?

Eu respondo que a lua cheia despeja seu noturno saco de luz sobre nós todos, abastecendo, com seu perene alimento, nossos sonhos pelos tempos afora.

Um alimento que necessita do silêncio para que melhor a apreciemos.

Aquele silêncio captado por quem se detém a olhar o céu que, mesmo durante o temporal, oferece momentos de profundo vazio de sons. Treinar os ouvidos e ser capaz de captar o silêncio e dentro dele o mais leve balançar das folhas ao vento.

Daí em diante, todo o som será apreciado com ouvidos seletivos e prontos para qualquer mudança nas cadências que o acompanham. E isso é saudável.

Há quem, porém, diante de um verdadeiro tsunami de sons que nos cercam, não resista e procure afastar-se, levando consigo a fé de que “a onda passará”, como diz a letra da música  A Força do Silêncio de Humberto Gessinger e Duca Leindecker.

Há pessoas, com as quais tenho conversado, que têm dispensado, com certa frequência, os jornais televisivos, que são sobremaneira importantes, sob o argumento da necessidade “do silêncio” de quem não quer ouvir de forma diária e constante um tsunami, neste caso, de desgraças, de desastres, de matanças. Têm optado pelo silêncio. Aquele que Quintana enalteceu como sendo O DOCE CONVÍVIO. Escreveu ele:

Teus silêncios são pausas musicais.


E a lua?

A lua agradece. Sobrará mais tempo para ela. Sobrarão mais momentos para desfrutarmos do seu olhar noturno sobre nós, como disse Quintana:

Atenção! O luar está filmando...

Afirmação essa, dirão, que só pode ter nascido de um poeta. Claro, que sim. Quintana, novamente, confirma a importância dela, a lua, sobre os poetas, quando escreve:

Digam o que disserem, mas a lua continua sendo o LSD dos poetas.

Eu diria que, para quem treinou o olhar para buscar o belo, ela faz parte do universo particular desse observador. E ao ler Quintana em outro epigrama, que faz parte do seu Caderno H, encontro a resposta para tal encanto. Sob o título NÓS OS ESTELARES, escreveu:

Esses que vivem religiosamente se embasbacando ante o espetáculo das inatingíveis estrelas – nunca lhes terá ocorrido acaso que também fazem parte da Via Láctea?

Pois é, ela também é inatingível, mas somos, todos, dela vizinhos, vivemos no mesmo espaço e, sempre que podemos, nos visitamos. No meu caso, é uma visita de olhares que, embora distantes, adentram a minha privacidade quando pousam sobre minha cama.  Nessas oportunidades, ela saúda nossa cumplicidade, desviando o olhar, por vezes, enrubescida.

E diante da minha surpresa, um piscar percebo, saudando essa tão antiga amizade.


É! Ela é perene.

Alimenta meu espírito e ilumina os cantos escuros da minha caminhada.

E é no silêncio de um olhar que sempre nos comunicamos.





Era – Divano



A Força do Silêncio - Pouca Vogal



Luar (A Gente Precisa Ver o Luar) - Gilberto Gil 


No Lombo do Luar - Os Monarcas


 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

VAI VALER A PENA? (versão muito pessoal dos fatos)




 
Num voo rasante, Harpia, ser alado, dono dos céus, pousou aqui. O lugar não era bem aquele que desejaria ter chegado. Houve, na verdade, um desvio da rota inicial. Desmotivado como andava, talvez tenha sido essa a desculpa para tanto erro. As ordens tinham sido dadas, mas a empreitada era grande demais para alguém tão dividido. Na realidade, não sabia bem quem era, nem qual seu futuro. Às vezes, via-se com asas. Em outras, com braços roliços, uma cabeleira longa e sedosa. A sensação era de estranheza. Mas, deixa pra lá. Ordens são ordens.

Soube, alguns milhões de anos depois, que pousara sobre uma árvore imensa. Hoje, até não lembra mais o nome. Um baobá ou, talvez, um cajueiro gigantesco: é o que parece.

Refeito do impacto sobre a galharada, percebe um farfalhar que se propaga, um quase rumor que vem debaixo. Escorrega até o chão e ouve, ou melhor, sente a presença de algo bem junto a si. É uma força que bem conhece. São murmúrios que inebriam, que entontecem. Já ouvira isso em outras paragens. Mas, aqui, parece diferente. E vem das profundezas dessa árvore gigantesca.

E qual sua surpresa, quando, sobre sua cabeça, vê outra cabeça enrodilhada no tronco da árvore. É um ser atento, estático, rasteiro. Divertido, porém.

Olhos nos olhos, acabam encontrando pontos em comum. Para tanto, nada melhor que uma boa conversa!

E como o tempo ainda não existia, o papo foi se estendendo. E a maior surpresa de Harpia foi que parte de sua incumbência, aqui, já estava resolvida. Aquela coisa viscosa e rasteira transformava-se, quando queria, em outra coisa completamente diferente de tudo que já vira. A cabeça era tão diferente da sua! Duas contas azuis brotavam da face, adornadas por cabelos infinitamente mais sedosos do que os seus. Tinham, como observou, coisas em comum. E, convenhamos, esse ser era muito lindo! Todo cheio de meneios, de trejeitos, de olhares. Harpia ficou maravilhado com tamanha formosura. Tinha descoberto, finalmente, para que lado pendia seu eu verdadeiro. Aquele ser estava reservado para ele, tinha certeza disso.

Afinal, metade da sua tarefa já estava realizada. Ele, Harpia, ser alado, não pretendia mais retornar aos céus. Encontrara aqui seu habitat. Depositava por aqui todas as suas esperanças.

Assim, Harpia, percebendo a transformação que se operava novamente naquele ser mimoso, suplicou ao ser rasteiro que ouvisse seu pedido. Sentia-se confortável com aquele ser a quem já chamava carinhosamente de Dite.

E, aos poucos, as coisas iam-se esclarecendo para Harpia.

Na realidade, Harpia chegara atrasado para cumprir a tarefa. Pois, por aqui, não era como nos céus por onde andava. Aqui era um pedaço do Universo, já resolvido. Nas profundezas dessa esfera gigantesca, já existia um ser capaz de gerar, de transformar, de recriar, com a sapiência necessária.

Esse amálgama, essa chama interior, que brotava das profundezas daquela árvore, continha o segredo da geração de tão belo ser, a quem Harpia já chamava de “minha deusa”.

Foi quando a mentora de tudo isso, a famosa Naja, começou a desconfiar das intenções de Harpia.

E, não foi por acaso, que, um dia, sabedora do desejo de Harpia de por aqui permanecer, começou a arquitetar um plano para afastá-lo. Mas a criatura bela, que de Naja surgia, vez por outra, acabou adotando parte de seus poderes, desligando-se, definitivamente, da origem.

Enciumada, frustrada e abandonada, Naja transformou Harpia num exemplar mal-acabado. Foi em represália à atitude da bela Dite. Ah! Esse era o nome carinhoso usado pelo já íntimo Harpia, que achava Afrodite, nome por inteiro, muito extenso e pouco melodioso.

Naja criou, então, um ser grotesco, insensível, até meio idiota. Vez por outra, nem cumpria bem seu papel. E a pobre Dite amargou pelos tempos afora essa escolha. Só de raiva, Naja criou também alguns tantos outros espécimes, que eram tão indecisos quanto Harpia fora no passado. Explico melhor: todos querendo possuir os dotes físicos da bela e ardilosa Dite, embora armados de ferramenta própria para o uso original.

Quanto a Harpia, de ser alado passou a ser um ente usado pela bela Dite. Mas, antes, Naja despejou sobre ele toda a sua ira, transformando-o naquele ser enganado, iludido, apenas um mortal: comedor de maçã.

Mas a fruta do pecado serviu para Naja manter-se poderosa, presente, detentora da chama interior, imortal.

Sua descendente Dite tornou-se, então, uma verdadeira mãezona, uma ÍSIS com letras maiúsculas. Epa! Uma perfeita miscigenação, para fins de ficção, entre a Grécia e o Egito. Mas, deixa pra lá!   

Agora, quando as Ísis precisam de ajuda, Naja está lá: firme, forte, presente, imortal.

Uma espécie de MÃE de todos, a famosa PAC. Aquela que é perfeita e pecadora, ardilosa e amorosa, capaz e consciente de seu poder.

Quer mais?

Para quem não sabe, lá vai... Harpia virou um insignificante Adão. Dite, por sua vez, transformou-se em Eva.

Pois esse casal, de coitados, só espera que a mãe de todos mantenha todas as bolsas miseráveis que pendem daquela frondosa árvore, que Naja teima em manipular.

Assim, só começando do zero novamente. Vai valer a pena?

É ruim, ehn?

Não dá mais pra segurar!



Agora, o que vale mesmo a pena é, aproveitando esse início de ano, renovar a nossa certeza de que quando Adão e Eva não se entendem, é melhor começar de novo, como diz a letra de conhecida música de Ivan Lins e Vitor Martins. É partir em busca de si e, quem sabe, ainda encontrar alguém para melhor conviver durante o restante dessa jornada.

ISSO, SEMPRE, VALERÁ A PENA.
 
 
 
 
Começar de Novo – Ivan Lins e Simone
 
 
 
 
 
 

sábado, 28 de setembro de 2013

A MUSA INSPIRADORA





Pois, depois da última Bienal de Arte do Mercosul, visitada por Dona Mercedes, ela não mais visitou outra. À época, deslocara-se de Novo Hamburgo, numa bela tarde de sábado, para conhecer, na Capital, o que estavam apresentando de arte por essas bandas.
Estivera circulando por vários locais naquele dia. Já, ao final da peregrinação, deparou-se com uma obra de arte que a perturbou de tal maneira, deixando-a até com certo mal-estar ao se defrontar com a dita.
Contou, dias depois, a uma sobrinha, professora de Literatura, que saíra quase correndo do salão onde a exposição acontecia. A má impressão fora tão forte que Dona Mercedes chegou a afirmar para a sobrinha que nunca mais voltaria a visitar tais exposições.
Gabriela tentou explicar à tia o que ela própria também sentira, quando estivera dias antes a visitar a mesma exposição.
Dissera à tia que arte não é para entender. Na realidade, é para sentir. E a tia sentira algo desagradável, sob o olhar dela. Outros, talvez, não tenham tido essa mesma sensação. Sabe de uma coisa, tia: Arte é Arte. Tu podes encontrar com a arte andando pela tua cidade. Nela existem, com certeza, vários tipos de arquitetura sob a forma de monumentos, igrejas, etc.
Dona Mercedes, por outro lado, parecia crer que arte é apenas a expressão do belo. Então, Gabriela, tentando desfazer aquela sensação desagradável que a tia sentira, disse que aquela peça de madeira, que ela achara tão feia, poderia ser vista também como um pedaço de nós. Temos nós, igualmente, uma parte bela e outra não tão bonita assim. Olhando sob esse ângulo, talvez possamos nos ver naquela peça ali exposta.
Diante da incompreensão de Dona Mercedes com a feiura daquela obra de arte, Gabriela arriscou criar um poema demonstrando à tia o que estava tentando explicar. E escreveu:
 
 
NO MUSEU
 
Descubro que me observas.
Pelos cantos, vejo um madeirame tosco, torto, em primitivo arranjo.
És um espectro a espreitar-me.
Sinto-me estranhamente tocada por tuas formas.
Acho que mil olhos me fitam.
Devo voltar às raízes do ser, que já me esqueci de ser?
Sou refinada, burilei minhas emoções.
Choro com o belo.
Aqui, por instantes, grito o grito do selvagem.
Cores primitivas renascem em mim a fúria.
Com seus olhos ameaçadores, a obra busca satisfazer-se.
Corro, fujo.
Já fora, piso sem cuidado.
Afinal, são apenas maravalhas que adornam o passeio.
Quero flores, seus delicados matizes.
Quero a criação estética, ainda a torre de marfim!
 
Porém, acredita, não te posso olvidar.
Também, te quero, corroída madeira, pois ornada pelo criador.
Confesso: sou bela, sou feia.
Percebo-me com novo olhar.
Reconheço-te em mim.
Sou como tu:
Nem mais, nem menos.
 
 
Diante dessa leitura e com os esclarecimentos a respeito do que era a torre de marfim, Dona Mercedes percebeu uma das possíveis interpretações dadas àquela madeira tosca e retorcida.
Gabriela sabe que, em geral, as pessoas buscam o belo na arte. O mesmo que os parnasianos buscavam: a Arte pela Arte. A eles não interessava o sentido utilitário, social ou engajado da arte. A interioridade do artista não interessava. Ele apenas observaria e reproduziria as coisas, os objetos, a natureza, tudo como se fosse real, concreto.  E quanto mais real, mais belo. As vicissitudes do dia a dia ao artista não interessavam. Daí a expressão “torre de marfim”, local onde o artista se isolava dos problemas cotidianos, consequentemente, do próprio público leitor. O seu “sentir” tornava-se ausente.
No caso da poesia, buscavam, na Antiguidade Clássica (gregos e romanos), deuses, personagens, bem como termos de difícil compreensão para um leitor menos aparelhado para esse tipo de leitura. Muita retórica, erudição, deuses e impessoalidade atestavam um consequente desprezo pelo drama dos mortais. Abdicando da participação do eu e do social, sobrava apenas a descrição, aí sim, perfeita de cenas da natureza, de objetos, etc.
Portanto, aquela madeira tosca tem a alma do artista, ali posta. Pode não ser bonita, mas é real, é autêntica.
 
E Gabriela, ao que parece, convenceu Dona Mercedes a retornar à Bienal este ano.
Soube, dias atrás, que ela esteve na 9ª Bienal de Arte do Mercosul, que acontece até o dia 10 de novembro.
E que, dessa vez, Dona Mercedes deparou-se com algo impressionante. Nada mais, nada menos, do que uma banheira borbulhante. E o que é mais incrível: cheia de lama.
Agora, o que a deixou estupefata foi o nome da instalação: MUSA DE LAMA.
Como Dona Mercedes já sabe, porque a sobrinha explicou, o Parnaso é um monte localizado na Grécia Central, onde, segundo a mitologia, residiam o deus Apolo e as Musas.
E musa sempre foi algo inspirador.
Quem não gostaria de tornar-se uma?
Dias depois dessa visita à instalação, Dona Mercedes contou à sobrinha que ficou bastante impressionada com essa obra de arte. Isso se deu porque ela vislumbrou, naquela banheira, a necessidade, considerando a idade em que já se encontra, de procurar um esteticista e começar a tomar uns banhos de lama para manter-se jovem por mais tempo. Quem sabe, assim, o Artur, aquele viúvo que mora na esquina, lhe lance algum olhar convidativo. E possam, finalmente, bater um papo. Já pensou?
Pois, ela encontrou, num relance, o caráter utilitário daquela obra de arte. Outras pessoas, com certeza, terão encontrado algum significado mais estético, mais artístico. Os significados podem ser inúmeros, dependendo do olhar do visitante e do seu próprio sentir. Haverá, com certeza, interpretações mais bem elaboradas, dependendo da bagagem cultural de cada um.
Gabriela, nesse encontro, forneceu à tia alguns dados sobre o autor da obra que é o artista norte-americano Robert Rauschenberg (1925-2008).
Essa obra foi composta em parceria com os engenheiros da empresa Teledyne, construtora de aviões e componentes, que descobriram formas de ativar a lama por ondas de som, reunidas a um sistema de ar e válvula. O lodo é estimulado a partir dessas ondas de som.
O artista, em suas obras, “faz a ponte entre o expressionismo abstrato e a arte pop”, é o que disse David White, assistente do artista nos últimos 30 anos.
São famosas suas “combine paintings”, onde mistura pintura aos objetos cotidianos. Igualmente, destacam-se obras da série “Glut” (aglomerados), onde busca, em restos encontrados no lixo, especialmente metal, a beleza presente nesses refugos.
O Leão de Ouro, ganho na Bienal de Veneza, em 1964, tornou suas pinturas referência obrigatória.
Em 1966, funda com o engenheiro eletrotécnico Bill Kluver o E.A.T. (Experiments in Art and Technology), que se destina a promover a colaboração entre artistas e engenheiros. Desta parceria resultou Oracle, que se encontra no Centro Georges Pompidou, e Soundings no Museu Ludwig, em Colônia.
Gabriela tem certeza que, agora, a partir dessa Musa de Lama, a tia Mercedes não mais se surpreenderá com nada, tirando sempre algum proveito desse novo olhar despojado.
Entendeu, rapidamente, através dele, o caráter utilitário da obra de arte. Foi para ela um despertar.
E, quando Gabriela ia mencionar que os viadutos, pontes, túneis, são também consideradas obras de arte pela engenharia civil, levando-se em conta a complexidade desse tipo de obra, Dona Mercedes já se levantara. E da porta, já de saída, perguntou:
- Quando é a próxima Bienal?
É! Essa ficou “freguesa”!
 
 
Então, fica o convite para a visita, gauchada amiga!
E pra terminar, que tal ouvir Da Laia do Lama, com uma letra cujo significado possibilita mais de uma interpretação, ou, quem sabe, uma só.
Ou, sei lá...
 
 
 
 
 

 
Da Laia do Lama – Ana Carolina e Antonio Villeroy
 
 
 



 
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Comentário via Facebook:
 
 
Sensacional!!! Soninha! Amei a culminância com a bela música!
 


Muito bom, Soninha! Abraço
 
 
 
 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013


SELECIONE O CARDÁPIO

Seu encontro com as nuvens é quase diário. Ao entardecer, do janelão de seu prédio, acompanha com o olhar, quase sem piscar, o movimento delas, que se sucedem nos mais diversos desenhos, seguindo para não sei onde, num desfile constante, parando, por vezes, para cumprimentá-la.

Tão absorta fica que quase não percebe alguém que, lentamente, se achega. Imponente, mais majestosa no andar, caminha lentamente sem se importar com o vento que quase sempre existe. Vez por outra, some, não por gosto, por ação da ventania que traz mais nuvens para cobri-la. Mas que, logo, desaparecem. E lá fica ela, toda branca, toda desnuda, toda oferecida aos olhares alheios. Olhar de quem suspende o momento para vê-la por mais tempo. Que colírio aos olhos nos oferece a Natureza. Ela é pródiga em ofertar momentos únicos, momentos de rara beleza a quem se detém a observá-la. Um pôr do sol no horizonte ou até mesmo seus raios passeando por entre as árvores, num fim de tarde, é tudo de bom. Árvores, praças, nossas ruas, quantas delas sob o formato de túneis verdes que nos convidam à contemplação, que nos aproximam do Divino e acabam por nos ajudar a decifrar a própria alma.



Ofereça aos olhos belas imagens. Que eles se inundem pela beleza da imagem e não pela crueza, violência, agressividade e tragédia que grassam por aí. Um olhar limpo devolve ao grupo mais luminosidade, mais segurança e menos desesperança. Há que se cultivar olhares mais limpos. Só assim poderemos transformar o entorno com um olhar mais benevolente e sensível às transformações que se impõem. A sociedade como um todo ganhará. Será uma resistência cidadã aos malfeitos.

Olhares dessa natureza, com certeza, não irão apenas olhar por olhar. Por serem treinados ao belo, captarão da tragédia lições iluminadas de como manter-se equilibrados e esperançosos, apesar de tudo. Mas, também, atentos e atuantes.

Não maculemos nossos olhos com filmes em que é apresentada a violência pela violência. Não assistamos programas nos quais cenas de violência, assaltos, dramas familiares, crimes reconstituídos, são apresentados à exaustão. Tudo veiculado na mídia televisiva como programas cotidianos da emissora. Sabemos que imagens têm uma grande força. Mas, apenas, imagens não colaboram em nada.

Ao invés, porque não levar ao ar programas que apresentem esses episódios sob a análise de especialistas na matéria, o que seria bem mais instrutivo para os telespectadores na formação de uma opinião crítica.

A proposta não é de alienação. Ao contrário, é de seleção.

Para quem é um leitor de jornal, sabe ele, diariamente, de todas as mazelas que acomete a sociedade. A comunidade ganharia muito mais se houvesse debates sobre tais eventos e não apenas recebesse a enxurrada de imagens que a nada leva. Telespectadores passivos, inertes, sentados frente à televisão na hora do almoço, da janta ou do descanso, a assistirem sessões de violência de todo o tipo.

Trabalhemos para elevar o nível de qualidade da programação da nossa televisão. Não vivamos de BBB. Que haja mais programas de debates, a exemplo do conhecido Conversas Cruzadas. Que existam mais programas de entrevistas, a exemplo do Mãos e Mentes, ambos da TVCOM, canal 36. Programas como Frente a Frente, apresentado pela TVE, canal 7, ou como Roda Viva, Provocações, Café Filosófico, todos esses, programas apresentados pela TV Cultura, canal 9. Por que não acessar a TV Assembleia, canal 16, que apresenta, igualmente, bons programas, inclusive shows. Isso sem falar no programa Leituras, apresentado pelo Jornalista Maurício Melo Júnior, em que se analisa e se divulga a Literatura Brasileira, dando-se oportunidade a novos escritores, bem como Conversa de Músico, um encanto para os ouvidos, apresentado pelo Maestro Lincoln Andrade, no canal 17, TV Senado, onde não existem apenas as retransmissões das Sessões Plenárias.

Isso sem falar nos shows musicais. Continua não havendo publicidade do Festival Internacional de Chamamé, já em sua 23ª Edição, em retransmissão direta, da cidade de Corrientes, Argentina, pela nossa TVE. Um Festival que congrega participantes (músicos, dançarinos, cantores, declamadores) de quatro países da América Latina, a saber: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Do Brasil seguem, anualmente, grupos oriundos do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Paraná e, inclusive, São Paulo. Todos os anos, no mês de Janeiro, os países citados apresentam a riqueza de uma cultura que os irmana.

Ainda, lembremos dos Programas Nativistas, apresentados pela TVE e TVCOM, Galpão Nativo e Galpão Crioulo, respectivamente.



Está mais do que na hora de começarmos a repensar a qualidade da nossa televisão.

Iluminemos nosso olhar com tudo o que a Natureza nos oferece ao derredor. Mas não só ela. Nosso irmão, atirado num vão de escada, também deve deter nosso olhar. Que, sendo esse iluminado, possa vislumbrar medidas concretas, ações comunitárias, pedido de providências em prol da solução para problemas tão graves.

Que a Educação seja aprimorada formando cidadãos cônscios de seus direitos, deveres e responsabilidades. Que não sejam pessoas facilmente manipuláveis, que se satisfazem com cenas violentas como diversão (filmes), ou mesmo como informação (programas televisivos). Que sejam verdadeiros cidadãos a exigirem medidas efetivas dos eleitos, que o foram através do seu voto.

Ah, o voto!

Parece não valer para mais nada!

Que o comunicador, a exemplo do moderno professor, torne-se um mediador na abordagem de temas relevantes. Que o público seja capacitado a fazer conexões, tornando-se apto a transformar-se em autor do seu próprio futuro na comunidade.

É disso que se está necessitando com urgência.

Há muito que fazer para quem mantém os olhos iluminados, prontos para o desafio da mudança.



Olhos iluminados, com certeza, acham caminhos.

 









 
 
Chamamé Gaúcho




---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Comentário enviado pelo Departamento de Jornalismo TVE:



Bom dia Sônia. 
 
Como você bem observou, estamos empenhados em criar novos programas e melhorar a qualidade dos que já são divulgados pela Fundação Cultural Piratini - TVE e FM Cultura. Isto acontece, entretanto, dentro de uma estrutura que caminhava para o fechamento, liquidação. 
 
Neste panorama, desde que assumiu o atual Governo do Estado, realizamos a contratação emergencial de 59 profissionais para as diversas áreas e estamos preparando a realização de concurso público para preencher não só estas vagas, mas ampliar o quadro de trabalhadores efetivos. 
 
Com estas primeiras medidas, já conseguimos ampliar a produção local do Jornalismo, com a apresentação do Cidadania três vezes por semana e ao vivo (segundas, quartas e sextas-feiras, às 19h), além de aumentar o Jornal da TVE - 2ª  Edição de 20 para 30 minutos (19h30min) e voltar a exibir o Jornal da TVE - 1ª edição (12h30min). 
 
Nos próximos dias, passaremos por uma reformulação no  Frente a Frente, com novo cenário e apresentador. Nessa semana, estreamos o TVE Notícias, com as principais informações do dia, que terá apresentações pela manhã e à tarde, durante a programação. 
 
Recentemente voltamos com o TVE Repórter na nossa grade. Esse programa é único do gênero no Rio Grande do Sul, e tem como marca a profundidade e a diversidade de temas. O TVE Repórter (programa mais premiado no Estado), que estava fora do ar há alguns anos, é exibido às quartas-feiras, às 22h. 
 
No último período eleitoral (2012), também fomos destaque ao realizar 12 debates entre os candidatos a prefeito de Porto Alegre e dos principais municípios da Região Metropolitana e Vale do Sinos. 
 
Realizamos transmissões ao vivo, além do Festival do Chamamé, da Festa dos Navegantes, dos desfiles do segundo grupo do Carnaval de Porto Alegre e do Festival de Cinema de Gramado. Concluímos também esta semana a transmissão diária que fizemos diretamente de Capão da Canoa do Verão Numa Boa, com matérias e boletins ao vivo diariamente por mais de dois meses. 
 
Com a formação dos novos quadros e a compra de novos equipamentos, esperamos aperfeiçoar significativamente a nossa produção local a partir já do segundo semestre deste ano. 
 
Também são de destacar as retransmissões que fazemos dos programas de Jornalismo da TV Brasil, além dos programas Samba na Gamboa e Observatório da Imprensa, semanalmente, entre outros. 
 
Antônio Oliveira 
Diretor de Jornalismo 
Fundação Cultural Piratini - TVE e FM Cultura 
 
Carlos Machado
Apresentador Programa Cidadania - Depto. de Jornalismo TVE